“Há momentos em que nos apetece abraçar o mundo”,
foi desta forma que a poetisa Regina Correia apresentou a autora Luísa Fresta e
a pintora Armanda Alves no seu mais recente trabalho a quatro mãos, estou a
falar do livro “Contexturas”, publicado pela editora Livros
de Ontem.
“Contexturas", é uma confortável viagem através
de um universo de emoções. Um livro composto por vinte pequenos contos todos
eles emoldurados por uma tela única. Sentimos ao folhear as suas páginas que a respiração
acelera como um despertar dos nossos próximos sentimentos tal é a harmonia
existente entre a pintura e os contos.
Através das suas páginas somos conduzidos numa viagem
ímpar por terra e por mar, onde a imaginação encontra no extraordinário o
banal, sentimo-nos parte de todo aquele teatro narrativo, imersos nas suas
páginas de onde nos recusamos sair por querermos sempre mais. De imediato notamos
a ligação das autoras à mãe natureza, à língua, ao cheiro do oceano angolano, aos
sabores, às cores de África num intrincado puzzle onde a lusofonia tem a sua
mais forte expressão na língua, também esta sempre presente nos quadros de
Armanda Alves.
Se para a Luísa os contos nasceram a olhar para os
quadros, já para a Armanda saber que as suas telas onde existe um universo que
se encaminha para o enrodilhado do tecido social e humano foi a fonte de
inspiração necessária para o nascimento de “Contexturas” é por si só motivo de
rejubilo.
Gostava ainda de vos deixar uma pequena nota
biográfica das autoras antes da entrevista que gentilmente me cederam.
Armanda
Alves é luso angolana, artista plástica vive há alguns anos em Portugal e,
durante muito tempo pintou por prazer, para si e para os seus amigos. Com vasta
obra reconhecida a nível internacional mostra toda a sua energia que passa de
uma maneira extraordinária para a tela, com o seu jogo de cores numa linha
marcadamente abstrata.
Luísa
Fresta, autora, nascida em Portugal, viveu a maior parte da sua infância e
adolescência em Angola, país com o qual mantém laços de cidadania bem como familiares,
estando radicada em Portugal desde 1993. Estudou engenharia civil em França. Os
pequenos contos foram pensados e escritos a olhar para os quadros nunca se
esquecendo das suas raízes.
MBC
– Para quem ouve falar do vosso trabalho somente agora, como gostariam que vos
reconhecessem?
LF
– Tenho gostos ecléticos, não gosto de limitações a nível criativo. Sou
engenheira civil e só comecei a escrever há cerca de cinco anos. Para além da
poesia os contos sempre me fascinaram. Adoro escrever tendo sempre Angola no
pensamento, costumo dizer que o sotaque é como as vivências nunca se perde.
AA
– Como pintora, considero-me uma fazedora de formas. Não pinto em cavalete,
gosto de pintar no chão ou na mesa. Sou autodidata, indisciplinada quando
encontro vida pura.
MBC
– Há quem diga que os quadros deram vida ao livro, ou terá sido o oposto?
LF
– Para mim a obra já existia, a vontade que tive de escrever surgiu porque os
quadros ganharam vida perante os meus olhos. Sem eles os contos não existiriam.
AA
– Os quadros por si só falavam.
MBC
– Como surgiu este projecto em conjunto?
LF
– A parceria surgiu do nada. A Armanda foi-me apresentada por uma amiga comum a
Maria que achou que tínhamos tudo para dar certo e não estava de todo errada.
Deixamos correr esta nossa parceria sem pressões pelo que sempre que sentir as
mesmas emoções perante uma tela da Armanda continuarei a escrever.
AA
– Foi uma brincadeira que surgiu do nada. Uma coisa é certa na altura não
pensei que os meus quadros fizessem alguém apaixonar-se e entregar-se como o
faço. O meu mundo é pintar, é desta forma que me exprimo, que faço o que melhor sei, é por
esse motivo que ver os meus sentimentos transformados em palavras é
por si só um engrandecimento de tudo aquilo em que acredito.
MBC
– Uma frase que descreva o vosso trabalho?
LF
– Fusão.
AA
– Coesão.
Texto e fotos: MBarreto Condado
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