Texto: Pedro Ferreira de Carvalho
Nova Gazeta e Diário do Distrito
Foto: D.R.
Portugal 0 – 0 França (1 – 0 após prolongamento)
Portugal Campeão Europeu e Paris capital dos portugueses!
Saint-Denis vestiu-se de gala (traças à parte) para receber a final do Europeu de 2016. Estava tudo preparado para a festa. Até um autocarro aberto em tons de azul já tinha sido visto a passear numa auto-estrada qualquer. Portugal chegava à final de um europeu, 12 anos depois. Em 2004 a Grécia estragou-nos a festa. Terá passado pela cabeça dos nossos jogadores que podiam ser eles agora os protagonistas de tal façanha perante os favoritos franceses? Acredito que sim, para mais com Fernando Santos à frente de um grupo de homens que sempre teve um rumo bem definido desde que iniciou esta campanha. Jogo a jogo, em direcção ao objectivo final. E sim, a França era naturalmente a favorita, não só pelo facto de jogar em casa, mas também pelos resultados mais desafogados ao longo do torneio.
O jogo começou então com a França a querer assumir desde logo as rédeas do encontro. Portugal tentou logo encaixar na dinâmica do jogo francês, até que ao minuto 8, Payet entra de forma mais impetuosa sobre o joelho esquerdo de Ronaldo. Soaram as campainhas de alarme. Logo a seguir, primeira grande oportunidade de golo, através de cabeceamento de Griezmann, com Patrício a corresponder com a primeira defesa decisiva desta partida.
Ronaldo coxeia. Tem de sair. Mas insiste com a equipa médica e pede que lhe coloquem uma ligadura no joelho. Com uma determinação quase sobrenatural, mas com o esgar na face que não enganava os milhões que seguiam o jogo, Cristiano não aguentou muitos mais minutos, e ao passar do 24º, senta-se no chão e pede a substituição… em lágrimas. O Stade de France aplaude de pé. Todos nós partilhámos nesse preciso momento da sua dor. Alguns terão pensado que a nossa sorte estava lançada. Sobretudo os franceses. Mas Fernando Santos fez o que tinha de fazer naquela altura. Para o terreno de jogo entrou Quaresma.
Á meia hora, Sissoko remata novamente com perigo e Patrício nega uma vez mais o golo. A primeira parte acabava com maior ascendente gaulês.
No reatar da partida, a mesma toada do primeiro tempo. A França pressiona mais, mas Portugal vai aguentando o maior caudal ofensivo dos franceses. Fernando Santos tenta refrescar o meio campo e troca Adrien por João Moutinho. Portugal mantém-se recuado e pouco perigo cria neste segundo tempo. Practicamente com 10 minutos para jogar, Deschamps coloca Gignac em campo, fazendo descansar Giroud e Portugal responde com a troca de Renato Sanches (que fez talvez o seu jogo menos bem conseguido neste europeu) por Éder. Surpresa? Pensaram muitos, certamente. Mas Portugal necessitava de alguém que esticasse o seu jogo. Necessitava de alguém que segurasse os centrais franceses. Pareceu resultar a medida tomada. No lance seguinte, Nani em cruzamento-remate colocou Lloris à prova, com Quaresma a tentar o remate de moinho que certamente faria levantar o estádio. Mas Lloris estava atento. Logo depois Sissoko dispara um míssil que rebenta nas luvas de Rui Patrício. O nosso guardião estava imperial.
Já em tempo de descontos, Gignac ganha a bola à defensiva portuguesa já na grande área e remata ao poste. Patrício nada podia fazer neste lance. A nossa estrelinha brilhou bem alto neste minuto. De outra forma, estaria tudo arrumado.
Prolongamento! Nada a que já não estivéssemos habituados.
Primeira parte com cautelas de parte a parte. Os gauleses começam a acusar algum desgaste. Portugal parecia querer afastar o perigo da sua área, o que aos poucos foi acontecendo. Éder lutava lá na frente, ganhando algumas faltas. Perto do intervalo, a primeira ameaça do avançado português. Éder cabeceia após canto de Quaresma.
Intervalo. Tempo para refrescar fisicamente os atletas e preparar para os 15 minutos finais.
Minuto 107, livre à entrada da área. Quaresma e Raphael a preparar a cobrança do livre. Quaresma olha para o banco. Ordem para outro “guerreiro” marcar. Raphael remata em arco e a bola bate na trave… mas não entra. Sorte para os gauleses, pensámos nós. Mesmo sabendo que já tínhamos escapado à mesma sorte nos 90 minutos regulamentares. Parece que agora não restava outra hipótese do que o desempate por grandes penalidades.
Mas no minuto seguinte ao infortúnio de Guerreiro, Portugal ganha a bola no meio campo francês. Moutinho coloca a bola em Éder na meia esquerda. O avançado (o nosso único ponta de lança convocado) dribla para o centro do terreno. Koscielny tenta atrapalhar o movimento do português, mas desiste do lance. Éder olha em redor, para o flanco direito, e não vislumbra apoio. O instinto e o fascínio pelas redes a baloiçar falam mais alto. “Vai já daqui!” - pensou Éder. E assim foi. Lloris bem se esticou, mas estava feito o golo da vitória. Dez minutos apenas para o sonho se tornar realidade.
Portugal ganhava finalmente o que lhe escapava desde 1984, aos pés da França de Platini.
Desta vez, a história foi escrita em Português, com a caneta dourada de Camões, apadrinhados pelo génio de Eusébio, e pelo fado alegre de Amália, onde nem uma Torre Eiffel refém dos escrutínios de uma votação online (alguém acredita nisto?) teve o fair-play de se “vestir” com as nossas cores.
Não faz mal. Vejam a Torre de Belém, vejam a nossa glória espelhada no estrondoso apoio que rodeou a nossa selecção em Marcoussis, em Saint-Étienne, em Paris, em Lyon, em Lens, em Marselha, novamente em Lyon, e finalmente em Saint-Denis.
Portugal é Campeão Europeu!
Melhores marcadores:
1º Antoine Griezmann (França) – 6 golos
2º Álvaro Morata (Espanha) – 3 golos
3º Olivier Giroud (França) – 3 golos
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