"Escrever
é como respirar: uma necessidade…
talvez
sejam os genes"
Nasceu e cresceu no
Barreiro. Já adulta toma-se de amores por Lisboa e aí reside até hoje.
Profissionalmente
desempenhou cargos tão diversos como os de escrituraria, recepcionista,
tradutora, secretária, assistente de direcção; chefiou departamentos
empresariais; brincou com a locução de rádio e aos modelos fotográficos e
publicitários; foi empresária. Durante 30 anos fez do mundo empresarial privado
a sua casa, enquanto, secretamente e desde a adolescência, se realizava
verdadeiramente com a escrita.
Academicamente brilhava na área de eleição: letras. A formação em escrita criativa foi inevitável.
Academicamente brilhava na área de eleição: letras. A formação em escrita criativa foi inevitável.
O seu primeiro livro
publicado, "Joaninha e o jardim encantado", em Maio de 2015 com a
chancela da Capital Books, alerta os jovens, e também os adultos, para os
valores da amizade, da diversidade e incute o gosto pela aprendizagem.
Em Julho do mesmo ano dá a sua contribuição em "Todos por um", uma antologia de contos comemorativa do aniversário da editora, com
Em Julho do mesmo ano dá a sua contribuição em "Todos por um", uma antologia de contos comemorativa do aniversário da editora, com
Um ano depois, em Junho
de 2016 e num registo mais uma vez diferente, mantém os laços com a editora que
a viu nascer e lança, na Feira do Livro de Lisboa, "Por amor,
tudo(?)", com prefácio do Dr. Daniel Cotrim da APAV. Esta é uma estória
centrada na violência doméstica, fruto de um trabalho de campo muito sério
junto de vítimas reais e que lhe valeu um elogio público. Este é, também, um
livro que a autora fez questão que fosse solidário e apresenta o selo da APAV -
uma parte das receitas reverte para a instituição.
Em Fevereiro de 2018
decide aceitar mais um convite e abraçar outro desafio: é autora da rubrica
semanal "Uma mente inquieta" na "Nova Gazeta - Jornal
online".
Todos os domingos
apresenta uma crónica de opinião sobre os mais variados temas, que podem ser
actuais ou não.
Diz que para si
"escrever é como respirar: uma necessidade"; diz, a brincar, que
"talvez sejam os genes" - é prima de António Aleixo.
MBC - O que te motivou a
escrever e publicar?
CNA - Comecei a
escrevinhar historietas muito cedo, antes do início da adolescência, e as
pessoas que as liam pareciam gostar, professoras incluídas. Mais tarde
elogiavam-me a poesia e a forma como escrevia prosa. Por volta dos meus vinte
anos comecei a ouvir que devia publicar e assim continuou até me decidir a
fazê-lo, muito mais tarde, pois escrevia para mim, por pura paixão, posso quase
dizer necessidade – quase não me lembro de não escrever – e só pensei publicar
quando achei que tinha algo de útil a dizer aos outros. Gosto de contribuir
para a mudança positiva de mentalidades, de ajudar os outros a terem outras
perspectivas das coisas e não só escrever por escrever; isso qualquer um pode
fazer; escrever com o propósito de mudar algo, de tocar profundamente alguém ou
a sua vida, é muito mais difícil, mas também mais prazeroso e enriquecedor.
MBC – Não escreves
somente dentro de um género, vais continuar nesta linha ou dedicar-te somente a
um?

MBC – “Joaninha e o
Jardim Encantado” o teu primeiro livro era literatura infantil, mas transmite
uma forte mensagem. Queres contar-nos como te surgiu a ideia?
CNA - Sim, é verdade.
Pareceu-me que, sendo uma leitura infanto-juvenil, era importante que
contivesse algo positivo e transformador que contribuísse para a formação dos
nossos miúdos. Estórias de encantar já há muitas e no mundo actual, que é cada
vez mais cruel, em que os valores da amizade genuína, da empatia e da
entreajuda desinteressada se vão tornando raros, pensei que o que tinha escrito
há alguns anos para o meu filho poderia ser útil para outros. Assim nasceu a
Joaninha para o público, condimentada com o apontamento da igualdade na
diferença, fruto da minha própria vivência com vários miúdos portadores de
doenças raras, em que testemunhei, tantas vezes, a dor de não serem aceites
pelos seus pares, sem razão absolutamente nenhuma de existir, e o isolamento e
revolta a que isso leva.
