Se há
coisa que gosto de comer é fruta. Não sou o chamado “bom garfo”, no sentido em
que como para viver e não o contrário, mas a fruta é uma das minhas perdições.
Numa das minhas incursões a uma superfície comercial para me abastecer da dita,
deparei-me com as bancadas repletas de frutos brilhantes e convidativos. “Vamos
lá ver se é desta”, pensei, e acerquei-me das ameixas. Assim que lhes toquei…
estavam verdes, mais uma vez. Suspirei. Passei ao melão, às uvas, às maçãs, aos
kiwis… tudo completamente impróprio para consumo. Abanei a cabeça em
desaprovação, enquanto o meu pensamento tomava as rédeas e cavalgava a toda a
brida pelas razões mesquinhas que, actualmente, levam os produtores a criar
tudo à pressão. Desabafei verbalmente qualquer coisa a propósito, enquanto
passeava o olhar desolado pelas cores à minha frente.
- É para
amadurecer, minha senhora – ouvi ao meu lado.
Mas o
que… dei conta do zumbido nos ouvidos, virei meio corpo e tive uma visão turva
de uma mulher jovem, vestida com a farda do estabelecimento, que dispunha mais
maçãs encortiçadas no expositor.
- Eu
compro fruta para comer, não para decorar a fruteira e depois deitar fora –
respondi-lhe enfadada.
Encarou-me
com um olhar perdido, como se não percebesse minimamente o que lhe tinha
acabado de dizer. Encolhi os ombros, enquanto constatava que era uma perda de
tempo tentar explicar-lhe que a fruta naquelas condições, colhida muito antes
de tempo, não amadurece; que uma coisa é inspirar o aroma natural à medida que
nos aproximamos dos frutos, sentir a sua maciez na ponta dos dedos,
deleitarmo-nos com a suavidade da polpa e a abundância de sumo ao serem
trincados e outra, bem diferente, é fruta rija, sem cheiro, encortiçada e que
não sabe a absolutamente nada. Ultimamente só encontro o segundo cenário. Que
saudades da fruta criada naturalmente.
Virei-me
e vim-me embora, sem nada nas mãos, enquanto pensava que o dinheiro move
realmente tudo. Por ele até nos matamos lentamente ao produzirmos verdadeira porcaria
para consumirmos, carregada de hormonas de crescimento, antibióticos,
pesticidas, conservantes e outras substâncias nocivas, apenas para criar e
vender mais rápido e em maior quantidade. Nós acordamos os cancros que nos
assolam e matam. Tentamos, por todos os meios, controlar e manipular o tempo e
a vida, esquecendo-nos que o melhor plano já foi traçado há muito tempo.
Chama-se natureza.
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