sexta-feira, 30 de junho de 2017

OPINIÃO | Professores | MARGARIDA VERÍSSIMO

Quando se fala em professores que nos marcaram, que são uma referência na nossa vida, daqueles que fizeram a diferença, sinto sempre um vazio. Como é possível não ter tido um professor desses? Analisando mais fria e objetivamente a questão constato que sinto um vazio porque a minha vida de estudante encheu-se de professores desses. Não tenho AQUELE professor que me marcou, mas tenho vários professores, que por uma razão ou por outra, numa determinada altura ou situação, pontualmente, foram marcando a minha vida e que nela se foram tornando referência.

Uma dessas referências foi o professor de português do liceu, entretanto já falecido. Para além das fantásticas histórias da sua riquíssima e longa vida em África, que tanto adorávamos ouvir e que não só nos faziam sonhar como nos poupava algum tempo à aborrecida matéria da gramática, também nos transmitiu ensinamentos que considero importantíssimos para a vida…pelo menos para a minha vida, uma vez que nunca mais os esqueci e sempre me fazem recordar o professor Barbosa.

Um desses ensinamentos é que a palavra CHATEAR é uma palavra feia e como tal não deve ser usada. Não que seja uma asneira, calão ou gíria, mas é efetivamente uma palavra que não é bonita, é deselegante. Deve-se sempre preferir o verbo ABORRECER, bem mais agradável.

Outro ensinamento que nunca mais esqueci, bem, não foi exatamente um ensinamento, foi mais uma constatação, a propósito dos cheios que lhe recordavam a sua saudosa África, é a evidência de que os cheiros são aqueles fatores que melhor e de forma mais realista nos transportam para as nossas memórias e recordações. Com certeza que pela altura da adolescência eu já teria vivenciado esta situação, mas só a assumi como causa-efeito após a sua constatação pelo professor.

A partir dessa altura a cada cheiro, cada aroma que me transporta para uma situação vivida, páro, fecho os olhos e volto a estar lá, no passado, naquele momento. Se sentirmos o cheiro e fecharmos os olhos quase que conseguimos tocar nas coisas e pessoas que fazem parte dessa memória.
Na faculdade recordo uma professora de história de arte/arquitetura que com paixão exultava a luz de Veneza. A luz existente nas praças, nos edifícios góticos e bizantinos, a luz refletida do sol, no céu, nos edifícios, nas ruas e canais.

Arrependi-me de não ter levado mais a sério esta exaltação quando nas férias seguintes fui fazer o inter-rail e passei por Veneza. Arrependi-me porque assim que sai da estação de comboio de Santa Lucia, em Veneza, não consegui abrir os olhos! Era completamente impossível, com tanta luz, permanecer de olhos abertos! Ora bolas, finalmente em Veneza e não conseguia ver nada! Depois daquelas fantásticas aulas de história é inacreditável como não me lembrei de levar óculos de sol para Veneza!

Em determinados momentos recordo um ou outro ensinamento, uma ou outra situação vivida na sala de aula, um ou outro professor. E é destes momentos que a vida é feita, todas as nossas experiências, todas as pessoas que se cruzam no nosso caminho são importantes.

Não precisei de ter um professor herói, tive muitos professores que me proporcionaram momentos vividos que recordo, que me foram transmitindo ensinamentos, experiências. Situações que no momento, provavelmente, passaram despercebidas, irrelevantes, mas que absorvi, apreendi…. Aprendi.











Autora
Margarida Veríssimo

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