sábado, 14 de julho de 2018

REFLEXÕES OCASIONAIS | As redes sociais, o chá... e a falta de chá!| ISABEL DE ALMEIDA

Quem, por razões profissionais ou de lazer, seja frequentador assíduo de redes sociais vai certamente identificar-se com as reflexões que hoje aqui partilho.

Sou, desde há longos anos, adepta das redes sociais, e frequento as mesmas quer enquanto profissional, quer como cidadã anónima, e devo reconhecer que as mesmas constituem, para o bem e para o mal, um poderoso instrumento de comunicação e de divulgação de informação mais ou menos pertinente, apresentando para mim a enorme vantagem de permitir manter uma ligação em tempo real com familiares, amigos, colegas de trabalho ou público em geral.

Todavia, são também um espaço privilegiado para situações menos agradáveis, e alguns casos, acabam por, inusitadamente, revestir a natureza de instrumentos para práticas menos elegantes, para desferir ataques à honra e consideração de terceiros e, de forma deveras interessante, acabam por ser um excelente observatório de personalidades, atitudes, sensibilidades, opiniões, modos de vida, e.t.c.

Creio poder afirmar, sem exagero, muito embora isto possa chocar algumas pessoas: "Diz-me como te comportar nas redes sociais e dir-te-ei quem és!" Podemos contra argumentar que muitos utilizadores das redes acabam por recorrer também a perfis falsos com o objectivo de se introduzirem em certos meios (é muito comum este tipo de postura em grupos de profissionais de várias áreas, como Direito,  Política, Comunidade, Ensino, Psicologia, Jornalismo, e.t.c.) com o fito de observar sem ser observado, proferir livremente opiniões polémicas e até ofensivas (em muitos casos) sem que estejam sujeitos a qualquer penalização, ou apenas com um prazer perverso de enganar os pares ou supostos pares, criando uma "persona" muito diversa da realidade, tendo em linha de conta o contexto que circunda e onde se movem estes indivíduos.

Um dos fenómenos que mais me intriga é a facilidade com que, a coberto da protecção de um ecran de computador, e escudados na ausência do contacto pessoal (que poderá ou não vir a ocorrer) muitos utilizadores das redes não hesitem em partir para a ofensa gratuita, para descarregar frustrações, mágoas, dar  livre curso a pequenos ou grandes ódios de estimação, opinar esquecendo o respeito devido por opiniões diversas.

Já li comentários insultuosos, provocatórios, intimidatórios, jocosos, sarcásticos, e devo reconhecer que eu própria já fui, em contextos profissionais diversos, vítima de insultos nas redes sociais, que me levaram a recorrer à punição social suprema que equivale ao ostracismo - sim, confesso que já me vi forçada a bloquear e remover amizades no Facebook! Devo ainda mencionar que esta opção só é por mim seguida quando as intrusões ou comentários em posts meus ultrapassam os limites do tolerável em termos de educação!

Mea culpa, eu própria já fiz desabafos e comentários quanto a situações que me desagradem, mas tenho por princípio inabalável nunca abandonar a necessária urbanidade, nem o respeito para com o próximo, ainda que estejamos em desacordo! 

Terei de confessar que, recentemente, em dois contextos diversos, assisti a verdadeiros combates virtuais, com insultos gratuitos e nítida ausência de urbanidade em, pelo menos, dois contextos diversos: durante o período da campanha eleitoral para as últimas eleições autárquicas (em grupos de comunidades/localidades no Facebook) e, nos últimos meses, em grupos frequentados exclusivamente por juristas ou advogados. Em especial este segundo contexto, porque entra em rota de colisão directa com normas estatutárias e deontológicas do exercício da advocacia, causa-me especial perplexidade e indignação! Quem me conhece e/ou quem me lê, sabe que não hesito um momento em assumir uma posição crítica perante temas mais ou menos polémicos, nomeadamente no domínio profissional, todavia, em consciência, tenho o grato prazer de poder afirmar que nunca, em momento algum, ultrapassei os limites da razoabilidade, nunca perdi o rumo da urbanidade e continuo a acreditar que é possível discordar e debater ideias opostas de forma assertiva, civilizada, construtiva numa atitude de crítica reflexiva e honestidade intelectual que muito prezo!

Donde, quando me deparo com situações abusivas, desrespeitosas e ofensivas nas redes sociais, primeiro fico chocada e indignada, depois do choque (que ainda consegue surpreender-me nuns laivos de ingenuidade em que quase não me reconheço) admito que há situações para as quais não há outra solução a não ser ignorar, seguir em frente e admitir, como diz com humor um amigo meu, que é tudo uma questão de "chá", nem todas as pessoas, e isto independentemente da respectiva formação académica, tiveram o enorme privilégio de "beber chá quando eram mais novos!"  É um lugar comum, mas deveras pertinente, reconhecer que formação (académica) nem sempre é sinónimo de educação, infelizmente!

"O homem não é nada além daquilo que a educação faz dele."

Immanuel Kant


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