Este é um tema que me tem dado
uma boa dose de inquietação, pela sua crescente transversalidade ao ser humano,
contemplando crianças e adultos. Desde as barbaridades das guerras à corrupção
em todas as áreas, passando pela notória falta de paciência e agressividade do
cidadão comum, até ao bullying juvenil e, até, infantil.
É certo que guerras e elementos
sem brio e ocos de emoções sempre houve, o hoje chamado bullying também e a
natureza humana sempre gostou de ter e ostentar poder, mas creio que ainda
existiam alguns limites que, nos dias que vivemos, já foram amplamente
ultrapassados. Aquilo que verifico, actualmente, enquanto observadora atenta do
que me rodeia, é que todos os valores morais de que éramos imbuídos desde o
berço estão a desaparecer. O respeito, a honra, a honestidade, a abnegação, o
esforço e a empatia estão a dar lugar aos seus opostos. Estamos a esquecer-nos
do que significa ser humano, do verdadeiro e enorme significado que essa
palavra encerra.
Os adultos estão demasiado
ocupados em conseguir os meios para ter e dar uma vivência cada vez mais
materialista e de ostentação; querem ser e ter mais e melhor; são desafiados a
isso, pelo sistema perfeitamente montado para efeito e crêem – falsamente –
serem recompensados por tanto esforço, por relegarem as famílias para segundo
plano, por abandonarem as bases morais, os alicerces com que os seus pais os
dotaram para enfrentarem os desafios da vida. Fazem desmoronar os princípios
básicos da sustentabilidade de uma sociedade pacífica e próspera para todos e
dão início às fundações da anarquia e do caos. O comodismo e a inércia
instalam-se e permitem-se serem guiados – usados – por pares completamente
cegos pelo poderio e viciados no sofrimento alheio.
Os miúdos, completamente desacompanhados,
crescem sem qualquer noção do que é viver em sociedade, do que custa ter e
manter uma vida minimamente confortável e honrada. Tornam-se insensíveis e
desligados de emoções positivas; regridem às emoções primárias, as anteriores à
evolução, aquelas que nos permitem a defesa e o ataque e tomam-nas como
princípios essenciais à vivência. São o produto perfeito dos seus desgastados e
hipnotizados pais. E são, também, o futuro, os percursores da nossa espécie. Pergunto-me
que valores, que vivências, que experiências irão construir o futuro; o que
passarão aos seus próprios filhos; que legados deixarão.
A nossa história tem algumas
figuras completamente maquiavélicas, ao longo dos tempos, mas nunca se viu
tantos exemplos de prepotência e desumanidade como agora. Temos líderes
mundiais que afirmam que a forma de combater a violência armada é armando,
ainda mais, o cidadão comum; outros querem, a qualquer preço, ter o melhor
armamento e divertem-se a espicaçar e a ver o resto do mundo a tremer de medo e
de raiva, enquanto fazem mais um teste nuclear aqui, outro ali; há aqueles que
torturam e matam em nome de uma qualquer crença religiosa e perpetuam no tempo
guerras e acossamentos infindáveis; pululam os corruptos, os oportunistas e
ladrões, que não hesitam em espezinhar quem se atravesse no seu caminho para
travar os seus objectivos.
E o cidadão comum é liderado por
estes exemplos a negativo da essência humana. Torna-se também ele frio e
calculista – a necessidade aguça o engenho; torna-se, também ele, o exemplo a
não seguir.
Na base da pirâmide estão os
jovens e as crianças. E eles crescem a violentar física e psicologicamente os
pares e os parceiros de vida, cada vez mais cedo; a matar pais e irmãos; a
descartar os mais velhos já a necessitar de amparo e empatia – algo que não
conhecem. Perdem-se para a vida, pois não vivem, apenas sobrevivem.
Lembro-me de há vinte ou trinta
anos ver alguns filmes de ficção científica que retratavam um futuro
apocalíptico, de paisagens cinzentas pela destruição em massa, onde o sol se
tinha eclipsado há muito, despojado de sentimentos e dominado pela necessidade
primária da sobrevivência a qualquer custo. Na altura pensei que eram
representações sem qualquer sentido. Quem, no seu juízo perfeito, seria capaz
de tais atrocidades?, de se destruir a si próprio?! Hoje, infelizmente para
todos nós, penso que os criadores desses cenários foram verdadeiros
visionários.
Não nos podemos esquecer que
somos uma espécie privilegiada: temos a opção da escolha e “damos cartas” nesta
ainda maravilhosa bolinha azul. Podemos sempre escolher entre o certo e o
errado, assim tenhamos as bases para isso.
Chegamos ao ponto em que se impõe
uma única pergunta, que pode mudar o rumo da nossa espécie, de todo o planeta:
vamos escolher viver confortavelmente ou sobreviver no caos? A escolha é mesmo só
nossa e começa em cada um mas… não por muito tempo.
Crónica muito bem escrita, um tema muito actual e interessante que nos leva a reflectir....quanto maior é progresso do homem, maior é a sua auto destruição infelizmente. Fico com uma sensação de tristeza e de angústia por me sentir impotente perante tanta desumanização. Apetece gritar "será que que chegou a hora de inventar outra humanidade?"
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