O amor sempre foi tema que ocupou a mente dos apaixonados, dos poetas, dos escritores e pensadores, desde tempos remotos. Muitas obras chave da literatura universal têm por base este sentimento tão complexo, tão difícil de definir e de entender na sua plenitude, e tão fora do alcance de tantos seres humanos.
Amores trágicos como o célebre "Romeu e Julieta" de Shakespeare ou o "Amor de Perdição" do nosso não menos genial Camilo Castelo Branco, amores proibidos como "Madame Bovary" de Gustave Flaubert ou como os nossos fabulosos incestos Queirosianos: quem ainda leu (ou vai ler) o romance entre Carlos Eduardo da Maia e Maria Eduarda?, amores românticos como tão bem os descreveu Júlio Dinis em "Os Fidalgos da Casa Mourisca" ou "Uma Família Inglesa", ou o célebre "Orgulho e Preconceito" de Jane Austen.
Mais recentemente, e ainda que se queira negar o fenómeno por muitos considerado como literatura comercial ou mesmo "não-literatura", em especial desde a publicação da série erótica "As cinquenta sombras de Grey", a verdade é que, por todo o mundo, e Portugal não vem sendo excepção, tem-se assistido a uma assumida tendência para o consumo de romances eróticos contemporâneos com diversos subgéneros, com autoras com estilos muitos próprios, uns mais banais outros mais densos e menos estereotipados e que têm o mérito de criar hábitos de leitura em quem os não tinha, ou em ajudar a estimular a continuidade desses hábitos numa vida vivida à pressa, em ritmo de corrida!
Mas porquê um apanhado de referências literárias tão díspares ao iniciar estas linhas? Porque se assume, desde logo, que cada época literária reflecte naturalmente o espaço psicológico e social de cada tempo da história, porque quem leu os clássicos ainda que possa não estar consciente de tal facto e mesmo que se julgue imune a tais leituras terá de reconhecer que estas povoam o seu imaginário romântico, relacional e mesmo sexual! Quem nunca sonhou com Mr. Darcy, ou com Christian Grey (apenas para frisar duas personagens sintomáticas de visões totalmente opostas em termos de relações afectivas) que atire a primeira pedra...se for capaz!
Mas o que procuram as mulheres modernas e independentes na sua cara-metade hoje em dia?
Bem, já que vamos pensar, sejamos idealistas, afinal o Natal está próximo, e a célebre canção de Mariah Carey ecoa-nos na mente com o refrão: "All I Want for Christmas is you!"
Pois bem, do que resulta das habituais tertúlias femininas na versão nacional mais próxima possível da série "O Sexo e a Cidade", aqui ficam algumas conclusões básicas e sem pretensões:
O que valorizam as mulheres numa relação amorosa:
- Uma dose de romance qb, que quebre a rotina, fica a dica, adoramos ser raptadas para Paris ou para destinos mais exóticos como Marraquexe (os locais variam mas costumamos dar pistas a seguir pelos detectives mais atentos).
- Adoramos rosas vermelhas, um CD, um livro, um chocolate, uma garrafa de vinho para saborear a dois (os gostos variam, aqui ficam só alguns exemplos ilustrativos, mas fica dica: investiguem que logo descobrem como surpreender), e acreditem que o esforço compensa!
- Nenhuma mulher fica imune a um elogio sincero (e olhem senhores que temos um sensor especial que distingue os elogios sinceros daqueles que são ditos por "parecer bem").
- É importante que não subestimem ou temam a nossa inteligência e que saibam respeitar o nosso espaço (porque uma relação não pode, nem deve, ter por base a anulação do espaço ou esfera pessoal de cada membro)!
- Uma mensagem escrita, uma foto, um poema, um simples como está a ser o teu dia são boas formas de manter a chama acesa ao longo das monótonas jornadas de trabalho.
- A partilha de interesse por assuntos que estão mais ligados a cada um dos membros do casal, ainda que tal exija um esforço acrescido, estimula o espírito de partilha, de debate, de cumplicidade que devem também nortear um relacionamento!
- Momentos a dois, fugas, feriados, férias isentos de rotina e sem compromissos familiares são bem vindos!
- Gostamos de, idealmente, ter a nosso lado a combinação de um cavalheiro old school com um aventureiro que se atreva a embarcar em planos mais ousados a qualquer momento e sem aviso!
- Aceitar os amigos de cada um e conviver com os vários grupos de quando em vez também fomenta um ambiente relacional harmonioso e revela aceitação dos respectivos mundos que, por vezes, podem ser bem diferentes.
- Adoramos chegar a casa e termos o jantar preparado e a mesa posta, contarmos com a ajuda do parceiro em tarefas domésticas (por norma fastidiosas e morosas) e no apoio e entretenimento dos filhos, não sobrecarregando apenas um dos membros do casal (tantas vezes a mãe) é algo muito apreciado que mantém o equilíbrio de recursos disponíveis e força anímica entre os membros de uma relação, sendo também importante para um salutar desenvolvimento das rotinas familiares.
- Maturidade, estabilidade, espaço mental para uma relação, cedências mútuas, descobertas e aprendizagens permanentes, partilha, envolvimento, romance, aventura, atrevimento, surpresas, mimos são apenas alguns exemplos do amor dos tempos modernos (que nem é assim tão diferente do nosso imaginário intemporal).
Acima de tudo, gostamos de ser surpreendidas pela positiva, e nem é preciso, necessariamente, um anel de diamantes!
Mas afinal, o que é o amor? Para esta pergunta ainda não encontrei uma resposta definitiva, nem eu nem ninguém, mas confesso que me divirto sempre a revisitar os meus autores de eleição, são inspiradores!
"Amo como ama o amor.
Não conheço nenhuma outra razão para amar senão amar.
Que queres que te diga, além de que te amo, se o que quero dizer-te é que te amo?"
Fernando Pessoa