Nestes
últimos dias, muito se tem falado na tempestade Félix. E, no entanto, apesar de
já ter sentido na pele as circunstâncias adversas deste fenómeno meteorológico,
não consigo evitar fazer associações positivas no que toca a esta tempestade. Afinal
de contas, a minha estreia no mercado literário ficou a dever-se a um gato
preto com o mesmo nome, um gato que me ajudou a encontrar o meu caminho porque
tive que o perder. E por isso mesmo, esta semana a nossa crónica desenrola-se
mais ou menos assim...
Perdoem-me
os não crentes, mas os animais que amamos não morrem. Desculpem, serei mais
específica: não caem no vazio da não existência quando fecham os olhos pela
última vez. Sim, é verdade que custa horrores quando partem e deixamos de os
poder ouvir, ou de lhes poder tocar (isto porque no que toca à visão, por vezes
se estivermos com atenção conseguimos vê-los pelo canto do olho) ..., mas eles
não morrem. Na verdade, a primeira coisa que fazem assim que percebem o que
lhes aconteceu é procurar-nos, e quando nos encontram acontecem duas coisas
engraçadas: primeiro, percebem que não precisavam de procurar porque fora do
corpo, a distância deixou de existir; e depois, que agora é muito mais simples
falar-nos de amor, porque a nossa voz agora é a mesma.
Na vida
muitas vezes nos cruzamos com frases feitas para amenizar a perda ou a
distância, e os mais sensíveis de nós muitas vezes encontram sinais. Claro que
na maioria das vezes os ignoramos porque “não é normal”, ou “vão achar que não
sou certa da cabeça”, ou ainda porque o nosso cérebro está programado para
desvalorizar tudo o que fuja à realidade de todos os dias, essa realidade com a
qual a nossa vida em sociedade nos impregnou. Mas acreditem, eles existem.
“Mas se
esses sinais são reais, porque são sempre tão subtis e dificeis de comprovar?”
Porque, meus caros, o livre arbítrio dita que devemos decidir acreditar neles,
mesmo que o resto do mundo teime em os desacreditar. É esse o objectivo da
vida, esculpir a pessoa que somos quando chegamos ao mundo, por intermédio de
decisões que por vezes desafiam toda a lógica ou conceitos pré-concebidos. E
porque existem coisas na vida que são só nossas, não sujeitas à validação ou
compreensão dos outros.
E é por
conta disto que hoje vos escrevo, porque existe uma tempestade a assolar o
nosso país que se chama Félix.
Para
terminar, um pequeno aparte que acho importante acrescentar:
Tudo nesta
crónica pode estar errado.
E vocês, em
que acreditam?
Acredito que a ciência, com toda sua metodologia e sua lógica, nem mesmo ela consegue explicar com exatidão nossos sentimentos, nossas paixões, nossas conexões. Mesmo nas Ciências Sociais, não há consenso. O consenso, na verdade, mora em nosso coração, no que cada um sente e tem para com o cão, o gato, o pássaro, as pessoas. Se temos certeza de nosso amor e de nossa conexão, já o basta para sermos quem somos: Seres sensíveis, que amam e convivem com outros seres iguais, por mais que não pareça.
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