"A emancipação que as mulheres procuravam afigurava-se-lhes
como algo demoníaco que não podiam aceitar, pois punha em causa toda a sua vida"
MBC – Quem é a Maria Cecília?
MC- Sou uma mulher que aceitou a vida
conforme ela se me apresentou e sempre fiz o melhor que conseguia. Nasci no Jardim do Mar, uma aldeia linda onde
habitam pouco mais de 200 almas. Aos seis anos fui para a América do Sul, mais concretamente
para a Venezuela onde vivi toda a minha infância e adolescência. Aos 24 anos
regressei à aldeia que me viu nascer, para completar o meu crescimento. Fui
secretária, vendedora, costureira, comerciante, empregada numa cooperativa, e
responsável de uma biblioteca itinerante, tudo isto na Madeira.
Com as
voltas que a vida dá acabei por casar em Lisboa com um alfacinha de gema e fui
mãe de dois filhos, um menino e uma menina.
Casei
tarde e dediquei-me à família. Guardei
todos os meus outros sonhos à espera do dia em que pudesse realizar algum. Um deles era escrever. Enquanto esperava, lia.
Lia muito.
Mas na
verdade escrevi sempre em segredo, pois descobri que ao colocar em palavras as
alegrias e angústias, o coração aliviava.
Acredito
que nunca é tarde.
MBC – Tens dois livros publicados com
a Chiado Editora “História em Pedacinhos – As casas da minha infância e os
tempos de Chá sem Açúcar” e no passado mês de Dezembro “A Filha da Mãe, os
bocadinhos que faltavam” queres falar-nos um pouco deles e de como te surgiu a
ideia para os escreveres?
MC - Fui para a Venezuela com seis
anos de idade, não conhecia o meu pai que tinha emigrado quando eu era ainda
bebé. História em Pedacinhos conta esse reencontro. Não fui apenas para um novo
país, fui para uma realidade muito diferente daquela que conhecia para encontrar
o pai, um “pai-homem estranho”. Quase tudo nesse livro é passado na Venezuela,
quando falo da Madeira é através das minhas recordações e, sobretudo, das
lembranças da minha mãe. Recuo a um tempo anterior à minha existência. É um
saltitar entre dois mundos e tempos diferentes.
Na Filha da Mãe é quase tudo passado na
Madeira, com alguns saltos para a Venezuela como forma de justificar algumas
atitudes da jovem mulher. Nos dois livros tanto a Madeira como a Venezuela
estão presentes. É um livro leve, onde as tragédias se transformam em momentos
de aventura.
MBC – Nasceste na Madeira e emigraste
muito jovem com os teus pais para a Venezuela, e os teus livros desenrolam-se
na Madeira porque não na Venezuela?
MC – O livro História em Pedacinhos foi
escrito como o nome indica, em pedacinhos, ao longo de vários anos. A ideia era
fazer um caderno de recordações, contar episódios da vida dos meus pais que os
meus irmãos mais novos desconheciam. Considerava que era uma época muito
interessante e gostaria que todos eles pudessem conhecer. No entanto, depois de
tudo organizado e com uma sequência lógica, percebi que talvez, desse um bom
livro. E assim, por impulso, com muitas dúvidas, enviei para a editora Chiado,
que me fez uma proposta de edição que aceitei.
História
em Pedacinhos é narrada por uma criança que observa e relata à sua maneira, as
desventuras familiares. É uma história de emigração, fala de saudade e
adaptação a uma nova forma de vida, fala de decepção, de sonhos perdidos e da constante
luta parar manter as tradições. Mas fala também desse novo mundo, esse novo
país, a Venezuela, onde cresceu.
A Filha
da Mãe surgiu como uma necessidade de dar resposta aos leitores que perguntavam
o que tinha acontecido àquela menina. A Filha da Mãe é aquela menina que aprende
a ser mulher.
A Filha
da Mãe é o avesso da emigração, é um regresso ás origens, ao lugar que deixou
na infância, à sua antiga casa, mas é sobretudo o seu crescimento interior, a
liberdade, a vida real. O corte do cordão umbilical.
“História
em Pedacinhos” apenas sugere os lugares e poucos personagens têm nome, na “A
Filha da Mãe” decidi dizer os nomes de algumas pessoas e lugares,
particularmente da aldeia, tornando a história mais autêntica.
“História
em Pedacinhos” termina quando se inicia uma viagem. “A Filha da Mãe” já apanha o
final dessa viagem.
Não se
trata apenas de um exercício egocêntrico, não os considero uma biografia, mas
sim uma autobiografia na medida em que é baseado em acontecimentos reais, estes
livros são um pretexto para falar de pessoas, lugares e acontecimentos que
ajudaram a moldar uma nova mulher. Como digo
no final, antes de iniciar uma outra viagem:
” ….
Deixo a ilha, mas vou moldada, esculpida, mesmo que de uma forma incompleta e
imperfeita…” cada chegada é sempre um ponto de partida.
Embora os
personagens principais sejam os mesmos, cada um dos livros pode ser lido
independentemente, mas é claro, quem lê o primeiro “História em Pedacinhos” vai
entender melhor “A Filha da Mãe”.
MBC – Devido às diferenças culturais
entre os dois países achas que os teus livros seriam muito diferentes se os
tivesses escrito com a Venezuela como pano de fundo ou a base deles reside na
educação portuguesa, independentemente do pais onde se encontre?
MC – Creio que se trata do modo de
vida, a educação, as raízes. É o problema da emigração que divide o coração e
faz com que as pessoas a certa altura já não saibam muito bem de onde são. Não
sei como seria se o tivesse escrito na Venezuela, mas acredito que seria bem diferente
se não tivesse voltado à ilha.
MBC – Em que género te enquadras enquanto
escritora?
MC – Realmente não sei em que género me
enquadro. A editora colocou-me na colecção Viagens
na Ficção.
MBC – Tens alguma nova história para o
próximo ano já em andamento?
MC - Tenho dois livros em andamento e
não sei qual estará terminado primeiro. Ambos fogem ao registo dos livros que
já publiquei. Arrisco no romance, veremos o que vai sair! E mais não digo, pois
não sei o que vai acontecer!
MBC – Onde é que os leitores podem
adquirir os teus livros?
MC - Os meus livros podem ser
adquiridos na Chiado Books online, assim como nas livrarias Bertrand, por
encomenda ao balcão ou online, na Wook, e nas FNAC online. Também em algumas
livrarias tradicionais, como a Livraria Esperança, no Funchal.
MBC – Queres deixar-nos os teus
contactos nas redes sociais para que os leitores possam seguir o teu trabalho?
MC - Podem visitar-me nas minhas
páginas do Facebook:
Ou
podem encontrar-me na Goodreads e ver as Reviews em:
MBC – Tens algo que gostarias de dizer
aos teus leitores bem como àqueles que te ficaram a conhecer um pouco melhor
depois desta entrevista?
MC - Aos leitores só peço que comprem e
leiam os meus livros, tenho a certeza que irão gostar. E que aproveitem e deixem
as vossas opiniões, por mensagem privada ou nos comentários das páginas.
Mas
sobretudo, leiam, por favor leiam muito.
Aproveito
para desejar um bom 2019!
“Era só um amigo e aquele beijo foi uma coisa tonta e
sensaborona”
Obrigada Maria Cecília pela tua escrita, pela
disponibilidade, força, experiência mas sobretudo pela tua amizade e alegria.
Texto: MBarreto
Condado
Fotos:
Disponibilizadas pela autora
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