Adoro o cheiro a éter! O cheiro a éter
conforta-me, transmite-me a sensação de segurança, de bem-estar, de alegria, de
me sentir amada. O cheiro a éter transporta-me para outros tempos, faz-me
viajar até à infância, quando tudo se curava com um abraço... Com um abraço a
cheirar a éter. Adoro pegar em bolinhas de algodão embebidas em éter e
sentir o seu aroma, sentir aquela tontura que só um amor tão grande nos faz
sentir. Adoro recordar o cheiro da minha
mãe quando chegava a casa depois de uma manhã de sábado a trabalhar no posto
médico...cheirava a mãe...e a éter!
Como
já referi noutro texto os cheiros e aromas têm o poder de nos transportar para
situações e lugares vividos. Inspiro, fecho os olhos, e volto a estar lá, no
passado, naquele momento.
É incrível como ao sentir o cheiro a terra molhada, que é uma
situação bastante comum e recorrente, volto a estar com 4 anos nas férias de
verão no quintal da casa dos meus tios e primos onde aprendi a andar de
bicicleta. Aquele cheiro a chuva de verão! Páro, fecho os olhos por instantes e
por instantes volto a sentir as mesmas sensações e emoções dessas férias, acho
que até chego a ouvir as vozes dos meus irmãos e dos 8 primos com quem
partilhei tantas aventuras.
Curiosamente também o cheiro ao fumo de fogueira me
transporta para esses tempos de verão. Foi uma memória que retive muito tempo,
uma vez que vivia na cidade e só no verão, quando íamos para casa dos meus
tios, sentia esse aroma. Passados tantos anos, agora a viver na província,
sinto esse cheiro muitas vezes…é tão bom recordar!
Mas se há cheiro que me transporta e quase teletransporta
para essa casa dos meus tios, em Canas de Senhorim, é o cheiro a fraldas sujas!
Tiveram 8 filhos, 4 deles mais novos do que eu. Sempre que para lá íamos nas
férias de verão ou a minha tia estava grávida ou havia um bebé novo. Como se
pode imaginar, era portanto uma casa onde havia sempre, por essa altura, alguém
que usava fraldas. Desta forma, a tão caraterística fragrância a fraldas sujas,
tornou-se para mim, um cheiro agradável… ou pelo menos um cheiro que me
transporta para recordações muito agradáveis!
Mas também há sabores que têm essa fantástica capacidade de
teletransporte. Aquela sopa de sabor único, delicioso, que só a nossa avó
conseguia fazer e que por mais que tentemos reproduzir a receita nunca
conseguimos igualar. Às vezes lá aparece, como que por magia, alguém que o
consegue fazer e então lá vamos numa maravilhosa viagem ao passado. Fechamos os
olhos, claro, teletransportamo-nos para outro local, noutro tempo, e somos
recebidos pelo olhar carinhoso de quem já não está ente nós.
Mas
há um sabor que não me transporta para nenhuma época específica da minha
vida…porque é um sabor transversal a toda ela. O sabor a chocolate!
Margarida Veríssimo
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