A nossa vida inicia-se com uma expectativa.
Esperamos para nascer e os nossos pais esperam o nosso nascimento. Mas este
tempo entre o ser e o nascer não deve ser encarado como uma espera, porque de
facto não o é. É um formar, crescer, amadurecer, estar pronto. E todas as
partes envolvidas precisam desse tempo. É a primeira lição de vida que
recebemos, o saber esperar, dar tempo ao tempo, o necessário. Acredito que
muito do nosso temperamento se vai moldando no decorrer desse tempo que será
mais ou menos longo. A minha filha é uma despachada e decidida, leva tudo na
frente quando tem um objetivo. Assim foi ao nascer. Resolveu que estava na hora
e nasceu! Não esperou pelas 40 semanas, não esperou para chegar à maternidade e
a cada ânsia e tentativa de nascer inundou-me as calças e o assento do automóvel,
não esperou sequer que me dessem a epidural. Em contrapartida o meu filho é
mais calmo, tranquilo, sem pressas, sem stresses. Assim foi ao nascer. Ao fim
de 24 horas de atroz sofrimento, no limiar do aceitável em termos médicos, o
rapaz não nasceu, ficou à espera que o tirassem. E tiraram, com uma cesariana
de emergência.
A idade e a experiência da vida ensinaram-me a
saber esperar, mas a não ficar à espera, sobretudo, deram-me a tranquilidade
necessária a um saudável apreciar e desfrutar do tempo de espera, do tempo de
aprendizagem, do tempo de amadurecimento.
Vivemos a juventude num turbilhão de emoções. Os
acontecimentos, os sentimentos e as hormonas rebentam sobre nós como se o fim
do mundo se avizinhasse. Ansiamos com tanta intensidade viver o momento
seguinte, que por vezes não apreciamos na sua plenitude o momento presente.
Reviveremos mais tarde, com tempo e nostalgia, esses momentos.
No rolar constante e cadente de horas, dias e
anos, os acontecimentos sucedem-se e nesta corrida de obstáculos que é a vida,
quantas vezes, quantos de nós queremos chegar em primeiro lugar à meta,
esquecendo que a meta é o final do percurso?! Testemunho, com alguma amargura,
situações de pais que tudo fazem para que os seus filhos sejam os primeiros a
cortar a meta, com distinção. Afastam os obstáculos da pista, empurram os
miúdos para a volta seguinte, não lhes permitindo desfrutar o sabor e o prazer do
caminho, do superar.
Mais do que aprender que eventualmente as coisas
acabam por acontecer, que o que tiver de ser, será, aprendi a lutar por isso e,
acima de tudo, aprendi a aceitar a espera, a usufruir dela, porque o tempo
entre o querer e o acontecer é um tempo de aprendizagem, de crescimento, de
amadurecimento, um tempo de ser e de viver.
Margarida Veríssimo
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