Acabaram as férias que para muitos continuam a ser
repartidas entre o mês de junho e o mês de setembro, em grande parte para evitar
o afluxo de emigrantes que regressam sempre nos fortes meses de verão. A simples
ideia de praias atulhadas de “Michel vien
ao pai”, horas nas filas, o ouvir as habituais reclamações de que em Portugal
é sempre a mesma coisa, que este nosso país parece um daqueles do terceiro
mundo, continuam a ser motivo mais do que suficiente para muitos portugueses continuarem
a fazer férias fora do característico período
emigrante.
Se esta é a realidade do nosso país nos dois fortes
meses de verão, também é verdade que os emigrantes não são mais do que os
nossos portugueses regressados numa tentativa de aplacarem o saudosismo que se
acumula nos longos e frios meses, nos países de acolhimento. Voltam para recarregar
baterias com a boa comida, o vinho, o clima, a família e os amigos antes de serem
uma vez mais obrigados a regressar.
Passei a entender esta movimentação de gentes da
terra quando no passado mês de agosto conheci a Milene Paulo e o Hugo Joaquim,
dois jovens emigrantes que fizeram de Inglaterra a sua nova morada, e que desta
feita voltavam a casa para se casarem.
Tudo começou quando me mudei de Lisboa para um simpático
lugarejo no Oeste, daqueles onde entramos e já não queremos voltar a partir,
onde a única família que aqui habita nos considera uma parte do seu núcleo.
Foi confrontada com esta realidade que aprendi a
olhar para os nossos emigrantes com novos olhos.
A Milene e o Hugo fazem parte da estatística de
portugueses que deixam o país em busca de uma vida melhor. Deixam tudo o que têm
como garantido para trás e partem na esperança de um trabalho, de uma casa, de
um futuro, nunca esquecendo quem cá deixam. Com eles percebi que existe um
forte motivo para o regresso dos emigrantes em particular nestes meses e que
não se deve ao calor e às fantásticas praias que temos para oferecer, é sim um
regresso às origens, um reencontro com a sua família.
Por todos esses motivos sinto que a história da
Milene e do Hugo deve ser contada.
Com eles, o “Era uma vez…” toma um significado
diferente.
“Era uma vez uma jovem rapariga chamada Milene que
vivia numa pequena aldeia do oeste português. Não muito longe, numa aldeia
vizinha vivia um jovem, Hugo de seu nome. A verdade é que se conheciam, já se tendo
cruzado por diversas vezes em festas nas aldeias vizinhas. Mas, foi somente quando o destino decidiu que
o amor aconteceu.
Porém a vida daria uma reviravolta e Milene partia
para Inglaterra. Hugo passava os dias a pensar na falta que a ausência daquela jovem
mulher a quem já entregara o coração lhe fazia. Não demorou muito a segui-la. Em
breve aterrava em Londres com um único intuito, ficarem juntos para sempre. O
amor cresceu e como prova desse profundo sentimento eram abençoados com o
nascimento de Emily.”
Assim como na história deles também a de tantos
outros portugueses que partem na esperança de um dia regressarem, nem que seja
somente durante os meses que tanto incómodo gera àqueles que têm o privilégio
de cá viver em permanência. Não nos podemos esquecer de quem fica e que os
espera ansiosamente todos os anos, falamos dos seus pais.
Para tentar perceber melhor o que os motiva a
voltarem particularmente agora e no caso da Milene e do Hugo para se casarem, coloquei-lhes
na véspera algumas questões tendo o cuidado de o fazer separadamente,
perguntei-lhes o que mais gostavam no outro. Para a Milene, a capacidade que o
Hugo tem de correr atrás daquilo em que acredita, da sua persistência para
alcançar todos os objectivos independentemente da dificuldade que os mesmos possam
acartar. Já para o Hugo, não há nada que não goste na Milene. Tudo! Foi a sua
pronta resposta.
Pedi-lhes que me descrevessem o que significava o
amor para cada um deles. Se para a Milene era a felicidade que sentia por estar
com a pessoa amada e ter a vida que desejava para o Hugo era o carinho que só
ela e a filha de ambos lhe conseguiam dar.
Porém ainda me faltava colocar-lhes a pergunta que
maior curiosidade me despertava. Porquê o casamento nesta altura e em Portugal?
Para a Milene era o momento ideal pois assim conseguiam reunir as pessoas que
mais amavam naquele momento inesquecível, era a única altura do ano em que
conseguiam estar todos juntos. O Hugo acabaria por completar o pensamento da
noiva sem o saber ao afirmar que estão finalmente perto de quem mais gostam
pelo que é a altura perfeita, sem nunca se esquecer que este momento ganha mais
significado pelo valor que tem para a Milene.
Por todos estes motivos confesso que passei a ter
mais respeito por quem regressa nem que seja somente durante um curto período
nas férias, afinal não somos emigrantes, somos todos portugueses e se voltamos
é porque este país nos corre nas veias independentemente de muitos de nós não
saberem se algum dia voltarão de vez.
De uma coisa tenho a certeza, a história da Milene
e do Hugo teve o seu inicio de conto de fadas no casamento e se começou com o “Era
uma vez…” terminará certamente com o “Foram felizes para sempre.”
Obrigada aos dois.
Texto: MBarreto Condado
Fotos: Hugo Joaquim
Um trabalho incrivel de umma escritora fabulosa.
ResponderEliminarUm grande obrigado.