domingo, 30 de setembro de 2018

REFLEXÕES OCASIONAIS-Especial | O jogo das cadeiras | ISABEL DE ALMEIDA e CARMEN COUTINHO MATOS


Mais uma novidade na rubrica, mensalmente teremos um autor convidado para o desafio de escrever uma reflexão conjunta. Desta feita, a Dra. Carmen Matos aceitou o nosso desafio! Segue-se uma reflexão em parceria!


O JOGO DAS CADEIRAS

Vivemos numa sociedade que se diz moderna mas na verdade oculta em si um lado, profundamente, obscuro, o “lado lunar”, o “dark side” parece começar a fazer parte da maioria da humanidade, a aparência começa a sobrepor-se à essência, nada é certo, tudo é volúvel, mutável, instável e… pouco fiável.

Diante de uma era muito cuidadora e zelosa dos seus direitos são precludidos os seus deveres e assim, sem pudor ou respeito, quer por terceiros ou quer por si próprio, o ser humano enverga e mantém uma máscara, a máscara do “ eu sou”.

Por séculos se viveram tempos falaciosos e difíceis, onde se vivia na base da “lei do mais forte”, do “nacional porreirismo”, do “Olha para o que eu digo mas não olhes para o que eu faço!” Todavia, esperava-se que em pleno Século XXI, já se tivesse perdido algum do espírito da época dos Borgia, dos Tudor e de tantos outros exemplos semelhantes que encontramos na história, mas em termos de jogos de bastidores, estratégias, contra-estratégias, intrigas palacianas dignas das melhores cortes Absolutistas o registo retratado em tantas páginas da História Universal parece-nos vivo e de excelente saúde. O amigo de ontem pode revelar-se o inimigo de hoje, mas quem sabe, até, o melhor aliado estratégico de amanhã! Confuso!? Talvez, mas uma realidade irrefutável dos nossos dias! Basta atentarmos, por exemplo, em estranhas alianças na política nacional que conseguiram surpreender pelo inesperado dos resultados…

Impera, sem dó nem piedade, uma época em que a diplomacia, aparente, generalizada se instala sem contudo ser corroída pelos sentimentos mais comezinhos do ser humano, a ganância e o egocentrismo.

Socializamos com o outro sempre tendo por base o que se pode alcançar ou ganhar com tal “amizade” ou aliança, de tão enraizada que está na nossa mente a ideia de que nada tem de mal que possam advir proveitos daquela particular situação, sem que tal seja passível de beliscar a nossa honra, carácter ou fortaleza de espírito. Ser egoísta, oportunista, intelectualmente desonesto ou mesmo egocêntrico ou até narcísico é encarado como banal, aceitável e, pasme-se, natural!

Nos mais variados contextos: escolares, académicos, profissionais, políticos, económicos os valores tradicionais vêm sendo perdidos, a competitividade sobrepõe-se à consciência e à honestidade, os interesses pessoais e os egos inflamados mostram-se hierarquizados em escala superior aos interesses coletivos!

A mentalidade que impera, hoje ainda, procede a uma análise da realidade circundante em termos de “ganhos versus perdas”, de aproveitamento do mais forte pelo mais fraco, de maldade disfarçada de simpatia, cada vez mais,  nos cruzamos com os chamados “lobos com pele de cordeiro”.

Na era em que o “parecer” é sobejamente mais importante do que o “ser” eis que se vive, quotidianamente, no jogo das cadeiras. Sorrisos, simpatias, diplomacia, gentileza,  são as palavras de ordem, enquanto se escondem  nas sombras os instintos mais básicos e obscuros, onde se exploram fragilidades alheias para, quando o momento for conveniente, se desferir o golpe fatal no inimigo!

Se porventura hoje nos podemos encontrar numa posição de grande destaque no que tange a determinados contextos, ou perante algumas pessoas, sabemos de antemão que amanhã poderemos já ter perdido essa mesma posição em termos de relevo ou apreço, apenas e só porque em algum momento, ainda que fugaz, algo dissemos, fizemos ou não fizemos que nos levou a perder o valor, a ser olhados como inconvenientes, incómodos, o que quer dizer que na verdade perdemos a cadeira, ou até mesmo que esta nos foi retirada. Em suma, é fácil “passar de bestial a besta” em pouco tempo.
Embora sabendo que nada é imutável e que a vida em si significa movimento, é-nos ainda pouco percetível a fluidez com que todas as relações, sejam elas profissionais, de amizade, amorosas, de circunstância, com muita durabilidade ou pouca, se transformam, terminam, começam ou mantêm.

Política é a palavra de ordem! Este conceito que era tão circunscrito, adapta-se hoje em dia por interpretações, abusivamente extensivas, a toda a nossa vida e a todos os nossos círculos de atuação.
Ocorre-nos um exemplo histórico fascinante, mas com o seu quê de aterrador, Sebastião de Carvalho e Melo, Marquês de Pombal e Conde de Oeiras, Ministro de D. José, delineou um plano com vista a destruir a família Távora, uma das casas nobres mais poderosas de Portugal, porque o fez? Porque a família Távora era ostensivamente crítica à sua política, à sua forte influência sobre o Monarca e porque em termos de egos, a diferença de classes era, ao que parece, fonte de exaltadas críticas e até humilhações, pois a família Távora considerava Sebastião José inferior socialmente, por ser membro da baixa nobreza, algo que também poderá ainda mais ter alimentado o espírito persecutório de um homem, frio, sagaz, mas também muito racional e pragmático! Às vezes, em certos jogos políticos não há, propriamente, uniformidade no papel de vilões e vítimas, embora seja certo que o mais forte vencerá a dado ponto desta alternância de papeis sociais!

