"Agora que sei para o que trabalho, sou mais perfecionista e exigente comigo mesma."
O que poderá ser mais refrescante e inspirador, do
que entrevistar alguém que de alguma forma nos faz lembrar um pouco como eramos aos
vinte anos?
À conversa com a jovem autora Raquel Fonseca na
Feira do Livro de Lisboa, no passado mês de Junho, fiquei a saber que escreve
desde muito cedo tendo começado como uma simples actividade de férias na companhia da sua irmã e da sua prima. Que tem muitas estórias guardadas, algumas delas só com inícios, outras só com meios e outras só com fins. Que conta com um fantástico apoio familiar e que desde
o lançamento do seu livro já fez inúmeras apresentações em escolas, sempre
com a ajuda incondicional da sua mãe, professora de físico química.
Está actualmente a trabalhar no seu blog de autora que contará
divulgar muito em breve de forma a ajudar na promoção do seu trabalho. Uma das muitas curiosidades que me confidenciou foi de que independentemente de ser aluna de Música e de se sentir fortemente
inspirada por tudo o que tenha a sonoridade certa, só consegue estudar ou ler em silêncio.
Durante a nossa conversa debaixo de um calor
abrasador, percebi que a Raquel ainda terá muitas surpresas escondidas e prontas a
revelar. Contudo, o que mais me impressionou nela naquele dia, foi que sem saber
que perdera o meu pai há pouco tempo, acabou por me dizer as palavras certas, precisamente o que precisava de ouvir para conseguir voltar a reagir: “Tanto o amor como a morte e tudo o que vem com estes sentimentos
são muito importantes e enriquecedores”. A realidade é que estamos em
permanente aprendizagem e a maior sabedoria e sensibilidade chega muitas vezes de forma
inesperada mas sempre de pessoas fantásticas.
Também por esse motivo gostaria de vos convidar a conhecerem melhor a Raquel Fonseca e pedir-vos que ao lerem esta entrevista colocassem como música de fundo, “Kissing in cars” de Pierce de Veil, recomendada pela autora e que segundo ela seria a música ideal para o seu
livro.
Desejo-te muito sucesso em
tudo o que faças e principalmente que continues a seguir os teus próprios conselhos: “Se queremos muito uma coisa seguimos em frente, até
porque as coisas podem ser ditas e acontecem”.
Até breve.
MBC – Quem é
a Raquel?
RF - A
Raquel é música, livros, bolos, bolachas e maçãs. É sonhos desde a infância e imaginação
também. É amizades antigas e novas, projetos cumpridos e ainda mais por
cumprir. É a pessoa que tem uma opinião definida, mas que está sempre a
reformular. Gosta de estar com a família e de sair com os amigos. De praia, mas
não em demasia, de ir ao cinema, organizar festas e jantares. A Raquel sou eu.
E quem não me conhece nunca vai ter a ideia de quem sou de mais nenhuma maneira.
MBC - Que
idade tinhas quando escreveste este livro?
RF - Eu
escrevi este livro com 15 anos. Quando foi publicado tinha 16.
MBC - O que
te levou a escrever sobre adolescentes?
RF - Várias
razões. Eu própria sou e era uma adolescente, portanto é esse o meu mundo. Queria
escrever sobre alguma coisa que parecesse real, que pudesse ser real! E não
havia forma de isso acontecer se eu escrevesse sobre um mundo que ainda não
experienciei. Além disso, acho que os adolescentes são “seres” espetaculares.
Vivem tudo de forma muito mais intensa, são dramáticos, revolucionários, são
fogo e gelo em simultâneo.
MBC – Quando
publicaste o que sentiste?
RF - Senti
uma felicidade enorme! Algo que eu achava ser impossível (pelo menos naquela
altura), aconteceu. E por muitas vezes nem acreditei que aquilo estava a
acontecer.
MBC -
Inspiraste-te de alguma forma em ti, nos amigos e família que te rodeiam para
escrever este livro?
