"A ser verdade que escrevemos o
que somos, não haverá melhor forma de me descrever que por intermédio dos meus
livros. Para quem os ler com olhos de ver."
Quem me conhece sabe que sou uma
apaixonada por livros e por animais e a verdade é que encontrei recentemente
uma autora que conseguiu unir estas minhas duas paixões. Estou a falar da
Vanessa Lourenço.
Quando tive o privilégio de a
conhecer tinha acabado de lançar “A Cria Negra de Felis Mal’Ak” e aproveitando
para citar a própria: “Não existem coincidências”.
A verdade é que ao acabar de ler
o seu livro dei por mim como uma das suas mais fervorosas leitoras, ansiosa
pela continuação da estória. Que felizmente chegou com o segundo volume “A
Batalha de Sekmet”, porém a minha ansiedade não ficou curada somente saciada.
Continuo a desejar saber que final terão estes pequenos heróis de quatro patas.
Para todos aqueles que acham que não
gostam de gatos, que estes são pura e simplesmente animais, desenganem-se e
leiam o que a Vanessa tem para vos contar. Só ela conseguiria com a sua forma
única de contar estórias criar os laços de união que faltavam. Com ela, aprendemos
a aceitar que nos acompanham desde sempre e acabamos a desejar que o façam para
sempre. Por esse motivo em meu nome e em nome de todos eles, Obrigada Vanessa.
O que muitos dos nossos leitores não
devem saber é que foi devido à perda de um destes seus companheiros de viajem que
a Vanessa escreveu esta obra.
Compreendo a sua dor e acredito
que foi ele o anjo que a ajudou, não poderia ser de outra maneira. Por esse
motivo não arriscaria dar inicio a esta entrevista sem lembrar as suas palavras
na sentida dedicatória a esse amigo, que nos oferece neste livro e a
convidar-vos a todos a seguir o seu trabalho.
“Ao
Méfis, o meu Felis Mal’Ak.
Ao
Félix, as patas negras que percorrem o caminho.
Comigo
para sempre.”
Texto: MBarreto Condado
Foto: Vanessa Lourenço
MBC – Como aparece a Vanessa Lourenço neste diversificado mundo da literatura fantástica em Portugal e em português?
Foto: Vanessa Lourenço
MBC – Como aparece a Vanessa Lourenço neste diversificado mundo da literatura fantástica em Portugal e em português?
VL - Por
intermédio de uma aventura inspiradora que teve a sua génese numa mistura de
amor aos animais com a necessidade de fazer chegar ao mundo uma mensagem
importante relativa ao papel preponderante dos nossos amigos de quatro patas na
capacidade de alcançarmos o nosso mais elevado potencial enquanto seres
humanos.
MBC – Foi a
tua vontade desde sempre escreveres? Dai à publicação do teu primeiro livro
demorou muito tempo? Foi um sonho concretizado?
VL - Acho
que escrevo desde que me lembro, mas o gosto pela leitura sempre foi mais
preponderante na minha vida. Abres um livro e vês um mundo inteiro construir-se
na tua mente, onde o enredo ganha vida e te consegues distanciar de um mundo
que, por vezes, se nos apresenta demasiado cinzento. Mas a determinada altura
senti a necessidade de começar a expressar-me através da palavra escrita, num
processo talvez um pouco catártico, e pouco depois começavam a desenhar-se os
primeiros esboços de “A cria negra de Felis Mal’ak”, o meu primeiro livro
publicado. A publicação deste primeiro volume viria a concretizar-se apenas
sete anos depois. Um sonho concretizado... sim, mas ao mesmo tempo foi muito
mais do que isso: foi a concretização de uma promessa a um amigo muito especial,
a entrega do seu legado a todo um universo de leitores em potencial.
MBC – Num
mundo onde os heróis são gatos como foi a aceitação dos leitores dos teus
livros?
VL - Neste
mundo (que poderia ser facilmente o nosso), os gatos vestem a pele de anjos,
heróis e mestres. É uma história sujeita a várias interpretações diferentes, de
acordo com a forma como cada leitor encara o mundo e os animais, e por isso
mesmo a reacção aos meus livros foi uma agradável surpresa: de repente estava a
receber feedbacks muito positivos ao meu trabalho por motivos tão distintos
como a fidelidade no que diz respeito à vertente comportamental dos gatos ou à
complexidade psicológica que tardamos em lhes atribuir. Ouço frequentemente
leitores dizerem-me que nunca mais olharão para os seus gatos da mesma forma
depois de lerem os meus livros, e não podia sentir-me mais grata.
MBC –
Pensaste conseguir publicar três livros num tão curto espaço de tempo? Sendo
que um deles é a versão inglesa d’” A Cria Negra de Felis Mal’Ak” o teu
primeiro livro desta saga?