A determinação do cidadão comum em se transformar num ser socialmente aceite pode tentar algumas almas a incorrer no pecado de alpinismo social, isto  é algo que ainda hoje, ou não, nos escapa aos radares intuitivos com que vivemos, não descartando, obviamente, aqueles que por motivos diversos já conseguiram alcançar um estado em que tais comportamentos são detetados à distância.

Proferem-se chavões comuns e afirmações de perpetuidade são proferidas sem qualquer pudor, pois são um meio para atingir um fim e obviamente, hoje, o fim justifica-se a si mesmo.

Neste turbilhão de acontecimentos e em estrita observância à máxima” nada se perde, tudo se transforma”, percebe-se claramente que existimos e sobrevivemos numa era em que, gradualmente, embora cada vez mais aceleradamente, estamos sozinhos e ninguém nos vem salvar.

A distorção de valores é avassaladora e inquietante, o próprio relacionamento social é oco, as alianças são estrategicamente delimitadas no tempo e a abertura ou disponibilidade e solidariedade pode mesmo vir a revelar-se, apenas e só, um ato de instrumentalização momentânea por motivos egoístas e convenientes a interesses ou agendas pessoais, rapidamente é substituível.

Bem sabendo que tais factos não se de agora e se perpetuam no tempo desde que o ser humano é quem é, tal não é justificável face à enorme evolução que temos assistido.

O mundo evoluí, a globalização instala-se, tudo se torna mais rápido, tudo se torna mais acessível, a informação brota em catadupa mas, na verdade, o ser humano, na sua essência mais primitiva, permanece em estado latente de evolução. 


"A Auto-consciência substituiu a consciência de classe, a consciência narcísica substitui a consciência política."

Gilles Lipovetsky, In "A Era do Vazio" (1983)



quarta-feira, 26 de setembro de 2018

LITERATURA | O Caso Sparsholt , de Alan Hollinghurst | DOM QUIXOTE (Tradução de Tânia Ganho)

Nas livrarias a 25 de Setembro



Em outubro de 1940, o jovem David Sparsholt chega a Oxford. Elegante, atlético e carismático, parece não ter noção do efeito que provoca nos outros, particularmente em Evert Dax, filho solitário de um escritor célebre. Enquanto Londres é devastada pelo Blitz, Oxford como que paira numa névoa de alheamento e incerteza, e as noites de blackout parecem encorajar e encobrir encontros que, em tempos normais, seriam impossíveis. Ao longo deste período conturbado, David e Evert forjam uma amizade improvável que vai uni-los ao longo de décadas.

Retrato magistral de um grupo de amigos unidos durante três gerações pela arte, pela literatura e pelo amor, O Caso Sparsholt explora anos cruciais do século XX, cujas consequências se estendem aos dias de hoje. Uma obra-prima pela mão de um dos mais brilhantes escritores de língua inglesa da atualidade.

domingo, 23 de setembro de 2018

CRÍTICA LITERÁRIA | "Sedução Perigosa", o segundo livro da colectânea "As irmãs", de Jess Michaels | QUINTA ESSÊNCIA

Texto: Isabel de Almeida | Crítica Literária | Jornalista
Fotos: Direitos Reservados | Grupo LeYa


Sedução Perigosa, de Jess Michaels, é um romance de fundo histórico, cuja acção decorre em Londres em 1919, e que faz parte integrante da série "Irmãs Albright" agora editada pela Quinta Essência sob o título genérico: As Irmãs

  Jess Michaels traz-nos como protagonista Penelope Norman, uma jovem viúva magoada por um casamento por obrigação  e sem amor e que bastante a traumatizou [como era habitual na época histórica em apreço, devido a motivos económicos ou de ascensão na categorial social]. Contida, algo tímida e sem orientação familiar válida, sendo filha da antipática e interesseira Dorthea Albright [Viúva de Thomas Albright], a jovem ver-se-á, de modo algo inadvertido, elevada à categoria de defensora pública da moralidade entre as classes mais altas, uma vez que rejeita em absoluto a libertinagem assumida pelos nobres casados, que ostentam muitas vezes uma sexualidade pouco regrada, desrespeitando as esposas, e mantendo relações extra- conjugais.

  Na medida em que a sua atitude de defesa da moralidade é vista como ameaçadora da submissão desejada pelas famílias de ilustres nobres com tendências libertinas, num clube masculino de Londres, surge um arriscado plano conspiratório que poderá deitar por terra a honra e dignidade de Penelope Norman, pois o atrevido e sedutor Jeremy Vaughn, Duque de Kilgrath, é seleccionado para seduzir e comprometer a dama, de modo a que esta deixe de constituir um obstáculo à conduta licenciosa dos nobres.

   Jeremy aproxima-se da jovem e fá-la crer que pretende mudar a sua conduta habitual de libertino, mas acaba por a iludir de forma contraditória, mostrando-lhe os caminhos da sensualidade e da libertação sexual, que até ali eram encarada pela jovem como algo apenas perverso, errado e condenável perante as rígidas regras da moral vigente em termos públicos.

