É comum deparar-me com crianças e jovens que resistem à leitura de textos ou livros, e que consideram ler "uma seca", mesmo entre adultos, conheço vários que preferem mil vezes "ver o filme" do que "ler o livro".
Para um leitor viciado, para um bibliófilo, é deveras estranho perceber estes fenómenos de resistência e não apetência pela leitura de um bom livro, mas hoje decidi partilhar com o mundo alguns dos aspectos próprios dos nerds ou "cromos" dos livros, aquele tipo de particularidades e pequenos dramas que só quem tenha a mesma paixão consegue entender, mas que irá, certamente, causar ataques de riso a quem não padeça desta doença que dá pelo nome de bibliomania crónica.
Aqui seguem, em rigoroso exclusivo, algumas confissões de uma "livromaníaca":
1. Ao contrário do que a família e alguns amigos possam pensar, não é concebível para nós a ideia de "ter livros a mais", independentemente do espaço, há sempre recursos muito imaginativos em termos de decoração para fazer instalar mais uma estante, ou invadir outros móveis com pilhas de livros, um pouco por toda a casa, ou por todas as casas ( se acaso tivermos acesso a mais do que uma casa).
2. Assim que se avizinham novidades editoriais aumentam consideravelmente os níveis de ansiedade literária, aquele formigueiro que só acalma quando temos o desejado livro nas mãos, mas, adivinhem, assim que um dos muito desejados chega, muitos outros se lhe seguem, por isso a nossa wishlist é algo assim a rondar o infinito, é uma história nunca acabada.
3. Para nós os livros são verdadeiros objectos de culto, amuletos, parte da família, portanto uma das grandes tragédias que podem suceder e deixar pesadas marcas psicológicas são: emprestarmos livros e a) não serem devolvidos b) serem devolvidos estragados (e isto equivale a qualquer pequena marca na capa, marcas deixadas por animais, manchas de água ou outros líquidos, lombadas partidas, páginas dobradas, sublinhados, cantos amolgados, rasgões em qualquer parte). Um livro estragado é algo capaz de nos provocar uma síncope cardíaca, acreditem.
4. Na sequência do tópico anterior, há aqueles momentos infelizes em que nós próprios estragamos os livros, uma das situações mais usuais pode ser uma simples queda que irremediavelmente causa danos irreparáveis (lombadas e cantos amassados), o que sentimos? Raiva de nós mesmos, um impulso de auto-mutilação e, sempre que possível, fazemos substituir o exemplar danificado por outro novinho em folha (Verdade ou mentira meninas?).
5. Agora imaginem o seguinte cenário: um livro tem várias edições ( podem ser da mesma editora ou e editoras diferentes) pois bem, podemos ter várias edições que são rigorosamente do mesmo livro, por questões tão variadas como: há edição de bolso ( que comprámos num saldo, por exemplo), há edição de tamanho standard em capa mole, mas passados meses ou anos sai uma edição em capa dura ou com a capa que corresponde ao cartaz de filme ou série inspirado no livro, é lançada uma edição especial comemorativa, por exemplo, do aniversário da publicação do livro. Pois bem, é certo e sabido que iremos querer ter um exemplar de cada tipo de edição dos mesmos livros, se estes integrarem a galeria dos especiais ( Um exemplo aqui em casa, existem várias edições de "Os Maias", a edição de luxo que integra a colecção das Obras Completas de Eça de Queiróz, e depois várias edições escolares que têm anotações e são "de trabalho").
6. Um momento solene é aquele em que, perante a perspectiva de irmos passar algum tempo fora de casa, é preciso seleccionar que livros levar. Fazemos uns esforço, a sério! Juro que tentamos ser comedidos na quantidade de livros a transportar para um simples fim de semana em casa dos primos, mas temos de ter por onde escolher, e como tal, levamos sempre uma boa quantidade de livros, superior ao tempo que teremos disponível para ler.
7. Contamos os dias, meses ou anos necessários para ler o livro que se segue nas séries de livros que seguimos (pessoalmente considero uma série, tudo o que ultrapasse os quatro livros relacionados com a mesma narrativa), e hiperventilamos quando está mesmo quase a sair mais um livros dos nossos autores preferidos.
8. Adoramos ter exemplares autografados pelos nossos autores de eleição, e portanto, somos capazes de passar muito tempo em amena cavaqueira, com muitas selfies e garrafas de água à mistura, em filas na Feira do Livro de Lisboa só para termos o privilégio de conhecer e falar com os nossos ídolos literários, e quem sabe, tirar uma foto na sua companhia, onde ficamos, inevitavelmente, com aquele ar embevecido por termos conseguido realizar um sonho.
9. Há muitos momentos em que nos transformamos em criaturas anti-sociais, porque precisamos mesmo de esquecer a loucura do mundo em que vivemos, e ficarmos no sofá a ler, ao invés de termos de ir aquele jantar chato para o qual nos convidaram, mas não temos paciência.
10. Nunca conseguimos esconder a alegria, melhor dizendo, o êxtase, de receber um novo livro, bem como a desilusão quando achávamos que a família, a cara metade ou os amigos tinham seguido as pistas e escolhido o presente ideal (aquele livro que queríamos mesmo), e afinal criámos falsas expectativas.
11. Um dos meus sonhos secretos é fazer um retiro prolongado para poder ler a um ritmo bem mais acelerado que que aquele que consigo manter.
12. Pronto, e este último tópico é polémico, não é consensual mesmo entre leitores, mas eu sou jurássica, confesso, não consegui ainda habituar-me aos livros electrónicos e porquê? Ok malta, é verdade, num livro electrónico faltam aspectos essenciais como: poder percorrer a textura ou o relevo das letras na capa do livro, o perfume inigualável dos livros antigos, ou o cheiro a tinta acabada de imprimir, e a textura do próprio papel em que o livro esteja impresso. Sim, é verdade, está na hora de confessar ao mundo que o cheiro dos livros é algo a que sou deveras sensível!
E o leitor, qual foi o último livro que leu? Quem são os seus autores preferidos? Que livro me recomendaria? Quero saber tudo!
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