Texto e Fotos: Madalena Condado
Para
quem ainda não o conhece, Paulo Costa Gonçalves é sociólogo e autor, mas acima
de tudo um apaixonado pela vida. Bom companheiro de conversas, costuma descrever-se
como um aprendiz, uma espécie de escritor que adora a nossa História
colocando-a sempre como fio condutor em todos os seus livros.
Através
da sua escrita conhecemos e aprendemos a amar o inspector Alexandre Melo, este
investigador que tem a singular capacidade de nos entrar pela imaginação como um
pensamento tornando-se num vicio difícil de saciar. Se nos seus anteriores
livros começámos a acompanhar as aventuras e desventuras deste homem que
aprendemos carinhosamente a tratar por Alex, no “Enigma da Mentira”, voltarmos
a sentir-nos novamente catapultados para as suas investigações, acompanhando
cada momento como se fosse o último, vibrando com as suas decisões, opondo-nos
a algumas delas, mas acabando sempre por nos sentirmos parte integrante daquele
mundo enquanto devoramos as suas páginas na ânsia de saber mais. Damos por nós
a ler como se um filme se desenrolasse na nossa imaginação e começamos a
refrear a nossa leitura quando sentimos que nos aproximamos do seu último capítulo.
A verdade é que é difícil resistir à escrita criativa do seu criador.
Por
saber que o Paulo vende muito bem em países como a Argentina e o Brasil, perguntei-lhe
para quando os seus livros em outros idiomas. Garantiu-me que poderá estar para
breve apesar de sentir que a sua escrita acabará por perder muito com as traduções.
O
“Enigma da Mentira”, o terceiro livro de Paulo Costa Gonçalves foi apresentado
no passado dia 9 de abril no café literário da Chiado Editora, o local ideal
para receber mais uma aventura do nosso inspector, numa sala cheia de leitores ávidos
onde a conversa fluiu como é habitual com o Paulo. Ficou ainda no ar a
possibilidade de enveredar por outro género literário mantendo sempre o nosso
apetite saciado no que diz respeito ao inspector Alex Melo.
Mas
nada melhor do que falarmos com ele.
MBC - Para os
leitores que ainda não te conheces como te apresentarias?
PCG -
Apresentar-me-ia como um autor que passo a passo, neste caso livro a livro,
tenta singrar no panorama literário português e num género, o romance policial,
onde não existem referências nacionais ao nível da ficção o que leva muitos dos
leitores a fazerem comparações com autores internacionais e com uma maior
incidência no Dan Brown, talvez pelos acontecimentos históricos que uso para
criar os enredos das histórias dos meus livros. Ou seja, como costumo dizer:
histórias que se cruzam com a História. Sou ainda alguém que tem consciência do
panorama literário nacional, distribuição, etc., e por isso com os pés bem
assentes no chão e que estranhamente ou talvez não tem inúmeras encomendas de
livros vindas dos quatro cantos do mundo. Em suma, por mais estranho que possa
parecer tenho mais encomendas via redes sociais do que o que se vende nas
lojas.
MBC - Porquê um
inspector Alexandre Melo? Foi uma personagem baseada em alguém que conheças?
Talvez um pouco em ti mesmo?
PCG - O
inspetor Alexandre Melo, Alex para os amigos, foi pensado um pouco como um
género de Hercule Poirot contemporâneo. No entanto enquanto o personagem da Agatha
Christie era um detective particular, o meu inspetor é um mero agente da
polícia judiciária portuguesa, com vida pessoal e o oposto do super-herói, e
conjuga a sua intuição com a ciência forense, não deixando, contudo, de mesmo
contra todas as provas por vezes bem fundamentadas na ciência forense de seguir
a sua intuição e com isso fazer a diferença. Se há nele um pouco de mim? Sim, penso
que sim, mas também um pouco de cada um de nós. No meu caso e sendo sociólogo
que trabalha muito no terreno e numa contemporaneidade em constante mutação há
alturas em que também tenho que sair das ditas “conchas teóricas” onde assenta
muita da investigação sociológica para uma melhor obtenção de resultados. No de
todos nós, porque o Alex é um homem normal, inspetor da polícia que tem uma
vida normal com amores e desamores como qualquer comum mortal com quem nos
podemos cruzar na rua, assim como todos os personagens dos meus livros.