   Penelope, vai quebrando as defesas, e começa a descobrir em si mesma desejos, sensações e anseios que, até então, recusara a si mesma, e julgara mesmo ser impossível sentir, mas enfrenta uma dura luta interior ao nível psicológico, pois tem dificuldade em conjugar esta descoberta dos sentidos como algo natural e humano, com o seu entendimento bastante rígido dos princípios morais que defende publicamente.

   Gradualmente, Jeremy leva Penelope a visitar locais onde o prazer reina, e assume o papel de um fogoso amante secreto que visita a jovem durante a noite, levando-a a testar os seus limites, com o intuito de a dominar e chantagear ou controlar, a pedido do seu grupo de amigos libertinos.

 Penelope vive dividida entre o prazer físico e sensual que experimenta na presença do seu amante secreto, e o sofrimento psicológico que a dualidade que sente entre o modo como age, e os princípios que defende lhe causará.

 Jeremy, por sua vez, começa a sentir-se incomodado com o desenlace do plano por si concebido, e receia que Penelope esteja a despertar em si emoções que julgava impossível sentir, mas como irá sanar este conflito entre a amizade e lealdade masculinas, e uma proximidade e intimidade com uma mulher que já parecem ir bem além de um jogo de sedução encomendado com intenções obscuras?

 Num ritmo narrativo bastante acertado para a dimensão do romance, com uma linguagem bastante acessível, que não descura o meio social elevado e a época histórica em que a narrativa decorre, a autora consegue manter um clima de conspiração que apenas se resolve no final da trama, prendendo as leitoras à história.

 O romance contém diversas cenas de cariz explícito ao nível sexual, descritas com a sensibilidade, a ousadia e o detalhe a que autora já nos habituou, afirmando-se, de facto, como um dos nomes de relevo neste género literário bastante específico.

Conspiração, tensão, sensualidade ardente e uma heroína e um herói interessantes, que transportam consigo uma história pessoal, e que lutam por ultrapassar conflitos interiores,  estas são apenas algumas das razões que tornam este romance uma excelente escolha de leitura.


Ficha Técnica da Obra:


Autora: Jess Michaels

Série: As irmãs Albright (agora editada numa colectânea num volume único)


Edição: Março de 2018

Páginas: 752 (obra completa)

Género: Romance erótico de época

Classificação: 4/5 estrelas





sexta-feira, 21 de setembro de 2018

LITERATURA | À Luz do Índico de Amélia Vera Jardim | DOM QUIXOTE - Poesia

Nas livrarias a 25 de Setembro


À Luz do Índico, o primeiro livro de poesia de Amélia Vera Jardim, é uma obra iluminada pelas memórias dos tempos vividos em Moçambique, pelas suas cores e cheiros. E é, também, a revelação de uma nova e original voz poética em língua portuguesa.

segunda-feira, 17 de setembro de 2018

LITERATURA | Caros Fanáticos de Amos Oz | DOM QUIXOTE - Ensaio (Traduzido do Hebraico por Lúcia Liba Mucznik)

Nas livrarias a 18 de Setembro


Este conjunto de três ensaios foi escrito a partir de um sentido de urgência e preocupação, e na crença de que um futuro melhor ainda é possível. O traço comum é a análise do fanatismo combinada com uma apologia à moderação. Independentemente do tipo de fé e do contexto em que o fanatismo – religioso, político ou cultural – se expressa, ele é, para Amos Oz, o verdadeiro inimigo do presente. Juntamente com este tema, Oz aborda a atual situação no Médio Oriente e o conflito israelo-árabe, apresentando com ousadia o seu argumento da existência de dois estados como solução para o que ele chama «a questão de vida ou de morte para o Estado de Israel».

Sábios, provocantes, comoventes e inspiradores, estes ensaios iluminam a discussão sobre a existência israelita, judaica e humana, lançando uma luz clara e surpreendente sobre questões políticas e históricas vitais. Um livro essencial, corajoso e nunca tão urgente como hoje.

domingo, 16 de setembro de 2018

REFLEXÕES OCASIONAIS | Mudança: porque resistimos e porque devemos mudar ?| ISABEL DE ALMEIDA



O curso de vida leva-nos a passar por distintas fases, e a cada uma destas fases correspondem, naturalmente, diferentes perspectivas quanto às metas que queremos alcançar, por exemplo, em áreas tão distintas como a realização pessoal, intelectual, profissional e afectiva/emocional.

o Trajecto pelas diferentes etapas do ciclo de vida humano implica, a cada passo, a necessidade de aceitar ou promover mudanças, em nós próprios ou no nosso modo de vida, em suma, as mudanças, quer queiramos ou não aceitar este facto, são parte do nosso património vivencial!

Assumindo como ponto assente as mudanças, genericamente consideradas, que nos afectam ao nível físico, desde logo, aquelas que são inerentes à assustadora mas inegável realidade de que vamos amadurecendo e envelhecendo, importa aqui apelar a uma reflexão acerca de mudanças psicológicas strictu sensu,  bem como a todas as alterações que as mesmas possam implicar em termos de processos de tomada de decisão, capacidade de auto-conhecimento, insight (aqui considerado no sentido de consciencialização de que algo nas nossas condutas, pensamentos, estilo de vida não segue os padrões considerados normativos, desejáveis ou, em última análise, saudáveis).

