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domingo, 1 de abril de 2018

CRÓNICA | Celebrar a vida | CRISTINA DAS NEVES ALEIXO



Aproximando-me de mais um aniversário, dei por mim a recordar as muitas coisas que já fiz, vi, conquistei, perdi e as boas, e as menos boas, sensações que experimentei em tantas situações – será que é a isto que chamam o balanço de vida?, bolas, devo estar mesmo a ficar velha. Pensei mesmo que, caramba, já vivi muito, afinal, meio século é realmente muito tempo, apesar de nos parecer sempre pouco. Tendemos a pensar que o tempo não nos chega e que é injusto envelhecermos e morrermos. Na realidade tudo tem um ciclo, um tempo próprio de duração; basta olhar em volta com atenção para constatar que assim é; porque haveria de ser diferente connosco?

Sempre acreditei que a vida - a par da saúde e do amor -, é o que de mais precioso temos e, por isso mesmo, deve ser celebrada, pelo que nunca percebi muito bem as pessoas que dizem detestar comemorar os aniversários. Não será motivo de comemoração o facto de estarmos vivos?! Assinalar um aniversário significa que vivemos mais um ano e que estamos prontos para abraçar outro. Será que a pele que se vai engelhando, as rugas que vão aparecendo, são mais importantes do que tudo o que a vida tem para nos oferecer? O facto de existirem demonstra, precisamente, o muito que já fizemos, sentimos e aprendemos e isso deve ser motivo de orgulho. Só se vive realmente através das sensações, do número de vezes em que os pêlos se nos eriçam de prazer, de expectativa, de receio, de amor… não através das aparências, pois são ocas, fugazes, desprovidas de autenticidade e o tempo… é imparável, não o podemos controlar, por muito que queiramos; façamos dele um aliado e não um inimigo; desfrutemos dele ao invés de andar a combater moinhos de vento.

Admiro as pessoas que apesar das contrariedades tentam sempre viver com gosto. Aplaudo de pé os que não se dão por vencidos e que fazem dos obstáculos ensinamentos e desafios a ultrapassar. São tantos os que não têm braços, pernas, visão e tantas outras coisas que damos como garantidas e que poderiam condicionar a sua vontade de viver com alegria e, no entanto, todos os dias se propõem a superar-se com um sorriso nos lábios e uma vontade férrea. São eles que inspiram outros e que fazem a diferença na vida de milhares.

Percebo a ideia que alguns têm de que quanto mais tempo vivemos mais nos aproximamos do inevitável fim - se bem que ninguém possa dizer quando partirá, se será mais cedo ou mais tarde -, mas, por outro lado, não consigo perceber quem vive a pensar na morte. Essa será, sem dúvida, uma vivência muito triste, desapegada de tudo o que nos impulsiona a ir mais longe, daquilo que nos faz arriscar e vibrar, do prazer puro de existir. Esses são aqueles que não percebem que começamos a morrer no exacto momento em que somos concebidos; são os que, por muito tempo que vivam, não percebem que a vida é apenas uma fracção de tempo para ser apreciada o melhor possível; são os que tentam enganar a inevitabilidade e se lamentam por não serem imortais, sem compreenderem que somos imortais através do que realizamos; são os que já estão mortos e não o sabem.

“Na natureza nada se cria, nada se perde, tudo se transforma.”
Antoine-Laurent de Lavoisier

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