VL - Numa
primeira fase, pretendia publicar os três livros da trilogia no espaço de três
anos, mas depressa compreendi que o processo é muito mais complexo do que isso.
É preciso ter em conta não só a publicação de mais um livro, mas também todo o
trabalho que lhe está associado em termos de divulgação e marketing do mesmo.
Quando pretendemos desenvolver um trabalho consistente, os prazos pré-definidos
passam para segundo plano relativamente ao processo de o fazer chegar ao maior
número possível de leitores potenciais, com qualidade. E isso exige muito
trabalho, muita disciplina e dedicação constantes. No que diz respeito à edição
inglesa de “A cria negra de Felis Mal’ak”, senti a necessidade de estender o
meu público para além-fronteiras, e penso que foi uma boa aposta uma vez que à
data desta entrevista, os meus leitores já se estendem aos EUA, Reino Unido,
Canadá, Austrália, entre outros. É um enorme orgulho e um retorno imenso ao
trabalho que tenho vindo a desenvolver.
MBC – Como
tem sido a aceitação da versão inglesa sabendo que o teu público alvo, os teus
leitores já passam além-fronteiras?
VL - Como
referi acima, é com muito orgulho que posso dizer que a edição inglesa de “A
cria negra de Felis Mal’ak” já se encontra neste momento um pouco por todo o
mundo, e os feedbacks têm sido muito positivos.
MBC –
Fala-nos um pouco desta fantástica saga? Para quando o terceiro e último livro?
VL - Resumidamente,
trata-se de uma trilogia de vertente inspiracional onde os personagens são um
grupo de gatos muito especial, que nos vai guiar ao longo desta aventura pela
sua própria visão do mundo em que vivemos. É a história de um gato preto que,
acompanhado de outros da sua espécie, vai ao encontro de uma batalha que
decidirá o destino de todos os gatos no nosso planeta... e para lá dele. Uma
história de como existem laços mais fortes do que a morte, e de como a força de
cada um de nós se liberta quando caminhamos de encontro ao nosso maior
potencial e quando temos que lutar por aqueles que amamos ou algo em que
acreditamos. Quanto ao terceiro e último volume da trilogia, tudo o que posso
adiantar neste momento é que ainda estou a terminar a história.
MBC – A
seguir poderemos esperar algo diferente na tua escrita, nas tuas personagens ou
ainda é cedo para perguntar?
VL - (risos).
Tenho já algumas ideias, mas para já o meu foco está no último volume desta
trilogia. Se te referias ao terceiro volume... veremos adiante o que nos traz!
MBC –
Sabendo que a divulgação de novos autores é muito complicada e competitiva em
Portugal. Onde na maior parte das vezes se dá mais importância a um nome do que
ao conteúdo apresentado. Onde te encaixas no momento em que te encontras?
VL -
Publiquei o meu primeiro livro em Setembro de 2015, e hoje em dia posso afirmar
que as minhas expectativas iniciais estavam muito afastadas da realidade. Um
novo autor em Portugal encontra hoje em dia alguma facilidade na publicação
porque esta se encontra bastante acessível... se se tiver capacidade de investimento.
Mas mesmo que a capacidade de investimento não seja um problema, os desafios
estão longe de terminar com a publicação. Desenganem-se aqueles que pensam que
basta publicar e o mundo lá fora faz o resto, porque tal não poderia estar mais
longe da verdade: é preciso trabalhar muito, ser-se muito disciplinado e
perseverante. Com poucas excepções, é preciso ir ao encontro das oportunidades
e dos leitores todos os dias, e lutar por uma visibilidade e um reconhecimento
que por vezes não só tardam em chegar, como têm que ser alimentados
constantemente.
MBC
–
Se pudesses dar conselhos a quem começa agora o que lhes dirias?
VL - Há uma
frase de que gosto muito, e que uso muitas vezes: não desistam. As pessoas mais
dificeis de derrotar são aquelas que não desistem. Não é um caminho fácil ou
sempre a direito, mas se a vontade for suficientemente forte vale sempre a
pena. Preparem-se para os desafios, mas nunca percam a capacidade de se
orgulharem das vitórias, mesmo que sejam pequenas. E nunca se esqueçam do motivo
que vos fez começar quando as coisas se complicarem. Uma página de autor nas
redes sociais é também muito importante, exponham o vosso trabalho com
disciplina e dedicação.
MBC – O que
podemos esperar para um futuro próximo?
VL -
Trabalho, trabalho e mais trabalho para trazer aos meus leitores livros capazes
de os inspirar, e merecedores de um lugar de destaque na prateleira das suas
casas. Livros que sintam vontade de usufruir e recomendar.
MBC – Se
tivesses uma frase que te definisse qual seria?
VL - A ser verdade
que escrevemos o que somos, não haverá melhor forma de me descrever que por
intermédio dos meus livros. Para quem os ler com olhos de ver.
Sem comentários:
Enviar um comentário