Quando somos jovens desejamos crescer
e tornarmo-nos adultos. É um dos desejos mais fortes e mais comum à maioria.
Acreditamos que esse estatuto nos abrirá definitivamente a porta para
decidirmos e fazermos tudo o que quisermos, da forma que quisermos, sem “dar
cavaco” a ninguém. Cremos que seremos donos e senhores dos nossos destinos, da
razão e transpiramos idealismo por todos os poros.
Depois crescemos, alcançamos o
almejado lugar na sociedade e vivemos o resto das nossas vidas a desejar ser
crianças. Passamos de idealistas a saudosistas e lamentamos o pouco tempo
vivido em brincadeiras e interacções despreocupadas e isentas de julgamentos.
Algo
está muito errado, creio. E não acho que seja porque o período da meninice é
curto, mas sim pela forma como o vivemos e, mais importante, somos preparados
para a etapa seguinte.
Senão vejamos: nessa fase ocupamos
noventa por cento do tempo a ser programados para o futuro, para uma promessa
de vida maravilhosa e plena, e dez por cento a brincar e a dar asas à criatividade
com que todos naturalmente nascemos. Somos constantemente bombardeados com a
definição instituída das boas maneiras – leia-se o politicamente correcto -,
para seguir todos os “bons” exemplos e normas, ao invés de aceitarmos e nos
complementarmos com as diferenças, pensarmos pelas nossas cabeças e fazermos
algo para mudar o que está errado. Desde tenra idade é-nos imposto um modelo
educacional semelhante ao cinzentão modelo empresarial vivido diariamente pelos
adultos, com uma carga horária muito superior à que devia ser praticada, onde o
tempo que se dedica ao estudo ocupa a grande parte dos nossos dias, impedindo-nos
de sentir o outro, a chuva e o sol na cara, de descobrir o mundo que nos rodeia
com todos os sentidos, de pulsar em uníssono com o planeta e somos muito mais
repreendidos do que elogiados.
Não admira que em miúdos desejemos
ser adultos, com a esperança de finalmente sermos livres para podermos respirar
e sonhar.
O problema é que aí chegados
percebemos que o futuro prometido era um embuste, que as cores se desvaneceram
com a educação automatizada e, extenuados que estamos pela lavagem cerebral
constante, baixamos os braços e passamos a viver a preto e branco, resignados, iguais
a todos os outros, apontando o dedo quando todos apontam e aplaudindo, sem
convicção, quando todos aplaudem.
De vez em quando, num ou noutro
segundo, as cores, a nossa essência adormecida, espreitam e recordamos com
saudade o tempo em que nos sentíamos capazes de tudo, para imediatamente
pensarmos que já é demasiado tarde.
O
mais curioso é que ao termos filhos nada fazemos para quebrar este ciclo de
destruição da essência humana e da felicidade.
Ao
invés, tornamo-nos parte da máquina na aniquilação dos sonhos e da verdadeira
realização.
Somos
a maldita máquina.
Somos
crianças presas e perdidas em corpos crescidos.
“Miúdos e graúdos: se nos deixarmos
revisitar, de vez em quando, pelo mundo encantado tornamo-nos pessoas melhores
e mais felizes.”
in Joaninha e o jardim encantado. Cristina Das Neves Aleixo.
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