Nas livrarias a 27 de Agosto
Nos seus tempos de cônsul em Inglaterra e França,
Eça de Queirós endereçou a Ramalho Ortigão algumas cartas sobre um romance que
tencionava escrever, prevendo o seu êxito retumbante e deliciando-se com o escândalo
que provocaria na sociedade portuguesa, que detestaria ver a Pátria retratada
como uma nação miserável à boleia do mundo e humilhada por uma invasão
espanhola, mesmo que isso acabasse por regenerá-la. É a partir dessas cartas e
de um conto que Eça deixou incompleto (A
Catástrofe) que Mário Cláudio constrói o presente romance, colocando,
aliás, no centro da intriga, o escritor oitocentista lutando quotidianamente
com as angústias da criação literária. Mas, se em vida a obra ficou pelo
caminho, na ficção ela vai-se cumprindo página a página, para gáudio dos
leitores que, assim, poderão assistir aos últimos vinte anos da vida de Eça,
doente e cansado como o seu Portugal decadente, e à grande prosa de Mário
Cláudio que, dialogando magistralmente com a obra queirosiana, nunca corre o
perigo de se deixar contaminar.
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