A animação da conversa abafava os
sons do frenesim da cidade naquele fim de tarde de junho.
A frescura do jardim interior,
com os lagos ajardinados e repuxos, amenizava o calor sufocante que ainda se
fazia sentir apesar de se aproximar a hora da ceia. As cortinas vermelhas abertas,
permitindo que aquela divisão se enchesse dos aromas do início de verão e da
frescura do jardim interior, permaneciam imóveis tal a total ausência de brisa.
No escritório os homens discutiam assuntos relacionados com as suas
propriedades rurais e, enquanto esperavam que os servos servissem a ceia,
saboreavam o tão afamado vinho do senhor da casa. Um néctar digno dos deuses,
de facto. O pão embebido em azeite aromatizado com ervas apaziguava os
estômagos lânguidos.
Lá fora, no peristilo, as
crianças brincavam com as suas pedrinhas coloridas e iniciavam-se em jogos de
estratégia, observadas pelas orgulhosas mães, que alternavam elogios às suas
crias com comentários dissimulados de cobiça relativamente às joias que tão
orgulhosamente exibia a matrona recém-chegada à cidade…
Esta poderia ter sido uma
qualquer cena da vida quotidiana de Conímbriga no ano 77.d.c, mas é apenas uma
das cenas que recriei na minha imaginação quando, este domingo, visitei com os
meus filhos o museu PO.RO.S.
A missão de nos reportar para estes espaços,
para estas vivências, para este tempo, está agora mais eficaz com a abertura do
novo museu em Condeixa-a-Nova, o PO.RO.S – Portugal Romano em Sicó. Este espaço
museológico funciona em articulação com as ruínas e o museu de Conímbriga, um
dos maiores sítios arqueológicos do país, em Condeixa-a-Velha.
O museu PO.RO.S ocupa a antiga
casa da Quinta de S. Tomé em Condeixa-a-Nova e, para além do espaço museológico,
contempla ainda uma sala para exposições temporárias, um auditório, uma sala de
oficinas criativas, uma cafetaria com a agradável vista para o parque verde e
ribeira de Bruscos e ainda um amplo pátio que permite eventos e espetáculos ao
ar livre.
O museu é interativo, é dinâmico,
é moderno e ajuda-nos a apreender tudo o que na escola aprendemos sobre a
civilização romana e a romanização. A viagem à época dos romanos começa no
túnel do tempo em que, através de acontecimentos e sons, vamos regredindo nos
séculos. Depois temos filmes, maquetas, vídeos interativos, objetos, réplicas
que nos permitem sentir as texturas das suas esculturas, dos mosaicos, da
escrita na pedra….do peso das armas. Recordamos a arte, a cultura, o engenho e
a construção das cidades, a política e a religião, a agricultura e o comércio,
as legiões e a astúcia militar. Somos confrontados com a grandiosidade do
império, com a sua influência na região e passamos ao pormenor de espreitar (literalmente)
a sua vida privada.
Autora
Margarida Veríssimo
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