quinta-feira, 3 de outubro de 2019

ENTREVISTA | ESCRITORA E CRONISTA DO NOSSO JORNAL R.C. VICENTE


"Quem nasce com alma de Dragão, raramente possui personalidade de Borboleta"
R.C. Vicente

MBC – Porquê a utilização do nome R.C. Vicente e não Raquel Vicente?
RCV – Bastante simples: Infelizmente, nos dias de hoje, os leitores portugueses não querem autores portugueses, e no geral, os leitores de fantasia não querem ler mulheres. R.C. Vicente não está conectado a género ou nacionalidade, é livre como eu o sou, e é sem dúvida uma excelente estratégia de vendas.

MBC - O que te levou a escrever Literatura Fantástica?
RCV - A minha necessidade de fugir ao mundo real, mas principalmente de eternizar tudo. Nunca aceitei bem a morte, então tive de criar um lugar onde viver para sempre era possível. A isto juntou-se o meu azar na vida; nos meus vinte e três anos nunca me consegui encaixar na sociedade ou ser bem recebida por quem a povoa. Sempre o bicho esquisito e rejeitado: demasiado estranha, complicada, nunca o suficientemente boa. Se o mundo nunca me amou porque haveria de permanecer nele? Fujo sempre que posso para o paraíso retorcido que criei. Podem forçar o meu corpo a permanecer num lugar, a comportar-se de determinada maneira. Nunca a minha alma ou a minha mente. São livres. Graças à literatura fantástica. E também agradeço ao autor Stuart Hill que sem imaginar me introduziu ao género e me fez amar a arte de ler.
Foi isto. Sei lá. Escrevo literatura fantástica para me sentir viva.

MBC– Só escreves dentro deste género?
RCV - Escrevo qualquer género, menos poesia. Amo desafiar-me com novos estilos.

MBC – Dragões? Uma paixão ou citando-te “Quem nasce com alma de Dragão, raramente possui personalidade de Borboleta”.
RCV – Dragões, mas não uns comuns. São titãs. Filhos de Deuses enviados ao mundo que assustaram os mortais e conquistaram, para além do nome de dragão, o título de Titãs pelo seu tamanho atroz e aparência e poderes desmesurados. Vivem sob a forma humana, um pequeno castigo divino pelo susto dado aos mortais. E não podem ser montados ou domados. Racionais como um humano, poderosos como um Deus, e cobertos por espinhos afiados que trespassam rocha como se fosse papel. Enfim, sempre foram criaturas que admirei e quis dar-lhes a minha abordagem, de certa forma recriá-los.
Quanto às personalidades dos meus queridos, não… não são de borboleta.

MBC – Sendo “O Ressurgir dos Eternos Titãs” o primeiro livro da saga “As Crónicas de Amindrius, Bérnia e Efendes” a questão que se coloca é para quando o segundo volume?
RCV - Desde os meus cinco anos que desenvolvo esta história. Escrevo-a desde os meus quê? Treze? Catorze anos? Publiquei-a apenas quando tinha vinte ou vinte e um. Portanto, o segundo volume vai demorar. Na melhor das hipóteses, final de 2019. Na pior? Não queiram saber os leitores…

MBC – Sei que escreveste outro livro com um pseudónimo queres dizer-nos qual o motivo da tua escolha, se te manténs na literatura fantástica e desvendar-nos um pouco da história?
RCV - Sulmun e o Senhor do Inverno. É um livro infantil, inspirado no Principezinho. É fantasia. Foi uma ideia, queria criar uma história para homenagear todas as crianças vítimas de cancro e até ajudar. Não resultou. Foi um falhanço completo em termos de venda, mas um grande sucesso do meu ponto de vista moral e sentimental. Coloquei no papel o meu amor duro. Nunca tive jeito para crianças, e sempre apregoei que não quero ter filhos; mas a verdade é que as crianças assustam-me, não sei como lidar com elas, como abordá-las, e o maior dos meus sonhos é ser mãe. Sou um osso duro de roer. Não aprecio admitir, mas amo crianças. E acho um crime elas poderem sucumbir antes sequer de viverem.  Portanto, escrevi este livro para elas. É uma história triste e, ao mesmo tempo, feliz.
Assinei com um pseudónimo inspirado em nomes nórdicos pelo já dito: ninguém quer ler uma Raquel Vicente, mas todos querem ler um Jörd Thörsten Vain.

MBC – No final do ano passado a Chiado Editora publicou um livro de contos de fantasia que contou com a participação não só de autores já publicados, mas também de alguns contos de potenciais escritores de fantasia do qual sei que foste a responsável pela edição e coordenação da recolha dos textos bem como a fantástica capa que foi na sua totalidade idealizada e feita por ti. Como te sentiste quando viste o trabalho feito? 
RCV - Senti-me realizada. Ficou lindo. Jamais poderei agradecer o suficiente aos autores pela honra que me concederam. 
Mas é experiência que não repetirei. Foi algo agridoce. Uma carícia no rosto e, simultaneamente, um murro no estômago. Por motivos que guardo para mim mesma.

MBC – Onde é que os leitores podem adquirir os teus livros?
RCV – Wook, FNAC, Bertrand, ou directamente a mim, através das minhas redes sociais!


MBC – Queres deixar-nos os teus contactos nas redes sociais para que os leitores possam seguir o teu trabalho?
RCV - instagram: r.c.vicente
Facebook: writer.rcvicente

MBC - E a pergunta que todos queremos saber novidades para breve?
RCV - Novidades para o Verão!  Acabo de assinar contrato com uma nova editora. Tudo oficializado. Mas os detalhes ficam para Agosto! Até lá… estejam atentos.







Acredito que a vida ainda tem muitas surpresas guardadas para a R.C. Vicente. Se ainda é difícil entrar no mercado literário português pelos mais diversos motivos, não se esqueçam que "quem nasce com alma de Dragão..." não encontrará obstáculos que não consiga contornar. E os seus Eternos Titãs estarão bem vivos enquanto a sua criadora continuar a soprar com o fogo da sua escrita.

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