“…Ainda que a vida me finte, e traga à
minha porta ladrões ou tempestades, eu continuarei a abrir as minhas janelas…” AK
MBC
– Porquê o nome Ana Kandsmar?
AK
- A minha família tem uma história curiosa. A minha avó materna (extremamente
pobre) ter-se-á perdido de amores por um homem que a engravidou e desapareceu
da sua vida. Depois da minha mãe ter nascido, apareceu outro homem, (este com
posses) que perfilhou a bebé (minha mãe) e lhe deu o nome que foi depois
herdado por mim, anos mais tarde: Gaspar. Ora, segundo se conta, (ninguém na
família sabe muito bem se isto é verdade), esse meu “avô” não tinha Gaspar no
nome, mas sim Kandsmar e no registo da minha mãe, alguém nos serviços terá
entendido que o nome não seria válido por não ser português. O facto é que quem
conviveu com o meu avô (morreu quando a minha mãe tinha apenas 6 anos), divide-se
na atribuição da sua nacionalidade. Uns dizem que ele era berbere, outros
afirmam que ele era iraniano, e há até quem diga que ele era cigano. O certo, é
que Kandsmar é o original para Gaspar em Persa. Tendo em conta esta história,
que não acabou bem para a minha avó, (depois da morte do homem que a salvou da
miséria, acabou expulsa pelas irmãs deste e foi para a miséria que voltou
perdendo todo e qualquer contacto com a família) achei que devia fazer alguma
coisa com este nome. Usá-lo. Talvez um dia também faça alguma coisa com esta
história e a conte, encaixando-a num outro romance.
MBC
- O que te levou a começar por escrever Literatura Fantástica?
AK
- Eu sou fã de Literatura Fantástica. Aliás, eu sou fã de Literatura. Ponto. À
parte disso, acredito que escrever Fantasia tem muitas vantagens sobre a Ficção
mais realista ou sobre a Não Ficção e a ausência de limites é uma delas. No Fantástico
tudo é possível e o escritor pode realmente dar asas à imaginação. Tendo em
conta que o fantástico que eu gosto de escrever é aquele que agarra também no
que realmente existe e o “distorce” (um pouco como Dali na pintura) unir todas
as pontas sem deixar nenhuma solta, ou cozinhar todos os ingredientes sem
exagerar nos temperos, dá imenso trabalho, mas é muito gratificante. E quando
digo que dá imenso trabalho, digo que dá mesmo imenso trabalho. Sem qualquer
desprimor para quem escreve noutros géneros, é muito mais escritor quem escreve
no Fantástico (quando o trabalho é bem feito, claro!). A prova disso é que
demorei quase três anos a escrever A Guardiã- O Livro de Jade do Céu, e sete
meses e meio para escrever A Lenda do Havn.
AK
- Eu gostava que tivesse, mas uma coisa que constatei é que em Portugal o
Fantástico quando escrito por autores portugueses não é bem recebido. Mas
talvez escreva, mesmo que depois o guarde apenas para mim.
MBC
– No ano passado lançaste o teu primeiro romance “A Lenda do Havn” qual tem
sido a receptividade dos teus leitores?

AK
- Eu identifico-me com todos os géneros literários. Desde que bem escrito e com
uma narrativa que desperte em mim as mais variadas emoções, identifico-me. Isto
enquanto leitora. Todavia, enquanto autora, não tenho um posicionamento diferente.
Do que gosto mesmo é de escrever.
MBC
– Vais manter-te fiel só a esse género ou continuarás a surpreender-nos?
AK
-
Eu sou fiel a pessoas, não a coisas ou a ideias. Estou sempre em perpétua
mutação, em crescimento. Por isso, sim, escreverei sempre sobre o que na altura
fizer mais sentido para mim.
MBC
– Sei que tens uma agência de divulgação de novos autores a Bee Dynamic Books,
como te surgiu esta ideia?
AK
- A ideia da Bee surgiu quando percebi que entre os novos autores e os leitores
há uma espécie de muro intransponível. Vivemos numa época em que parece muito
fácil publicar, e é de facto, mas é muito difícil conquistar leitores. Isso é a
consequência natural da democratização das publicações. Por outro lado, o
mercado literário é cada vez mais um negócio como outro qualquer e as editoras
querem garantir vendas. Logo, não apostam nos autores cujo nome ninguém
conhece. E se é verdade que há muita gente a publicar que escrever francamente
mal, também há muita gente que escreve brilhantemente e que sem ajuda, não consegue
furar aquela tal parede invisível que os separa dos leitores.
MBC
– Quais são os serviços prestados pela agência?

MBC
– Tens algum plano imediato para avançares com a divulgação da Bee Dynamic
Books?
AK
- A Bee Dynamic Books está a ser tão divulgada quanto possível. Temos presença
nas redes sociais, na blogosfera, temos uma loja online para venda de livros
físicos, e-books e audiobooks. Claro que é preciso mais, mas tudo tem que ser
feito com alguma ponderação porque tudo custa dinheiro.
MBC
– Onde é que os leitores podem adquirir os teus livros?
AK
- Os meus livros estão à venda nas livrarias. As redes FNAC e Bertrand têm os
meus livros à venda. Para além destas, as lojas online também os têm, como a
WOOK, a FNAC, a Bee Dynamic Books em www.beedynamicbooks.pt e a loja online da editora.
MBC
– Queres deixar-nos os teus contactos nas redes sociais para que os leitores
possam seguir o teu trabalho?
AK
- Tenho uma página e um grupo no Facebook que os leitores podem seguir em: https://www.facebook.com/AnaKandsmar/.
Para além disso, existe também o blogue.
MBC
- E a resposta pela qual todos aguardamos, novidades para breve?
AK
- Para breve, não há nada em vista. Estou a reiniciar o processo de escrita,
mas confesso que não tenho pressa nenhuma de publicar. A minha preocupação é
escrever bem, criar um romance que transmita uma mensagem forte aos leitores,
que mexa com as emoções dos leitores e que, por fim, se torne inesquecível para
os leitores. Jamais serei uma dessas escritoras de clichés e lamechices, que publicam
um livro ou dois por ano e que têm a mesma relação com os livros que produzem
que um comerciante tem com as mercearias que vende. Ora, vender livros e vender
batatas não é a mesma coisa. Os escritores que se tornam “vendilhões do templo”,
nunca serão escritores e muito menos serão algum dia recordados enquanto
escritores. Serão sempre vendilhões e recordados como vendilhões. Não sei por
onde passará o meu caminho, mas sei por onde não passará e não será por aí.
“…Não sou perfeita. Tenho contrastes. Um
canto bem diferente do outro...uma divisão enorme onde guardo tudo e outra tão
pequena que não cabe lá nada…” AK
O meu especial agradecimento à Ana por nos provar que a vida pode ser muito mais do que aquilo que nos mostra mas para que isso aconteça devemos estar rodeados de quem mais amamos e nos ama, porque o amor incondicional existe.
Texto: MBarreto Condado
Fotos: disponibilizadas pela autora
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