Tenhamos presente que muitos detalhes da nossa existência não estão, com efeito, sujeitos ao nosso controlo, não temos o poder de com os mesmos interferir, assim, quando estes nos assaltam resta-nos apenas ter plena consciência de que é de extrema importância gerir a forma como encaramos e como lidamos com as situações problemáticas que escapam à nossa capacidade de influência, intervenção e acção directa sobre as mesmas.

Quantas vezes, por exemplo, em termos profissionais nos vemos forçados a aceitar imposições fruto de diversas variáveis?

Quantas vezes fazemos planos, definimos objectivos e elaboramos projectos pessoais que nem sempre conseguimos concretizar, ou que não correm como desejado?

Quantas vezes entramos numa espiral de insatisfação, normalmente acompanhada de crises de ansiedade e mesmo de focos depressivos porque receamos enfrentar mudanças? 

Há momentos na vida em que seriamente temos de reunir a força, coragem e motivação necessárias para mudar ou para aceitarmos mudanças. A nossa resistência resulta do medo, de uma pouco saudável ligação às chamadas "zonas de conforto". Mas façamos a desconstrução deste aparente beco sem saída: e se aquilo a que damos o nome de "zona de conforto" começar a causar-nos antes desconforto? E se sentirmos que o nosso bem-estar, os nossos pontos de equilíbrio estão postos em crise? E se as "zonas de conforto", o medo como factor de bloqueio à tomada de decisões (é certo numa isentas de risco, mas aqui está algo que faz parte da própria vida no seu todo, viver é arriscado) estiver antes a impedir a nossa realização pessoal, a perturbar a nossa paz de espírito? Poderemos então afirmar que resistimos à mudança porque o que se lhe segue pode ser pior, mas, e se não for?

Não temos o dom de adivinhar o futuro, mas temos para connosco próprios o dever de fazer um balanço sobre nós mesmos e sobre o nosso enquadramento nos contextos onde nos movemos e ,na sequência desse balanço, tentarmos apurar se a resistência a mudar o estado de coisas não é causadora de maiores angústias que se arrastam indefinidamente no tempo.

O que preferimos? Ser infelizes e insatisfeitos para sempre, ou aceitarmos a hipótese de quebrar as nossas próprias barreiras internas e termos a oportunidade de evoluir em todos os sentidos? 

O nosso livre arbítrio deve ser capaz de fazer escolhas! O que preferimos: Sobreviver ou Viver? Só na nossa essência podemos encontrar a resposta a esta questão fulcral! E temos de estar preparados para o facto de não estar ao nosso alcance saber se vamos ser bem sucedidos na sequência da decisão que tomarmos. Mas nunca é tarde para evoluir, nunca é tarde para dar tudo por tudo para mudar para melhor! Nunca é tarde para arriscar, pois é bem mais pesada a insatisfação, a censura auto-imposta à nossa liberdade pessoal, e o sofrimento psicológico que isso nos pode causar e que tenderá a aumentar e a perturbar a nossa funcionalidade no dia a dia.



"Quando a dor de não estar a viver for maior do que o medo da mudança  a pessoa muda."

Sigmund Freud

quinta-feira, 13 de setembro de 2018

LITERATURA | A Menina na Floresta de Camilla Läckberg | DOM QUIXOTE (Tradução de Ricardo Gonçalves)

Nas livrarias a 18 de Setembro


Quando Nea, uma menina de quatro anos, desaparece, a comunidade fica em choque. Trinta anos antes, Stella, também de quatro anos, que vivia com os pais na mesma quinta, desaparecera e viria a ser encontrada morta na floresta que rodeia Fjällbacka.

Nessa altura a culpa foi atribuída a duas adolescentes, Marie e Helen, hoje mulheres. Poderá ser um acaso o desaparecimento de Nea ter coincidido com o regresso de Marie, agora uma famosa atriz de cinema, a Fjällbacka para interpretar o papel de Ingrid Bergman?

Patrik Hedström começa a investigar e, como sempre, conta com a ajuda de Erica, que pretende escrever um livro inspirado na morte da pequena Stella. Mas à medida que vão desfiando os intrincados fios da meada, tudo se torna mais confuso. Como se tal não bastasse, têm ainda de lidar com a perturbação que a presença de refugiados sírios causa na pequena comunidade.

Uma sucessão de acontecimentos que abala os habitantes da pacata vila, e acabará por levar o nome de Fjällbacka aos quatro cantos do mundo… sem ser pelas melhores razões.

segunda-feira, 10 de setembro de 2018

LITERATURA | A Persuasão Feminina de Meg Wolitzer | TEOREMA (Tradução de Raquel Dutra Lopes)

Nas livrarias a 11 de Setembro


Jovem, brilhante e ambiciosa, Greer Kadetsky acaba de ser aceite na prestigiada universidade de Yale com uma bolsa de estudo. Para entrar, basta preencher um formulário. Algo que os pais, na sua descontração de hippies da velha guarda, não fazem.
É assim que ela se vê relegada para uma universidade de segunda linha enquanto o namorado, Cory, filho de imigrantes portugueses, concretiza o sonho de ambos e segue para Yale.

