Margaret Astrid Lindholm Ogden nasceu na Califórnia em 1952,
utiliza o pseudónimo Robin Hobb o mesmo que lhe viria a abrir as portas do
mundo editorial com estonteantes vendas e projecção internacional.
Era muito nova quando se mudou com a família da Califórnia
para o Alasca mas como o mundo da ficção se mistura com a realidade na sua nova
casa ganhou um novo companheiro de aventuras, Bruno, um hibrido de cão e lobo
com o qual se sentia segura o suficiente para se embrenhar pela densa floresta
que rodeava a casa deixando a imaginação guiá-la.
No início da sua carreira escrevia para jornais locais,
revistas juvenis, e em 1981 foi premiada pelo Conselho Estadual do Alasca pelo
seu conto “A Caça Furtiva”, em 1983 escreveu o seu primeiro romance. foi
nomeada para os prémios Hugo e Nébula e foi vencedora do prémio Asimov.
Mais tarde casou-se com um pescador e mudou-se para a ilha de
Kodiak, foi através do marido que aprendeu a amar tudo o que dizia respeito ao
mar.
Tem quatro filhos e netos e vive actualmente no estado de
Washinghton.
Somente em 1995, após conversa com o seu agente decidiu criar
um nome que se adequasse ao seu novo estilo de escrita com a publicação de “O
aprendiz de assassino” Robin Hobb era finalmente catapultada para a fama e
sucesso.
De ressalvar ainda como surge a série de fantasia mais popular
de Robin Hobb, de acordo com a própria tudo começou com a descoberta de um
pedaço de papel que conservava guardado no fundo de uma gaveta e que dizia
simplesmente: “E se a magia fosse viciante? E se esse vicio fosse completamente
destrutivo?”.
Os seus livros estão traduzidos em mais de vinte línguas, ganhou
diversos prémios através da Europa como o Prémio da Fantasia do Elfo na
Holanda, o Prémio Imaginales pelo trabalho traduzido em França e mais perto de
casa ganhou o Prémio Endeavor por trabalhos publicados no Noroeste do Pacífico,
venceu ainda este ano o prémio Gemmel em Inglaterra para melhor romance com o
livro Assassin’s Fate, o último livro
da série do Assassino e o Bobo. O livro será publicado brevemente em Portugal
em dois volumes, “A Viagem do Assassino” e “O Destino do Assassino”.
E mais recente ganhou o Prémio Israeli Geffen para o melhor
romance de fantasia com o livro “O Assassino do Bobo”, o seu trabalho continua
a ser nomeado para os prémios Hugo, Locus e Nebula.
Robin continua a escrever pequenas estórias de ficção como
Megan Lindholm.
A verdade é que sempre soube que queria escrever.
MBC – Como prefere ser
conhecida por Margaret, Megan ou Robbin?
RH - Sou definitivamente Robin.
MBC – É a primeira vez
que visita Portugal?
RH – Sim é a minha primeira vez.
MBC – Foi difícil
conciliar a sua paixão pela escrita com o seu dia a dia de profissional,
mulher, mãe, dona de casa?
RH - É um acto de equilíbrio. Acho que é
importante que as pessoas percebam que as crianças vêm sempre em primeiro lugar,
primeiro sou mãe e só depois tenho um trabalho e algo de que gosto muito.
Quando comecei a escrever tinha filhos pequenos e rapidamente percebi que não
podia ter um sistema para escrever peguei sempre em todos os pequenos momentos
livres que conseguia durante o dia quando dormiam, brincavam, viam televisão, sentava-me
na mesa enquanto os observava e escrevia. Devo confessar que a minha casa nunca
estava limpa como gostaria, que a minha relva ficava muitas vezes por cortar
porque a verdade é que quando a oportunidade para escrever aparecia eu
aproveitava-a.
MBC – Confesso que
fiquei apaixonada quando tomei conhecimento da sua relação com o cão Lobo
Bruno, pode fala-nos um pouco sobre esse tempo?
RH - Quando nos mudámos para o Alasca
existia um cão no nosso bairro, e quando digo bairro refiro-me às casas estarem
afastadas por hectares umas das outras, uma das coisas que dizemos no Alasca é
que se à noite conseguires ver as luzes do vizinho está na hora de mudares. Víamos
o Bruno como um rafeiro e a história que se contava sobre ele é que tinha sido
criado como animal de estimação de alguém, mas que, entretanto, tinha sido
amarrado e fugira. Quando o vimos pela primeira vez coxeava, mas vinha até à
nossa casa e começámos a alimentá-lo. O meu pai conseguiu fazer com que confiasse
nele o suficiente para se aproximar e tirar-lhe o espinho que o feria depois de
o tratarmos gradualmente começou a ficar na nossa casa e tornou-se parte da nossa
família. Os vizinhos contaram-nos que devia ser uma mistura de cão pastor
branco e de Lobo, era um cão enorme e esteve connosco durante muitos anos. Eu
estava muito habituada a viver perto de florestas, mas com este cão percorria a
floresta encostada à minha casa durante horas sabendo que ele garantia o meu
regresso em segurança.
MBC – As paisagens do
Alasca têm alguma influência em tudo o que escreve?
RH – Nem por isso. Desde que me lembro que
sempre quis ser escritora. Na minha adolescência escrevia vários inícios de estórias,
mas nunca me conseguia comprometer com um final, porém estava sempre a
escrever. Desse tempo guardei somente alguns rascunhos e alguns diários que já nem
existem.
MBC – O seu marido é o seu
maior crítico?
