Crítica de Cinema
Texto: Madalena Condado
Foto: Direitos Reservados
O filme “Chocolate” através do olhar do seu realizador Roschdy Zem leva-nos até Paris do século XIX considerada como a capital europeia deste período. Mostra-nos com um detalhe impressionante as enormes desigualdades sociais, mas sobretudo dá-nos a conhecer a vida de um homem que teve a coragem de ser o primeiro palhaço negro da história.
Mais do que um filme é uma história de vida marcada pelo sofrimento e a constante procura da liberdade interpretado na perfeição pelo actor Omar Sy que já conta no seu curriculum com excelentes interpretações.
Foca temas ainda hoje tão falados como o tráfico de seres humanos e o racismo.
Nascido em Cuba filho de escravos, vendido a um espanhol, chega à Europa onde apesar de já não ser escravo continua a ser visto como um “animal” exótico. Começa no circo a interpretar o papel de canibal onde vem a conhecer aquele que seria o seu único verdadeiro amigo. Com ele passa a fazer parte do duo de palhaços “Footit e Chocolat” a partir dai a sua ascensão será muito rápida bem como o seu declínio.
Footit é representado de uma forma majestosa pelo actor James Thiérrée que lembra em tantos momentos o seu avô Charlie Chaplin quer fisicamente quer na sua interpretação, durante o filme sente-se que Footit luta contra alguns demónios pessoais, mas esta ideia é deixada em aberto pelo realizador.
Chocolate é-nos apresentado como um homem charmoso principalmente com as mulheres e ambicioso, a sua capacidade para realizar o seu maior desejo interpretando “Othello” de Shakespeare perante a sociedade francesa será, no entanto, o gatilho que mudará a sua vida para sempre.
Ao deixar o circo pelo teatro perceberá que nem tudo é alcançável.
São focados os seus diversos vícios, ao jogo, ao álcool e às drogas os principais responsáveis pelo seu declínio e morte precoce. Julga-se que ainda não teria cinquenta anos quando morreu tuberculoso, na pobreza. Também aqui o realizador teve o cuidado de nos mostrar como a sua doença estava directamente relacionada com o seu modo de vida.
Este filme acaba por ser a forma de homenagear um homem que podia ter tido tudo não tivesse ela nascido numa época que não o compreendia e que o julgava por ser diferente.
Podemos recordá-lo pelos seus mais diversos nomes Kananga, Chocolate, Rafael Padilla, mas na realidade ele será sempre lembrado como o primeiro Palhaço negro.
E tal como o crítico Walter Benjamin afirmou no século XIX; “Cada época sonha a seguinte” e também Chocolate sonhava com um tempo que ainda não era o seu.
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