Enquanto se debate com a inesperada falta de rumo, Greer conhece a carismática Faith Frank, figura icónica do feminismo americano. Ao assistir a uma palestra de Faith, a chama que Greer temia extinta ilumina-se.

Anos depois, já terminada a faculdade, Cory dedica-se à alta finança enquanto Greer luta pelos seus ideais com fervor.

São percursos distintos que os obrigam a confrontarem-se com a complexidade da vida adulta. Aos poucos, ambos se afastam do futuro que sempre imaginaram para si próprios. E um dia, vão perceber como estão longe daquilo que sonharam ser.

sábado, 8 de setembro de 2018

CRÍTICA LITERÁRIA | " As Irmãs - As irmãs Albright - Série Completa, de Jess Michaels - " Emoções Proibidas"| QUINTA ESSÊNCIA


Texto e Foto: Isabel de Almeida |

Crítica Literária | Jornalista


   Emoções Proibidas corresponde ao primeiro romance erótico da Série das Irmãs Albright, da autoria de Jess Michaels, inicialmente publicado em volume autónomo em Junho de 2013, numa edição requintada com um laço de seda vermelho, integra, com mais três romances, a série familiar protagonizada pelas irmãs Albright.

  Tratando-se de romances bastante procurados pelo público feminino que gosta de uma trama erótica com cenário noutras épocas, e atento o facto de já não ser fácil encontrar no mercado alguns dos volumes da série, a Chancela Quinta Essência, do grupo LeYa optou por lançar este ano toda a colectânea num único volume sob o título as irmãs, que numa edição extremamente elegante, permite satisfazer coleccionadores, ou satisfazer as leitoras que tenham em falta algum dos livros da série.

Com vista a dar aos nossos leitores uma crítica detalhada de cada uma das histórias, iremos dividir em quatro artigos esta recensão crítica, sendo cada artigo dedicado a um dos quatro romances.


  Começamos pelo primeiro título - Emoções Proibidas. Trata-se de um romance erótico na sua verdadeira essência, com cenário histórico na Inglaterra do Século XIX, o que contribui para embelezar e enriquecer a trama com os sempre deliciosos detalhes sociais da época em apreço.

   Como protagonista feminina iremos encontrar Miranda Albright, a mais velha das irmãs, que vê a sua família caminhar a passos largos para a ruína financeira, devido às dívidas de jogo, e à vida de excessos levada pelo seu falecido pai. Miranda luta para manter uma gestão racional das finanças familiares, enfrentando a atitude crítica e gastadora da mãe, a arrogante e arrivista Dorthea Albright, ainda habituada à vida luxuosa e acima das reais possibilidades que o falecido marido proporcionava ao clã, à custa de dívidas pesadas.

   Miranda revela uma personalidade forte, decidida e apaixonada, é uma mulher algo independente, que se atreve a, no seu íntimo, ousar vivenciar a sua sensualidade e sexualidade em pleno, sem tabus, embora à luz dos rígidos princípios morais em que foi criada, se sinta por vezes culpada pelos seus desejos e sensações mais secretos.

   Durante anos Miranda teve um passatempo bastante atrevido, espiar os escaldantes encontros amorosos do seu libertino Vizinho - Ethan Hamon, o Conde de Rothschild, habituado a satisfazer um vasto leque de amantes nos campos da propriedade vizinha à da família Albright.

   Entre o receio, o desejo, a excitação e a fantasia, Miranda decide salvar a família da ruína, trocando a sua inocência pelo apoio financeiro às épocas das irmãs Penélope e Beatrice a prestar pelo seu perverso e atraente vizinho, com o qual secretamente fantasiou desde muito jovem.

   Ethan aceita a proposta da jovem, acreditando que vai conseguir subjugar  e dominar Miranda, num complexo jogo erótico, consentido mas arriscado para a jovem dama, que pode deitar a perder , a todo o momento o seu bom nome e o da sua família, num acto de coragem ousada que pode ser tudo ou nada.

    A pretexto de uma ausência legítima, Miranda irá descobrir, na vertente física, todas as sensações e emoções com que sempre fantasiava ao espiar Ethan.

   Com descrições bastante explicitas de cenas de natureza sexual, que abarcam a maior parte das páginas do livro, ainda assim, Jess Michaels sabe permear esta componente com a vertente emocional que começa a despertar entre os dois protagonistas.

    Entretanto, a arriscada combinação de Miranda e Ethan vai mesmo abalar a cumplicidade que esta mantinha com a irmã Penelope, o que poderá deitar a perder o plano de Miranda e a honra da família.
     Ethan é um homem marcado pelo fantasma do pai, que viciado nos prazeres da carne, levava uma vida dissoluta, desrespeitando o casamento com numerosas infidelidades, pelo que nega a si mesmo a hipótese de alcançar a felicidade, rejeitando vínculos emocionais e a hipótese de um casamento por amor que garanta um herdeiro para o título nobiliárquico que possui. 

    Serão Miranda e Ethan fortes o bastante para vencer os obstáculos que lhes cabe enfrentar? Saberão dosear na medida certa o desejo avassalador que os preenche, a paixão que nasce entre ambos e o perigo do julgamento social e familiar?

   Verdadeiramente escaldante, emotivo, com personagens fortes envolvidas em sólidos contextos sociais e familiares, numa linguagem explícita, mas fluído e elegante, é um romance que agradará aos apreciadores do género erótico com fundo histórico, um verdadeiro hino aos cinco sentidos, e que não deixa de lado o romantismo. Jess Michaels sabe como agarrar as leitoras às páginas deste livro!

