Se decido escrever
o que se segue em plena madrugada de sábado, é por uma boa razão: deixei a
minha orelha esquerda a cozer ao telemóvel durante 2 horas seguidinhas de conversa
deprimente e perturbadora.
A causa: um
divórcio. Não o meu, (que isso já foi chão que deu uvas), mas o de uma amiga
que agora chora desalmadamente o leite derramado e não vê maneira de remediar o
mal feito. E por isso e também porque os bons conselhos nunca são de mais (e
ainda por cima, são de graça), aqui fica um especialmente dedicado à malta
casada, juntada ou amancebada, embarcada nessa conquista viking que é ter
filhos pequenos:
Excepto em caso de
doença, pesadelo, tristeza reconhecida notarialmente ou trovoada ribombante,
não deixem os vossos rebentos dormirem convosco na cama.
Caso não saibam,
desde já vos informo que não é o facto de terem filhos em comum que faz de
vocês um CASAL a sério perante os deuses, os homens ou entidades intermédias.
Não. Precisam também e em especial, de: - porta do quarto fechada + reboliço
entre os lençóis + gemidos abafados + risos atravessados + porta do quarto
aberta + pésantepés corredor fora + assaltos ao frigorífico às quatro da manhã
+ líquidos bebidos pelo mesmo copo + dedinhos do outro lambidos com esmero.
Para que tal seja
possível, ensinem o vosso filho, desde aquele primeiro dia em que o têm nos
braços, a gostar do seu próprio quarto e a confiar incondicionalmente naquelas
quatro paredes. Se preciso for, fiquem lá com ele até que perca o medo,
deitem-se no chão ou onde for, mas não o deixem invadir um espaço que é vosso (tal
esforço é uma espécie de PPR com benefícios fiscais: acabará por ser
recompensado). Caso contrário, preparem-se para um casamento incompleto,
frustrado, cortado a meio e noves fora nada.
- Pisguem-se sempre
que puderem, mas só os dois, não sejam lorpas. Têm avós, tias, amigos, baby
sitters, disponíveis para vos aturarem os rebentos durante três dias? Óptimo.
Digam-lhes bye-bye sem olharem para trás, segurem a lagrimita que teima em
cair, desapertem o coração e façam-se a uma pousada, a um parador, a uma
pensão, a uma noite ao relento. Só os dois. De preferência, dêem aos hóspedes
do quarto ao lado um bom motivo para se queixarem ao gerente, no dia seguinte.
Cheguem saciados,
de mãos dadas, sorriso imbecil agrafado no rosto e prontos para pegarem plos
cornos mais uns meses de procissão familiar e êxtases em surdina. E nunca, por
nunca, digam orgulhosamente “cá eu, não vou para lado nenhum sem os meus
filhos, se eu vou, eles vêm também.” Desenganem-se: não é por causa disso que
são melhores pais, nem que os outros vão achar que vocês são melhores pais.
Aliás, são melhores pais, quanto mais felizes forem; para serem felizes, entre
outras coisas, têm que se tocar com indecência, têm que se comer como perninhas
assadas de frango caseiro e chupar um ao outro até ao ossinho; enfim, têm que
se amar, pornograficamente, amar.
Por isso, caro/a
leitor/a: se a tua cara-metade insistir para que viajem sempre todos juntos
para todo o lado, atreladinhos uns aos outros que nem comboio de feira,
desconfia e pensa bem na vida. É muito provável que tal signifique que não quer
estar a sós contigo, daí ensanduichar os miúdos entre vocês. Não é por nada,
mas… o amor é uma chama que só arde se alimentada e por muito menos que isto,
muitas relações acabam às escuras.
Ana Kandsmar
Gostei! Porém, que não se torne hábito fundamentalista, apenas este reparo. As crianças são o melhor doo mundo e merecem viver vivências onde os pais/companheiros de circunstância partilhem felicidade.
ResponderEliminarOpahhh que chata...Adoro ler te e detesto começar a ler o que escreves porque nunca consigo "ler depois"...tem que ser AGORA!!!
ResponderEliminarE no fim penso, há quem pense como eu