domingo, 1 de outubro de 2017

À conversa com a pintora Armanda Alves e com a autora Luisa Fresta

“Há momentos em que nos apetece abraçar o mundo”, foi desta forma que a poetisa Regina Correia apresentou a autora Luísa Fresta e a pintora Armanda Alves no seu mais recente trabalho a quatro mãos, estou a falar do livro “Contexturas”, publicado pela editora Livros de Ontem.
“Contexturas", é uma confortável viagem através de um universo de emoções. Um livro composto por vinte pequenos contos todos eles emoldurados por uma tela única. Sentimos ao folhear as suas páginas que a respiração acelera como um despertar dos nossos próximos sentimentos tal é a harmonia existente entre a pintura e os contos.
Através das suas páginas somos conduzidos numa viagem ímpar por terra e por mar, onde a imaginação encontra no extraordinário o banal, sentimo-nos parte de todo aquele teatro narrativo, imersos nas suas páginas de onde nos recusamos sair por querermos sempre mais. De imediato notamos a ligação das autoras à mãe natureza, à língua, ao cheiro do oceano angolano, aos sabores, às cores de África num intrincado puzzle onde a lusofonia tem a sua mais forte expressão na língua, também esta sempre presente nos quadros de Armanda Alves.

Se para a Luísa os contos nasceram a olhar para os quadros, já para a Armanda saber que as suas telas onde existe um universo que se encaminha para o enrodilhado do tecido social e humano foi a fonte de inspiração necessária para o nascimento de “Contexturas” é por si só motivo de rejubilo.

Gostava ainda de vos deixar uma pequena nota biográfica das autoras antes da entrevista que gentilmente me cederam.

Armanda Alves é luso angolana, artista plástica vive há alguns anos em Portugal e, durante muito tempo pintou por prazer, para si e para os seus amigos. Com vasta obra reconhecida a nível internacional mostra toda a sua energia que passa de uma maneira extraordinária para a tela, com o seu jogo de cores numa linha marcadamente abstrata.

Luísa Fresta, autora, nascida em Portugal, viveu a maior parte da sua infância e adolescência em Angola, país com o qual mantém laços de cidadania bem como familiares, estando radicada em Portugal desde 1993. Estudou engenharia civil em França. Os pequenos contos foram pensados e escritos a olhar para os quadros nunca se esquecendo das suas raízes.


MBC – Para quem ouve falar do vosso trabalho somente agora, como gostariam que vos reconhecessem?
LF – Tenho gostos ecléticos, não gosto de limitações a nível criativo. Sou engenheira civil e só comecei a escrever há cerca de cinco anos. Para além da poesia os contos sempre me fascinaram. Adoro escrever tendo sempre Angola no pensamento, costumo dizer que o sotaque é como as vivências nunca se perde.
AA – Como pintora, considero-me uma fazedora de formas. Não pinto em cavalete, gosto de pintar no chão ou na mesa. Sou autodidata, indisciplinada quando encontro vida pura.

MBC – Há quem diga que os quadros deram vida ao livro, ou terá sido o oposto?
LF – Para mim a obra já existia, a vontade que tive de escrever surgiu porque os quadros ganharam vida perante os meus olhos. Sem eles os contos não existiriam.
AA – Os quadros por si só falavam.

MBC – Como surgiu este projecto em conjunto?
LF – A parceria surgiu do nada. A Armanda foi-me apresentada por uma amiga comum a Maria que achou que tínhamos tudo para dar certo e não estava de todo errada. Deixamos correr esta nossa parceria sem pressões pelo que sempre que sentir as mesmas emoções perante uma tela da Armanda continuarei a escrever.
AA – Foi uma brincadeira que surgiu do nada. Uma coisa é certa na altura não pensei que os meus quadros fizessem alguém apaixonar-se e entregar-se como o faço. O meu mundo é pintar, é desta forma que me exprimo, que faço o que melhor sei, é por esse motivo que ver os meus sentimentos transformados em palavras é por si só um engrandecimento de tudo aquilo em que acredito.

MBC – Uma frase que descreva o vosso trabalho?
LF – Fusão.
AA – Coesão.

Texto e fotos: MBarreto Condado

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