   Um história viciante, que fará as delícias das fãs do romance sensual de época!

Ficha Técnica da Obra:

Título: As Irmãs

Autora: Jess Michaels

Série: As irmãs Albright (agora editada numa colectânea num volume único)


Edição: Março de 2018

Páginas: 752 (obra completa)

Género: Romance erótico de época

Classificação: 5/5 estrelas



terça-feira, 4 de setembro de 2018

LITERATURA | Se esta rua falasse de JAMES BALDWIN | ALFAGUARA

CHEGA HOJE ÀS LIVRARIAS


Sobre o livro:

Se esta rua falasse, esta seria a história que contaria: Tish, 19 anos, apaixona-se por Fonny, que conhece desde criança. Fazem juras de amor e conjuram sonhos para a vida a dois. Mas Fonny é atirado para a prisão, falsamente acusado de um crime horrível. Quando Tish descobre que está grávida de Fonny, as duas famílias lutam por encontrar provas que ilibem o rapaz do crime que não cometeu. Separados por uma fria parede de vidro, Tish e Fonny esperam e desesperam, transportados dia após dia após dia por um amor que procura transcender a desesperança, a injustiça, o racismo, o ódio. Entre o pulsante bairro de Harlem, onde Fonny sonha tornar-se escultor, e a ilha de Porto Rico, onde talvez se encontre a prova da sua inocência, desenrola-se uma corrida contra o tempo, pautada pelo crescimento da barriga de Tish.

Sensual, violento e profundamente comovente, este romance é uma bela canção de blues, de toada doce-amarga, com notas de raiva e ainda assim cheia de esperança. Publicado pela primeira vez em 1974, Se esta rua falasse é o quinto romance de James Baldwin, um dos nomes maiores da literatura americana do século XX e uma das vozes mais influentes do activismo pelos direitos civis. Um romance-manifesto contra a injustiça da justiça e uma história de amor intemporal, é hoje tão pertinente e tão comovente quanto no dia da sua publicação.

Sobre o autor:

James Baldwin nasceu em Nova Iorque em 1924, no bairro de Harlem, onde cresceu e estudou. Partiu para França em 1948, fugindo ao racismo e homofobia do seu país de nascimento. Em 1953 publicou o primeiro romance, Go tell it on the mountain (Alfaguara, 2019), que foi recebido com excelentes críticas. Entre as suas obras mais importantes encontram-se Giovanni’s Room, The fire next time, Going to meet the man, Notes of a native son e Another country. Destacou-se desde cedo como romancista, ensaísta, poeta e dramaturgo, mas a par disso notabilizou-se como uma das vozes mais influentes do movimento de direitos civis. Foi o primeiro artista afro-americano a aparecer na capa da revista Time. Em 2017, trinta anos após a sua morte, voltou ao palco graças a um documentário baseado na sua obra: I am not your negro.

segunda-feira, 3 de setembro de 2018

LITERATURA | Jaime Bunda, Agente Secreto (12.ª Edição) de Pepetela | DOM QUIXOTE

Nas livrarias a 4 de Setembro


Jaime Bunda, cuja alcunha faz óbvia referência a uma exagerada parte da sua anatomia, é um membro de uma família tradicional angolana que sonha ser detective. Graças a uma rara capacidade de observação, e pela influência do primo, um alto funcionário do governo, consegue lugar como detective estagiário nos serviços secretos de Angola.

Apaixonado por literatura policial americana, e cansado de ser gozado pelos colegas após dois anos de estágio sem grandes funções, por fim, Bunda encontra a oportunidade de provar a sua competência quando lhe é atribuído um caso importante: desvendar a violação e o assassínio de uma adolescente.

Bunda parte com entusiasmo para a investigação do crime ainda sem suspeitos e, com os seus métodos excêntricos, aprendidos nos livros, acaba por se envolver numa teia complexa que reúne redes criminosas internacionais, elites do poder e uma misteriosa mulher.

Com Jaime Bunda, Agente Secreto, romance policial satírico que nos apresenta o James Bond angolano, Pepetela oferece-nos um retrato pleno de humor e ironia da sociedade do seu país.

LITERATURA | ESCOLA DE ESPIÕES de Denis Bukin

Será que tem o que é preciso para ser um espião do KGB?


Escola_de_Espioes_2.jpg

Que número está destacado a amarelo na capa?

a) 5
b) 2
c) 4

Se não se apercebeu, não se preocupe. Este livro vai ajudá-lo. Quando a maior parte das pessoas pensa na palavra “espião”, imagina gadgets – canetas laser e isqueiros explosivos –, mas o equipamento mais importante de um espião é o seu cérebro.

Escola de Espiões é um livro de exercícios baseado no treino dos famosos agentes secretos do KGB com o objetivo de melhorar a memória, desenvolver o poder de observação e aguçar a mente.

