Texto: Isabel de Almeida | Crítica Literária | Nova Gazeta
O Boss, de Vi Keeland, é um romance contemporâneo do género erótico, mas no qual a temática do erotismo se vai desenvolvendo de forma muito gradual e insinuante, à medida que a narrativa vai evoluindo. A história desenrola-se num ritmo narrativo bastante cadenciado e equilibrado, sem excessos nem avanços demasiado rápidos, e esta subtileza confere elegância ao livro.
Quando começamos a ler esta obra, o que logo nos conquista é o humor que Vi Keeland soube logo introduzir no capítulo inicial e que vai surgindo um pouco por todo o livro, acabando por alternar com a forte carga dramática que a história também integra.
A acção decorre em Nova Iorque, e a trama está organizada em capítulos breves (o que facilita, dinamiza e torna mais ágil o processo de leitura). Em cada capítulo vamos acompanhando o ponto de vista de cada um dos dois protagonistas: Reese Annesley e Chase Parker, e dados importantes do passado de Chase chegam até ao conhecimento do leitor com recurso a analepses que nos levam a um momento temporal onde recuamos sete anos.
Relativamente às personagens, ambas estão construídas com forte densidade psicológica, e mostram-se inseridas em dinâmicas que correspondem a diversos espaços sociais onde se movimentam: o espaço mais privado ou pessoal, o espaço empresarial ( Parker Industries, uma firma da qual Chase Parker é CEO, e na qual Reese virá a trabalhar), o espaço familiar e das amizades mais próximas ( Sam é a melhor amiga de Chase, e Jules a melhor amiga de Reese).
Reese Annesley é uma jovem executiva com formação e experiência na área do marketing, apaixonada pela sua profissão, tem alguma dificuldade em gerir relacionamentos amorosos, não tendo ainda conseguido criar uma relação amorosa duradoura, estável e que lhe permita a realização pessoal a este nível. É independente, trabalhadora, empenhada e, ao nível psicológico apresenta um comportamento que denota alguns traços de natureza obsessiva-compulsiva em relação à sua segurança pessoal, aspecto este que surge enquanto reacção à vivência de uma situação traumática na infância. É emocionalmente insegura, culpabilizando-se inconscientemente pelo seu comportamento obsessivo-compulsivo e pelo evento que o gerou e deixa que isto afecte a sua vida amorosa, pois nunca sentiu que os seus namorados entendessem esta sua preocupação com a segurança, ou que lhe dessem o devido valor, ou seja, nunca se sentiu compreendida plenamente por um parceiro naquilo que assume ser uma imperfeição que transporta consigo.
Por sua vez, Chase Parker é o exemplo de um macho alfa poderoso, sedutor e algo arrogante. É CEO da Parker Industries, uma firma dedicada à cosmética e beleza femininas que desenvolve cientificamente os seus próprios produtos, estudante brilhante, criativo e empreendedor, subiu a pulso nos negócios, por mérito próprio, e mantém um forte vínculo afectivo com a família mais próxima (designadamente, tem uma relação muito cúmplice com a irmã Anna, e com Samantha, a sua melhor amiga desde os tempos da faculdade, uma mulher forte, determinada e perspicaz, que, tal como Anna, assume uma postura cuidadora e protectora em relação a Chase. Bonito, sedutor, espirituoso, envolvente, bem humorado, rico e bem sucedido, à partida estaríamos perante a perfeição personificada, todavia, toda esta imagem de perfeição e força acabam por revelar-se uma máscara que esconde a sua fragilidade emocional. Chase lida com o fantasma de uma perda não superada, quer seguir em frente mas balança perante essa hipótese, deixando-se enredar numa forte pressão psicológica negativa , lutando por elaborar um luto do passado, e por vencer a culpa que, em determinados momentos, o bloqueia e o arrasta para isolamento social, abuso de alcool e desesperança na possibilidade de um futuro.
Chase e Reese vão, obviamente, cair nos braços um do outro, e até que tal aconteça, vamos assistindo a um delicioso e erótico jogo e sedução no escritório da empresa onde ambos trabalham. Porém, nem tudo é perfeito, e ambos são ainda assombrados por ecos traumáticos dos respectivos passados, o que pode deitar a perder um futuro que seria bastante promissor.
É interessante notar que o livro tem tanto de comédia romântica, quanto de drama, e tem dois protagonistas que não são perfeitos, o que nos faz, desde logo, empatizar com Reese e com Chase. A culpa (em diferentes contextos traumáticos) e a aceitação de imperfeições em si mesmos e nos outros vão ser conceitos chave na evolução dos personagens.
Em suma, estamos perante um romance erótico que nos traz muitos bónus: romantismo, sedução, humor, drama, tensão, culpa, superação e aceitação, e é precisamente esta mistura de ingredientes tão rica que torna este livro muito especial e apaixonante. Vi Keeland é uma aposta ganha em termos editoriais e constitui uma boa escolha para levar de férias. Adorámos e queremos mais livros desta autora!
Ficha Técnica:
Título: O Boss
Autora: Vi Keeland
Editora: Topseller | Grupo 20|20
Edição: Julho de 2017
Nº de Páginas: 320
Género: Romance contemporâneo | erótico
Classificação: 5/5 estrelas
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