Quando se fala em professores que nos marcaram, que são uma
referência na nossa vida, daqueles que fizeram a diferença, sinto sempre um
vazio. Como é possível não ter tido um professor desses? Analisando mais fria e
objetivamente a questão constato que sinto um vazio porque a minha vida de
estudante encheu-se de professores desses. Não tenho AQUELE professor que me
marcou, mas tenho vários professores, que por uma razão ou por outra, numa
determinada altura ou situação, pontualmente, foram marcando a minha vida e que
nela se foram tornando referência.
Uma dessas referências foi o professor de português do liceu,
entretanto já falecido. Para além das fantásticas histórias da sua riquíssima e
longa vida em África, que tanto adorávamos ouvir e que não só nos faziam sonhar
como nos poupava algum tempo à aborrecida matéria da gramática, também nos
transmitiu ensinamentos que considero importantíssimos para a vida…pelo menos
para a minha vida, uma vez que nunca mais os esqueci e sempre me fazem recordar
o professor Barbosa.
Um desses ensinamentos é que a palavra CHATEAR é uma palavra
feia e como tal não deve ser usada. Não que seja uma asneira, calão ou gíria,
mas é efetivamente uma palavra que não é bonita, é deselegante. Deve-se sempre
preferir o verbo ABORRECER, bem mais agradável.
Outro ensinamento que nunca mais esqueci, bem, não foi
exatamente um ensinamento, foi mais uma constatação, a propósito dos cheios que
lhe recordavam a sua saudosa África, é a evidência de que os cheiros são
aqueles fatores que melhor e de forma mais realista nos transportam para as
nossas memórias e recordações. Com certeza que pela altura da adolescência eu
já teria vivenciado esta situação, mas só a assumi como causa-efeito após a sua
constatação pelo professor.
A partir dessa altura a cada cheiro, cada aroma que me
transporta para uma situação vivida, páro, fecho os olhos e volto a estar lá,
no passado, naquele momento. Se sentirmos o cheiro e fecharmos os olhos quase
que conseguimos tocar nas coisas e pessoas que fazem parte dessa memória.
Na faculdade recordo uma professora de história de arte/arquitetura
que com paixão exultava a luz de Veneza. A luz existente nas praças, nos
edifícios góticos e bizantinos, a luz refletida do sol, no céu, nos edifícios,
nas ruas e canais.
Arrependi-me de não ter levado mais a sério esta exaltação
quando nas férias seguintes fui fazer o inter-rail e passei por Veneza. Arrependi-me
porque assim que sai da estação de comboio de Santa Lucia, em Veneza, não
consegui abrir os olhos! Era completamente impossível, com tanta luz,
permanecer de olhos abertos! Ora bolas, finalmente em Veneza e não conseguia
ver nada! Depois daquelas fantásticas aulas de história é inacreditável como
não me lembrei de levar óculos de sol para Veneza!
Em determinados momentos recordo um ou outro ensinamento, uma
ou outra situação vivida na sala de aula, um ou outro professor. E é destes
momentos que a vida é feita, todas as nossas experiências, todas as pessoas que
se cruzam no nosso caminho são importantes.
Não precisei de ter um professor herói, tive muitos professores
que me proporcionaram momentos vividos que recordo, que me foram transmitindo
ensinamentos, experiências. Situações que no momento, provavelmente, passaram
despercebidas, irrelevantes, mas que absorvi, apreendi…. Aprendi.
Autora
Margarida Veríssimo
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