A polémica é recente, o programa
televisivo que lhe deu origem também, mas o problema de fundo que veiculou tudo
isto talvez não seja tão novo assim. Tem crescido ao longo de décadas e é algo
que tem inquietado a minha mente em diversos aspectos, qual monstro que um dia
nos vem assombrar os sonhos.
Qual é a novidade de crianças
mais ou menos problemáticas e birrentas? Nenhuma. A novidade está nas nossas
vidas a mil, na valorização exacerbada do multitasking, na busca cada vez mais
incessante do ser-se perfeito – quando já somos perfeitos nas nossas imperfeições,
pois a vida é uma aprendizagem, e nem nos damos conta -, no querer cada vez
mais, sem limites, levando-nos a um estado de exaustão onde algo tem que,
obrigatoriamente, ficar para trás. Curiosamente, normalmente o que é relegado
para segundo plano é, inconscientemente, aquela parte das nossas vidas a que
deveríamos dar mais tempo e paciência: a nossa família e a formação dos nossos
filhos. Formar e educar uma criança é algo extremamente sério e que obriga a
uma disponibilidade física e emocional muito grande, algo que, nos dias de
hoje, sejamos francos, a maioria dos pais não tem; não por culpa deles, bem
entendido, mas por culpa do sistema de vida, que obriga a que estejamos
disponíveis para tudo menos para aquilo que, de facto, mais importa para o ser
humano: os afectos, os laços familiares profundos, aquela estrutura inabalável
onde todos se respeitam e admiram mutuamente e que produz seres humanos capazes
e dignos desse nome.
À falta de tempo e de paciência,
delega-se o acompanhamento e a educação – erradamente - para os professores,
para os vários educadores, para quaisquer terceiros – incluindo programas
televisivos - que nos aliviem o fardo que carregamos diariamente na alma. E os
miúdos apenas querem e precisam dos seus pais, devidamente disponíveis para
eles. Sim, há crianças extremamente difíceis de educar; sempre houve; o que não
havia era a falta de respeito, de formação, de amor e admiração pelo outro.
Quem nasceu até ao fim da década
de 80 sabe que as “Super Nannies” sempre existiram. Davam todas pelo mesmo
nome: mãe, e bastava um olhar mais sério para se sentir um formigueiro interior
– respeito -, ao mesmo tempo que rapidamente se vasculhava a mente à procura de
alguma falta. Elas resolviam qualquer problema, na hora, e quando sentiam que o
caso ultrapassava os seus poderes pediam ajuda, sim, mas sem alaridos, sem dar
a conhecer ao mundo a vida familiar, sem nos fazerem sentir miseráveis e alvos
fáceis dos nossos amigos na escola. E nós amávamo-las e respeitávamo-las por
isso e tudo o mais. Era Deus no céu e a nossa mãe, a nossa “Super Nanny”, na
terra.
O sistema de vida permitia que
elas existissem em todo o seu esplendor. Nós, crianças, depois jovens adultos, verdadeiros
seres humanos em formação, crescíamos felizes, sentindo-nos protegidos,
amparados e amados, apesar dos raspanetes, castigos e olhares mais duros,
muitas vezes, que não maculavam, em absolutamente nada, os valores incutidos
diariamente.
Mas o mundo e as suas
necessidades mudaram, dirão. Com certeza que sim. Seria uma parvoíce não
perceber e aceitar essa realidade. O que se pode questionar é se ao mudarmos o
fizemos de forma estruturada. Não deveríamos tentar encontrar um meio-termo? Tentar
melhorar o sistema de vida, de modo a ser possível colmatar essa falha, tão
essencial ao equilíbrio das nossas crianças e do futuro de todos nós? Será
legítimo sujeitar os nossos filhos à humilhação de toda a gente ver a sua vida
exposta num écran de televisão? em situações que todos nós, depois do momento
passado, gostaríamos de apagar das nossas vidas?
Já diz o velho ditado: é no meio
que está a virtude.
Os extremos nunca prestaram para
nada.
Concordo..... actualmente o grande problema são os extremos.... ou se banaliza tudo e mais alguma coisa ou se eleva até à potência máxima e se cai no exagero e na verdade no meio é que está a virtude.
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