domingo, 24 de setembro de 2017

Férias de Verão, Casamento e Emigração

Acabaram as férias que para muitos continuam a ser repartidas entre o mês de junho e o mês de setembro, em grande parte para evitar o afluxo de emigrantes que regressam sempre nos fortes meses de verão. A simples ideia de praias atulhadas de “Michel vien ao pai”, horas nas filas, o ouvir as habituais reclamações de que em Portugal é sempre a mesma coisa, que este nosso país parece um daqueles do terceiro mundo, continuam a ser motivo mais do que suficiente para muitos portugueses continuarem a fazer férias fora do característico período emigrante.

Se esta é a realidade do nosso país nos dois fortes meses de verão, também é verdade que os emigrantes não são mais do que os nossos portugueses regressados numa tentativa de aplacarem o saudosismo que se acumula nos longos e frios meses, nos países de acolhimento. Voltam para recarregar baterias com a boa comida, o vinho, o clima, a família e os amigos antes de serem uma vez mais obrigados a regressar.

Passei a entender esta movimentação de gentes da terra quando no passado mês de agosto conheci a Milene Paulo e o Hugo Joaquim, dois jovens emigrantes que fizeram de Inglaterra a sua nova morada, e que desta feita voltavam a casa para se casarem.

Tudo começou quando me mudei de Lisboa para um simpático lugarejo no Oeste, daqueles onde entramos e já não queremos voltar a partir, onde a única família que aqui habita nos considera uma parte do seu núcleo.
Foi confrontada com esta realidade que aprendi a olhar para os nossos emigrantes com novos olhos.

A Milene e o Hugo fazem parte da estatística de portugueses que deixam o país em busca de uma vida melhor. Deixam tudo o que têm como garantido para trás e partem na esperança de um trabalho, de uma casa, de um futuro, nunca esquecendo quem cá deixam. Com eles percebi que existe um forte motivo para o regresso dos emigrantes em particular nestes meses e que não se deve ao calor e às fantásticas praias que temos para oferecer, é sim um regresso às origens, um reencontro com a sua família.

Por todos esses motivos sinto que a história da Milene e do Hugo deve ser contada.
Com eles, o “Era uma vez…” toma um significado diferente.


“Era uma vez uma jovem rapariga chamada Milene que vivia numa pequena aldeia do oeste português. Não muito longe, numa aldeia vizinha vivia um jovem, Hugo de seu nome. A verdade é que se conheciam, já se tendo cruzado por diversas vezes em festas nas aldeias vizinhas. Mas, foi somente quando o destino decidiu que o amor aconteceu.
Porém a vida daria uma reviravolta e Milene partia para Inglaterra. Hugo passava os dias a pensar na falta que a ausência daquela jovem mulher a quem já entregara o coração lhe fazia. Não demorou muito a segui-la. Em breve aterrava em Londres com um único intuito, ficarem juntos para sempre. O amor cresceu e como prova desse profundo sentimento eram abençoados com o nascimento de Emily.”

Assim como na história deles também a de tantos outros portugueses que partem na esperança de um dia regressarem, nem que seja somente durante os meses que tanto incómodo gera àqueles que têm o privilégio de cá viver em permanência. Não nos podemos esquecer de quem fica e que os espera ansiosamente todos os anos, falamos dos seus pais.


Para tentar perceber melhor o que os motiva a voltarem particularmente agora e no caso da Milene e do Hugo para se casarem, coloquei-lhes na véspera algumas questões tendo o cuidado de o fazer separadamente, perguntei-lhes o que mais gostavam no outro. Para a Milene, a capacidade que o Hugo tem de correr atrás daquilo em que acredita, da sua persistência para alcançar todos os objectivos independentemente da dificuldade que os mesmos possam acartar. Já para o Hugo, não há nada que não goste na Milene. Tudo! Foi a sua pronta resposta.


Pedi-lhes que me descrevessem o que significava o amor para cada um deles. Se para a Milene era a felicidade que sentia por estar com a pessoa amada e ter a vida que desejava para o Hugo era o carinho que só ela e a filha de ambos lhe conseguiam dar.

Porém ainda me faltava colocar-lhes a pergunta que maior curiosidade me despertava. Porquê o casamento nesta altura e em Portugal? Para a Milene era o momento ideal pois assim conseguiam reunir as pessoas que mais amavam naquele momento inesquecível, era a única altura do ano em que conseguiam estar todos juntos. O Hugo acabaria por completar o pensamento da noiva sem o saber ao afirmar que estão finalmente perto de quem mais gostam pelo que é a altura perfeita, sem nunca se esquecer que este momento ganha mais significado pelo valor que tem para a Milene.

Por todos estes motivos confesso que passei a ter mais respeito por quem regressa nem que seja somente durante um curto período nas férias, afinal não somos emigrantes, somos todos portugueses e se voltamos é porque este país nos corre nas veias independentemente de muitos de nós não saberem se algum dia voltarão de vez.

De uma coisa tenho a certeza, a história da Milene e do Hugo teve o seu inicio de conto de fadas no casamento e se começou com o “Era uma vez…” terminará certamente com o “Foram felizes para sempre.”


Obrigada aos dois.

Texto: MBarreto Condado
Fotos: Hugo Joaquim


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