Com casos inspirados em histórias reais da Guerra Fria, Escola de Espiões desafia todas as mentes e coloca-nos a questão: Será que temos o que é preciso
para sermos espiões do KGB?

domingo, 2 de setembro de 2018

LITERATURA | YAKA (7.ª Edição) de Pepetela | DOM QUIXOTE

Nas livrarias a 4 de Setembro


Através da saga da família Semedo, Yaka constitui um testemunho abrangente dos acontecimentos que moldaram Angola de 1890 até 1975. Desde a colónia penal do século xix, passando pela escravatura, as revoltas africanas e a expropriação de terras, culminando na conquista da independência, Yaka traça o mapa da formação de uma nação. Um romance sobre a história da colonização em Angola, e também sobre a luta pela queda dessa mesma colonização, que dá voz ao que foi encoberto pela censura do Estado Novo e pela historiografia oficial portuguesa.

LITERATURA | A Memória da Árvore de Tina Vallès | DOM QUIXOTE (Tradução do catalão por Artur Guerra e Cristina Rodriguez)

Nas livrarias a 4 de Setembro


«Posso ficar contente?» Jan não sabe porquê, mas intui que não é uma notícia muito boa que agora passem a ser cinco em casa.

Os avós Joan e Caterina deixaram Vilaverd e vieram instalar-se com eles no andar do bairro de Sant Antoni, em Barcelona. Esta mudança alterará o dia a dia em casa, onde as palavras e os silêncios adquirirão novos significados. Mas Jan e Joan têm o seu mundo, cheio de passeios, árvores e letras com mais significado do que parece. Entretanto, os adultos fazem o possível para que tudo continue como sempre. Jan repara nos pormenores à sua volta e vai juntando-os para perceber o que se passa. As conversas entre avô e neto, com perguntas sem resposta e respostas sem pergunta, constroem um mosaico de cenas por onde avança a relação entre os dois, e a história de um salgueiro-chorão será o seu fio condutor.

A Memória da Árvore é um romance terno, construído de forma inteligente, que consegue colocar o leitor na pele de uma criança e que fala da transmissão de memórias, de como estas são fabricadas e conservadas, de onde se guardam e de como se podem perder.



sábado, 1 de setembro de 2018

LITERATURA | O Pórtico da Glória (2.ª Edição) de Mário Cláudio | DOM QUIXOTE

Nas livrarias a 4 de Setembro


Depois de A Quinta das Virtudes e Tocata para Dois Clarins, o presente romance encerra o tríptico para o qual Mário Cláudio elegeu como motivo o «sangue da tribo», tornando personagens alguns parentes singulares, e desse modo cruzando de forma magistral realidade e ficção.

Em O Pórtico da Glória conheceremos então o cavalheiro da indústria Diego Hernández Bueno, bisavô do narrador, castelhano imigrado no Porto e protegido de um rico proprietário têxtil, e assistiremos ao seu encontro com Hermínia de Azevedo Mavigné, a jovem e sonhadora herdeira que virá a tornar-se sua mulher.

Vencedor do Prémio PEN Clube Português de Narrativa em 1997 e do Prémio Eça de Queiroz em 1998, esta obra, cuja acção decorre entre os finais do século xix e o início do século xx, é também exemplar na apresentação da cidade do Porto como pioneira da inovação industrial no nosso país, bem como no retrato de uma certa forma de estar e de viver em acelerado declínio.

LITERATURA | MONTEPERDIDO – A VILA DAS MENINAS DESAPARECIDAS Agustín Martínez

Um thriller psicológico absorvente e de ritmo cinematográfico

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Ana e Lúcia, duas amigas de onze anos de uma pequena aldeia dos Pirenéus, abandonam a escola e vão para suas casas. Mas nunca chegam ao seu destino. Ninguém mais as vê. Cinco anos mais tarde, entre os despojos de um acidente de carro, num desfiladeiro próximo a Monteperdido, aparecem o corpo de um homem e uma adolescente gravemente ferida e desorientada. É Ana, uma das meninas que desapareceu há muito tempo. Enquanto toda a aldeia tenta assimilar o rumo dos acontecimentos, o caso é reaberto. Quem é o homem morto? Quem está por trás do sequestro das meninas? Onde está Lúcia? E, o mais importante, ainda estará viva?

As respostas a estas perguntas escondem actos terríveis que muitos habitantes de Monteperdido lutam desesperadamente para manter em segredo.

Sobre o autor:

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Agustín Martínez nasceu em Lorca, Múrcia, em 1975. Formado em Imagem e Som pela Universidade Complutense de Madrid, iniciou a sua carreira profissional em publicidade, mas a escrita de guiões de ficção para televisão logo se cruzou no seu caminho. Actualmente, alterna este trabalho com a direção de programas e colaborações na rádio. Desde 1999, ano em que escreveu o seu primeiro guião, participou em muitas séries, às vezes como criador, outras como guionista.

O seu primeiro romance, Monteperdido - A Vila das Meninas Desaparecidas, foi uma estreia deslumbrante com excelentes críticas em todos os países onde já foi publicada - os direitos foram vendidos para mais de dez países. O seu segundo romance Mala Hierba também já está a ser traduzido para várias línguas.

REFLEXÕES OCASIONAIS | Aqueles fogos que ardem...sem culpa... ISABEL DE ALMEIDA


Há trinta anos, em concreto no dia 25 de Agosto, o meu mundo ficou mais pobre, recordo o meu horror partilhado com a minha avó materna - Mariana - enquanto víamos incrédulas pela televisão que o meu/ nosso Chiado estava em chamas!