RH - O meu marido não lê nada do que
escrevo e o motivo para isso é que no inicio da minha carreira estava a
escrever sobre uma personagem que ia morrer de uma maneira suja, ele leu as
primeiras páginas e disse-me que a personagem que estava a descrever era muito
parecida com uma pessoa nossa conhecida, o Bruce, depois de pensar confirmei
que tinha razão era realmente parecida foi quando o meu marido me disse que não
ia continuar a ler a estória porque não achava bem que eu matasse os amigos. O
que percebi foi que o meu marido conhece-me tão bem que não estava a ler o que escrevia,
mas que me lia a mim. É por esse motivo que penso que se queres ser um escritor
deves ter alguém que leia e critique a tua estória, alguém que não te conheça porque
se estás a escrever e descreves locais como o cinema ou a casa de waffles do outro
lado da rua e por aí em diante os teus conhecidos reconhecem de imediato os
locais aos quais te referes. Por esse motivo é melhor distanciarmo-nos e termos
alguém de fora a criticar-nos e aconselhar-nos.
MBC – E os seus filhos
e netos serão eles os seus maiores fans e críticos?
RH – A verdade é que alguns deles leram, outros
não, uns vieram a tornar-se fervorosos leitores enquanto que os outros preferem
documentários.
MBC - Baseia os seus
personagens na sua família, em conhecidos?
RH - Nunca o faço deliberadamente, não tenho
por hábito colocar pessoas que conheço nos meus livros possivelmente somente
algumas das suas características que me prendam a atenção, como certa pessoa anda,
pega na caneca do café, como fuma um cigarro, como se veste. Por exemplo não podemos
tirar uma mulher moderna e colocá-la num mundo de fantasia, ela tem ideias, consciência
de que é dona do seu próprio espaço, teria que existir uma razão para o
fazermos.
MBC - O que sentiu
quando percebeu que a aceitação dos seus livros era maior quando
se apresentava
como Robin Hobb, quando na realidade continuava a ser a Megan?
RH - Comecei a escrever com o diminutivo
do meu nome de solteira, Megan Lindholm quando escrevia histórias para crianças,
fantasia e ficção científica. Escrevia em todos os géneros da fantasia mas os
leitores gostam de saber o que leem, se for conhecida por escrever westerns e depois
escrevo um romance que se passa em Nova Iorque com o mesmo nome de autor o
leitor que me siga não irá ficar satisfeito se comprar um dos meus livros a
pensar que é um western e sai-lhe algo completamente diferente ou vice-versa.
Por isso quando tanto eu como o meu agente nos apercebemos que queria escrever fantasia
épica e sempre mais do que um livro dentro do mesmo género disse-me que precisávamos
de separar a escrita e aconselhou-me a pensar num nome diferente, divertimo-nos
imenso a ler o nome escolhido. Além de que é uma forma de escrita totalmente
diferente da de Megan que é muito mais cínica e não explica detalhadamente as
situações nem é tão emocional por isso é um estilo de escrita diferente e ainda
hoje quando tenho uma nova ideia sobre o que quero escrever sei automaticamente
se é para ser escrito pela Megan ou pela Robin. Quando adoptei este nome não dei
muitas entrevistas, nem anunciei a mudança, não foi tanto para tentar parecer que
era um homem que escrevia foi mais para baixar a pressão de descrença que pudesse
surgir. Quando escrevi a trilogia Farseer escrevi como a personagem principal
que era um homem porque quis facilitar a entrada na estória tornando-a mais
fácil para o leitor.
MBC – Consta que
descobriu um pedaço de papel que conservava guardado no fundo de uma gaveta e
que esse foi o incentivo necessário para começar a escrever a Trilogia Farseer.
RH - É verdade, era um envelope rasgado ao
meio que guardava na gaveta porque nunca fui suficientemente organizada para
ter pequenos livros de anotações isto aconteceu no inicio da minha carreira quando
ainda escrevia como Megan, aconteceu quando atingi um ponto difícil no livro
que estava a escrever e de repente tens outra ideia que é mais bonita, mais
brilhante e muito mais fácil de escrever, ou uma ideia que não se adequa ao que
está a escrever presentemente a frase era: “E se a magia fosse viciante? E se
esse vicio fosse completamente destrutivo?”. Nesse momento soube que tinha que
tirar a frase da minha mente e acabar a estória na qual estava a trabalhar na
altura. Por isso voltei a guardar o envelope rasgado dentro da gaveta onde
mantinha uma série de outros papeis, e ali ficou durante mais um tempo.
MBC - Ainda tem essa
secretária?
RH – Não, essa secretária há muito que
desapareceu bem como a casa. Mas só Deus sabe o que guardo no meu escritório.
MBC – O desenho detalhado
das casas, dos mapas partiram de si ou foram sugeridos?
RH - Não faço mapas porque infelizmente
tenho uma noção muito má das distâncias, neste momento não conseguiria dizer a
distância que nos separa por esse motivo sou terrível a desenhar mapas. Cada
tradução tem as suas próprias opções artísticas para as capas, os mapas do
terreno, o detalhe das casas. O que
acontece é que normalmente envio para o meu editor rabiscos de um mapa no qual
se baseiam. Se virem os primeiros livros do aprendiz de assassino podem repara
que o mapa na edição inglesa é totalmente diferente do mapa na edição americana.
MBC - O festival Bang é
anual e consegue colmatar a curiosidade que os leitores de literatura
fantástica têm sobre quem escreve os livros que os transportam para lá da
imaginação por esse motivo qual espera ser a sua recepção de boas-vindas amanhã
no Festival Bang?
RH - Todos os festivais são diferentes
costumo ir aos Comic Con nos Estados Unidos e é sempre diferente por isso terei
que esperar para ver.
MBC - Quer deixar uma
mensagem aos leitores portugueses?
RH - Muito obrigada pelo vosso apoio.
Fotos: Mário Ramires