Enquanto
procurava um tema para a crónica desta semana, cruzei-me por acaso com um video
nas redes sociais que me despertou a atenção: a história de um cão que, de cada
vez que era passeado pela dona, recolhia gentilmente com os dentes pequenas
minhocas perdidas no asfalto e as libertava no relvado mais próximo. Dei por
mim a pensar que talvez a história por trás deste comportamento peculiar
merecesse ser contada, e acredito que terá sido mais ou menos assim:
Desorientada
e sem conseguir ver, a pequena minhoca deu por si a ferir o focinho sensivel no
asfalto, demasiado sólido para poder ser perfurado por um animal tão pequeno.
Achando que se tratava de uma pedra, avançou na esperança de a contornar e
regressar às profundezas da terra que tão bem conhecia, mas por muito que
avançasse a pedra parecia não ter fim e ficava cada vez mais quente. Prestes a
ficar queimada, entrou em desespero e formulou uma prece:
- Terra,
mãe que embala todos os seres vivos e lhes permite crescer, se for essa a tua
vontade permite que me salve e regresse à segurança do teu seio.
O asfalto
cada vez mais quente começava a queimar o pequeno corpo sensivel da minhoca, e
nada aconteceu. Continuando sempre a avançar, porém, resolveu tentar de novo:
- Terra,
mãe que embala todos os seres vivos e lhes permite crescer, se for essa a tua
vontade permite que me salve e me junte às minhas irmãs para continuar o meu
trabalho a fertilizar e oxigenar o teu leito.
A resposta
tardava em chegar e começava a ser cada vez mais doloroso para ela avançar no
asfalto fervente, fustigado pela luz do sol. Contudo, não se podia permitir
desistir. Não entregaria a sua vida, que lhe era tão preciosa, sem se encontrar
para lá de toda a esperança.
De súbito,
os raios de sol deixaram de lhe queimar a pele, e sentiu um corpo húmido pressionar
o seu corpo gentilmente. Já desidratada, decidiu que a proximidade da morte lhe
estava a provocar alucinações e preparou-se para desistir. Porém, no momento
seguinte sentiu que o solo escaldante desaparecia debaixo do seu corpo e que se
erguia no ar, liberta da gravidade. Demasiado esgotada para se debater,
deixou-se levar e sentiu pela primeira vez a brisa acariciando o esguio corpo
cansado. O ar fresco renovou-lhe os sentidos e percebeu que estava a ser carregada,
algo ou alguém a tinha erguido acima da morte certa. No momento seguinte, o
cheiro fresco e que tão bem conhecia da erva molhada apoderou-se-lhe dos
sentidos e renovou-lhe a esperança, mas ela não sabia o que esperar. Apenas
quando se sentiu pousada com cuidado na relva húmida e sentiu de novo a carícia
da terra nos anéis do seu corpo ela percebeu que estava salva, e que as suas
preces tinham sido ouvidas. De súbito, uma voz:
- Estás
bem? Consegues regressar ao interior da terra?
Ainda não
refeita da sensação da terra molhada no seu corpo, respondeu:
- Quem és
tu? Porque é que me salvaste a vida?
O cão
castanho sacudiu o corpo peludo e aproximou dela o focinho, dizendo:
- Sou
alguém que ouviu as tuas preces, nada mais.
A pequena
minhoca ergueu no ar o focinho cor-de-rosa e disse-lhe:
- As minhas
preces? Tu ouviste as minhas preces?
O pequeno
cão sorriu e olhou para trás, onde uma senhora de olhos brilhantes lhe segurava
a trela, maravilhada com o que estava a acontecer. E respondeu:
- As minhas
preces também foram atendidas, um dia. E nesse dia eu compreendi que quando nos
cruzamos com alguém que precisa de ajuda, nos transformamos nos braços da Terra
para lá chegar.
Com tanta informação, e de porta aberta, é preciso muita luta para se afirmar. O êxito depende mais do esforço que do acaso. É preciso capacidade de luta e os jóvens de hoje, têm de trabalhar muito para triunfar.
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