Ao visionar reportagens da época no Canal RTP memória, apercebi-me de que, também há trinta anos atrás, o incêndio do Chiado teve a pairar sobre si suspeitas de origem criminosa...pelo que devo concluir que, neste país, infelizmente, há episódios tristes aos quais se aplica a expressão "como era no início, agora e sempre."

Era um dos meus prazeres percorrer os armazéns do Chiado e Grandella acompanhando a minha mãe na escolha de tecidos para costurar. Eu própria ainda exerci o hobby da costura e ao mesmo voltaria se tivesse tempo, certa de que o mesmo bastante poderia ajudar a controlar a ansiedade do dia a dia agitado em que me movimento.

Meu querido Chiado, serei sempre uma das tuas meninas, ainda te amo, mas tudo mudou naquele fatídico 25 de Agosto há 30 anos, e há uma certa magia que já só habita nas memórias de quem o conheceu antes da tragédia.

No dia 17 de Junho de 2017, um dos dias mais quentes de sempre, apenas à noite me dei conta do gravíssimo incêndio que afectava a região de Pedrogão Grande (já que me encontrava na Feira do Livro de Lisboa a coordenar encontro Literário promovido pela Nova Gazeta) , e que viria a revelar-se um dos mais aterradores pela elevada perda de vidas humanas, e pelo contexto em que se deu tal tragédia, além de terem sido postas a nu muitas das fragilidades do Sistema Nacional de Protecção Civil, cabendo assinalar a indescritível e inaceitável falha de comunicações do tristemente célebre SIRESP. 

Mas como diz o povo, na sua imensa sabedoria "O que nasce torto, tarde ou nunca se endireita!", e neste ano da Graça do Senhor de 2018, além de termos sido brindados com novos incêndios, nomeadamente na zona de Monchique no Algarve, ainda nos faltava saber que houve quem tivesse coragem para lucrar ilicitamente à custa da tragédia de Pedrogão Grande, pois que recentemente surgiram estranhos "fumos" que indiciam "fogueiras de corrupção", pese embora o princípio da presunção de inocência que norteia o Sistema Penal Português, estou em crer que "onde há fumo há fogo", e desejo firmemente que tudo seja investigado pelas autoridades competentes, tendo por base indícios e provas já recolhidos por uma equipa de jornalismo de investigação!

Se vier a confirmar-se em sede própria a prática de ilícitos criminais, mormente que tenham passado pelo facto de terem sido disponibilizados abusivamente fundos para reconstrução de alegadas primeiras residências na zona afectada pelo incêndio, primeiras residências essas que, afinal, estavam abandonadas há anos, em estado de degradação, ou que eram residências secundárias, que seja feita Justiça e que esta seja absolutamente exemplar na punição, pois que só assim poderá ter um efeito dissuasor para o futuro.

Politicamente é importante que, de uma vez por todas, haja coragem para pôr cobro aos abusos e negócios pouco claros que sempre rodeiam  a questão do combate a incêndios no território nacional, é tempo de prevenir e agir com medidas concretas, duras e não meramente estéticas ou de meros cuidados paliativos! Bem sei que não é algo fácil de resolver a curto prazo, mas quanto mais cedo se começar, mais cedo teremos resultados positivos à vista.

Urge que a Força Aérea Portuguesa possa ter, finalmente, um papel activo de mobilização de recursos materiais e humanos para intervenção na prevenção e combate a incêndios.

Urge satisfazer cabalmente e apoiar condignamente todas as corporações de Bombeiros do País para que continuem a desempenhar o seu valioso e tantas vezes desvalorizado trabalho, quantas vezes arriscando a vida (o equipamento, nomeadamente, utensílios e peças de vestuário apropriado a cenários de incêndio é extremamente dispendioso e contém objectos com elevado desgaste e/ou está sujeito a validade limitada).

Urge implementar uma política racional de Ordenamento do Território que respeite os limites legais do espaço entre a área arborizada e as estradas; é importante limitar e controlar a arborização com recurso ao Eucalipto.

Urge tomar medidas legislativas musculadas que possam dissuadir as várias práticas e redes criminosas ligadas ao sector da madeira - nomeadamente, uma sugestão, sempre que existirem fundadas razões de suspeita de prática criminosa a rodear um incêndio, deveria ser apreendida a madeira queimada e proibida a sua comercialização pelo sector privado, seja ele particular ou empresarial!

Urge rever, naturalmente, toda a organização actual do Sistema Nacional e Protecção Civil, não sou, pessoalmente, favorável à sua extinção, mas defendo sim uma profunda reestruturação e melhoria, pois acredito na qualidade técnica de muitos dos seus profissionais, e no empenho dos mesmos.

Mais uma vez, e para que não restem dúvidas, o presente texto constitui uma reflexão crítica pessoal, sem pretensão de ser académica, mas resulta da minha opinião formada enquanto cidadã, jurista e  jornalista (sendo certo que neste último contexto já fiz cobertura noticiosa in loco de incêndios e tive a oportunidade de frequentar um excelente curso de formação profissional leccionado pelo Dr. Hernâni Carvalho onde esta temática foi abordada em termos de jornalismo especializado, curso este que concluiu com uma visita ao Quartel dos Bombeiros Voluntários da Pontinha, uma das experiências mais enriquecedoras da minha vida profissional na área dos media).

"(...)por dinheiro, de um não se faz um sim."

Dante Alighieri