MBC - Fala-nos um
pouco do teu processo criativo. O que te inspira, qual o segredo para manteres
os teus leitores agarrados à leitura sempre com receio de que a estória tenha
um fim.
PCG - Desde
criança que sempre gostei muito de ler e as minhas leituras também desde cedo
foram transversais a todos os géneros literários, contudo houve sempre alguma
preferência pela História e pelos policiais. A História pelo conhecimento mais
dos acontecimentos e o que influenciaram o percurso da humanidade e menos do
herói, e os policiais pelo entretenimento de horas bem passadas. Digamos que é
um misto disso que tento passar nos meus livros. Isto é, dar a conhecer alguns
acontecimentos históricos e praticamente desconhecidos de todos e depois o
entretenimento de um enredo policial com base nesses mesmos acontecimentos. Por
exemplo, em O Herdeiro de Antioquia, e a sequela. Sob estranhos céus, a base
foi a conquista da cidade de Antioquia em 1098, durante a primeira cruzada e o
que aconteceu e que por muito que não se queira acreditar aconteceu. Já no
recente Enigma da Mentira a base é um documento que relata uma incursão viking
em 1015 na zona onde se situava e ainda se situa a cidade do Porto e a história
de um lavrador que viu as suas três filhas serem raptadas pelos invasores e
tudo o que ele passou para as resgatar. Depois pego nesses acontecimentos e em
descendentes contemporâneos de quem os viveu e crio uma história onde esses
descendentes fazendo uso dos mais diversificados ardis tentam tirar benefícios
próprios. Acontece que como tento escrever sobretudo histórias que sejam de
fácil leitura e para entretenimentos dos leitores e onde eles passem umas
horas, digamos desligados dos problemas da vida, os livros acabam por ter um
ritmo que muitos consideram algo cinematográfico. Inclusive muitos dos
feedbacks dos leitores sublinham, por um lado, precisamente isso e a sensação
que têm de estar a ver um filme e até se esquecerem das horas, de trocarem de
transportes ou passarem a noite em branco embrenhados na leitura e, por outro
lado, confidenciam que por vezes têm a sensação que conhecem aquele personagem,
que têm a ideia de já se terem cruzado com ele na rua, etc.
MBC - Planos
para um futuro próximo. Podes garantir-nos que independentemente de enveredares
por outros géneros de escrita continuaremos a vibrar com as fantásticas
aventuras do inspector Melo?
PCG - Sim, as
histórias do inspetor Alex que se cruzam com a História são para continuar
enquanto os leitores assim o desejarem e existam editoras dispostas a apostar,
porque como disse anteriormente trata-se de um género sem referencial nacional
e pelo que julgo saber existem apenas dois ou três autores, pelo menos com o
seu nome real e sem disfarces de pseudónimos anglo-saxónicos, a tentar singrar
neste género, inclusive no passado Dinis Machado com o pseudónimo de Dennis
McShade também fez algumas incursões no género mas sem grande sucesso. O que
quero dizer é que como diz um proverbio africano: se queres ir depressa vai sozinho,
mas se quiseres ir longe vai acompanhado. No fundo é isso, só posso ir longe
com este género e com o inspetor Alex se for acompanhado tanto pelos leitores,
como pelas editoras que queiram apostar num “terreno ainda virgem”. No entanto
gostava também de abordar um outro género que embora tenha já o enredo na
cabeça e algumas coisas no papel ainda não consegui fazer a abordagem que
realmente me satisfaça. Não é um género fácil e tem alguma complexidade porque
é algo relacionado com segundas oportunidades que nos podem ser proporcionadas
após a morte.
MBC - O próximo
passo lógico para quem já leu os livros seria uma série televisiva. Podes
adiantar-nos algo acerca disso?
PCG - Bem… é
algo que não desdenharia até porque como já referi os leitores referem-se aos
meus livros como: terem a sensação de estar a ver um filme. Apenas posso dizer
que após o lançamento de O Herdeiro de Antioquia houve alguém bem conhecido no
panorama televisivo e das novelas que, após ter lido o livro, me contactou e
questionou a minha opinião sobre o assunto, mas foi algo que não passou disso
mesmo, de uma mera abordagem, talvez prematura ou talvez como uma ideia de
futuro. Honestamente não sei porque a coisa ficou por ali mesmo e já se
passaram dois anos.
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