MBC – Qual foi a reação
do público?

MBC – Já no teu segundo
livro “Por Amor, Tudo (?)” tocas num assunto infelizmente muito real, a
violência doméstica. Podes explicar aos nossos leitores porque te lembraste de
abordar este tema, quais foram as tuas fontes e quanto tempo demorou a
escrever.
CNA - Eu estava a compor
outro trabalho que tinha alguns apontamentos de violência psicológica e falei
com os meus editores da altura sobre isso; eles ouviram-me e perguntaram-me
porque é que eu não o fazia abordando a violência doméstica de forma crua;
reflecti e achei que podia ser uma boa ideia, o tema era actual e,
infelizmente, em crescendo e talvez dessa forma pudesse ajudar a
consciencializar quem vive esse drama a não deixar arrastar situações que podem
ter desfechos muito graves. Para o fazer de forma séria, pois para mim um
verdadeiro escritor tem que “sentir” aquilo que escreve, decidi contactar
vítimas reais deste flagelo e foi a partir delas que a Isabel, a personagem
principal, tomou forma. Após estes contactos a escrita fluiu e o processo foi
rápido: quatro a cinco meses bastaram para o livro estar pronto, até porque,
por insistência da editora, é uma estória pequena.
MBC – Neste livro tinhas
uma parceria com um grupo de apoio a estas vítimas, explica-nos como foi feita
e qual foi a divulgação deste teu trabalho.
CNA - Contactei a APAV e
expliquei-lhes as minhas pretensões. Inicialmente houve
algum receio por parte
deles, claro, não me conheciam de lado nenhum, mas depois de algumas conversas
creio que viram a seriedade das minhas intenções e permitiram-me o contacto com
vítimas numa casa abrigo. Estar-lhes-ei eternamente grata, quer à instituição,
quer a todas as mulheres com quem conversei, pois foi tão doloroso quanto
gratificante. Custou-me muito fazê-las falar sobre o seu inferno, perceber as
suas feridas, os silêncios… ao mesmo tempo que me ensinavam tanto sobre a
natureza humana, quer da vítima, quer do agressor, e no fim sorriam já
confiantes e aliviadas – gosto de pensar assim – por terem exorcizado alguns
demónios com aquela partilha.
A divulgação,
infelizmente, não foi a esperada, nem a que o tema merecia. A meu ver, a
editora não fez um bom trabalho nesse sentido e, sendo eu uma autora
praticamente desconhecida do público, este livro não chegou onde eu gostaria
que chegasse: ao maior número de pessoas, pois considero que não é demais falar
sobre algo que está a destruturar as famílias, a criar novos agressores pelo
exemplo e a matar seres humanos gratuitamente, com os números a aumentarem ano
após ano.
MBC – Pretendes escrever algo
diferente num futuro próximo?
CNA - Claro que sim. Para
o público já escrevi um conto infantil, uma estória centrada na violência
doméstica e um conto policial e agora talvez surja uma grande estória de amor…
nunca se sabe.
MBC – Onde é que os
leitores podem adquirir os teus livros?
CNA - Actualmente, através
de mensagem na minha página de autora no Facebook. Qualquer alteração também é
por lá que será comunicada.
MBC – Queres deixar-nos
os teus contactos nas redes sociais para que os leitores possam seguir o teu
trabalho?
CNA - Claro, aliás, é a
forma mais segura de terem todas as actualizações.
Facebook: www.facebook.com/CristinaDasNevesAleixo
Instagram: cristinanaleixo
Goodreads: Cristina Das Neves Aleixo
MBC - E a pergunta que
todos queremos saber novidades para breve?
CNA - Anda qualquer coisa
na forja…
O meu especial
agradecimento à autora pela sua
disponibilidade mas principalmente por ter a coragem de ser mais uma voz a expor assuntos que infelizmente nos dizem tanto mas para os quais continuamos a fechar os olhos. E que essa necessidade que afirma sentir nos seus genes continuem a mover-lhe a caneta com a mesma força com que respira e que nos volte a surpreender.
Texto: MBarreto Condado
Fotos: disponibilizadas pela autora
Eu é que agradeço pelo interesse e pelas sempre maravilhosas palavras, Madalena Condado.
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