RF - Não,
embora muita gente me pergunte isto… O livro é pura ficção, é mesmo tudo fruto
da minha imaginação.
MBC – Tão nova
e tratas temas como o amor e a morte com uma leveza incontestável, é assim que
vês a vida? Ou foi somente a tua imaginação a levar-te enquanto escrevias?
RF - Na
verdade, eu vejo a vida de forma muito mais séria e intensa do que vejo neste
livro, mas não foi a minha visão que eu quis passar no livro. Todo o livro
passa uma mensagem de inocência – quase até ingenuidade – em relação a temas
importantes da vida. Da parte de todas as personagens. E foi essa visão “leve”
de tomar decisões e de ver a vida que eu quis passar no livro.
MBC – Reparei
que também tratas a sexualidade sem rodeios, sem cuidados de linguagem. Será
alguma mensagem que queres transmitir aos teus leitores?
RF - A
mensagem que eu sempre fiz questão de passar foi que os adolescentes não são
aquelas figuras inocentes e desconhecedoras que todos à sua volta pensam. E
para matar esse erro criei personagens quase irresponsáveis em relação a esse
assunto, sem, ao mesmo tempo, dar sequer importância ao mesmo. Mostrei um
bocado daquela visão romântica em que só o amor importa, e tudo à sua volta são
só mais maneiras de mostrar o sentimento.
MBC – Algo
que me deixou fascinada foi o facto de o narrador ser um rapaz. Porque não uma
rapariga?
RF - Talvez
esse aspeto tenha sido puramente a minha curiosidade. Quando dei por mim, o
narrador já era um rapaz, nunca foi mais ninguém, desde o início. Penso que foi
uma maneira de eu especular sobre como são as coisas do ponto de vista
contrário ao meu. E foi muito interessante pensar assim, foi uma aventura do
início ao fim.
MBC – Toda a
trama se passa à volta do que aconteceu naquele terraço, de onde te surgiu esta
fantástica ideia?
RF - Eu
acho sempre que todos os lugares guardam histórias. Quando passo num sítio novo
que me salta à vista, é o que tento ver: o que é que já poderá ter acontecido
aqui? Será este local um símbolo de vida, ou de amor, ou de tragédia, ou de
tristeza para alguém? Foi isso que tentei criar também. Aquele terraço não era
um sítio qualquer. Tinha histórias e segredos para contar; tinha visto e ouvido
coisas que mais ninguém sabia. E agora talvez todos os meus leitores se lembrem
da Filipa, do Dinis, do Rodrigo e do Filipe quando estiverem num.
MBC – Como
surgiu a ideia do nome?
RF - O nome
não foi fácil. Nenhum me agradava. Mas no final tomei essa decisão como as
próprias personagens do livro tomaram as suas: de forma simples e sem pensar
muito. Daí ser um título sem rodeios, sem demasiadas explicações.
MBC – Se o
voltasses a escrever hoje o que mudarias?
RF - Acho
que qualquer autor olha para o seu livro e vê “erros” por todo o lado. Eu penso
que mudava algumas coisas estilísticas, frásicas, gramaticais… A forma e
estrutura. Mas não mudava os personagens nem o desenrolar da história. Penso
que se deve o facto de o livro ser tão viciante à genuinidade e naturalidade
das personagens e das suas ações.
MBC –
Sabendo que continuas a estudar, quais os teus planos para um futuro próximo?
Algum novo livro para breve ou para já vais manter-te somente com a música?
RF - Nos
últimos anos é claro que tive de me concentrar mais na música. Depois de lançar
“O Segredo do Terraço” tomei decisões importantes na minha vida em relação à música,
e por isso tive de lutar para as manter. No entanto, nunca deixei de escrever,
e está sempre nos meus planos escrever mais um livro. E, quem sabe, mais um e
mais outro. Agora que sei para o que trabalho, sou mais perfecionista e
exigente comigo mesma. Espero que o meu próximo livro esteja para breve, agrade
aos meus leitores e supere “O Segredo do Terraço”.