"Quem
nasce com alma de Dragão, raramente possui personalidade de Borboleta"
R.C. Vicente
MBC – Porquê a utilização
do nome R.C. Vicente e não Raquel Vicente?
RCV – Bastante simples:
Infelizmente, nos dias de hoje, os leitores portugueses não querem autores
portugueses, e no geral, os leitores de fantasia não querem ler mulheres. R.C.
Vicente não está conectado a género ou nacionalidade, é livre como eu o sou, e
é sem dúvida uma excelente estratégia de vendas.
MBC - O que te levou a
escrever Literatura Fantástica?
RCV - A minha necessidade
de fugir ao mundo real, mas principalmente de eternizar tudo. Nunca aceitei bem
a morte, então tive de criar um lugar onde viver para sempre era possível. A
isto juntou-se o meu azar na vida; nos meus vinte e três anos nunca me consegui
encaixar na sociedade ou ser bem recebida por quem a povoa. Sempre o bicho
esquisito e rejeitado: demasiado estranha, complicada, nunca o suficientemente
boa. Se o mundo nunca me amou porque haveria de permanecer nele? Fujo sempre
que posso para o paraíso retorcido que criei. Podem forçar o meu corpo a
permanecer num lugar, a comportar-se de determinada maneira. Nunca a minha alma
ou a minha mente. São livres. Graças à literatura fantástica. E também agradeço
ao autor Stuart Hill que sem imaginar me introduziu ao género e me fez amar a
arte de ler.
Foi isto. Sei lá. Escrevo
literatura fantástica para me sentir viva.
RCV - Escrevo qualquer
género, menos poesia. Amo desafiar-me com novos estilos.
MBC – Dragões? Uma paixão
ou citando-te “Quem nasce com alma de Dragão, raramente possui personalidade de
Borboleta”.
RCV – Dragões, mas não uns
comuns. São titãs. Filhos de Deuses enviados ao mundo que assustaram os mortais
e conquistaram, para além do nome de dragão, o título de Titãs pelo seu tamanho
atroz e aparência e poderes desmesurados. Vivem sob a forma humana, um pequeno
castigo divino pelo susto dado aos mortais. E não podem ser montados ou
domados. Racionais como um humano, poderosos como um Deus, e cobertos por
espinhos afiados que trespassam rocha como se fosse papel. Enfim, sempre foram
criaturas que admirei e quis dar-lhes a minha abordagem, de certa forma
recriá-los.
Quanto às personalidades dos meus
queridos, não… não são de borboleta.
MBC – Sendo “O Ressurgir
dos Eternos Titãs” o primeiro livro da saga “As Crónicas de Amindrius, Bérnia e
Efendes” a questão que se coloca é para quando o segundo volume?
RCV - Desde os meus cinco
anos que desenvolvo esta história. Escrevo-a desde os meus quê? Treze? Catorze
anos? Publiquei-a apenas quando tinha vinte ou vinte e um. Portanto, o segundo
volume vai demorar. Na melhor das hipóteses, final de 2019. Na pior? Não
queiram saber os leitores…
MBC – Sei que escreveste
outro livro com um pseudónimo queres dizer-nos qual o motivo da tua escolha, se
te manténs na literatura fantástica e desvendar-nos um pouco da história?
RCV - Sulmun e o Senhor do
Inverno. É um livro infantil, inspirado no Principezinho. É fantasia. Foi uma
ideia, queria criar uma história para homenagear todas as crianças vítimas de
cancro e até ajudar. Não resultou. Foi um falhanço completo em termos de venda,
mas um grande sucesso do meu ponto de vista moral e sentimental. Coloquei no
papel o meu amor duro. Nunca tive jeito para crianças, e sempre apregoei que
não quero ter filhos; mas a verdade é que as crianças assustam-me, não sei como
lidar com elas, como abordá-las, e o maior dos meus sonhos é ser mãe. Sou um
osso duro de roer. Não aprecio admitir, mas amo crianças. E acho um crime elas
poderem sucumbir antes sequer de viverem.
Portanto, escrevi este livro para elas. É uma história triste e, ao
mesmo tempo, feliz.
Assinei com um pseudónimo
inspirado em nomes nórdicos pelo já dito: ninguém quer ler uma Raquel Vicente,
mas todos querem ler um Jörd Thörsten Vain.
MBC – No final do ano
passado a Chiado Editora publicou um livro de contos de fantasia que contou com
a participação não só de autores já publicados, mas também de alguns contos de
potenciais escritores de fantasia do qual sei que foste a responsável pela edição e coordenação
da recolha dos textos bem como a fantástica capa que foi na sua totalidade
idealizada e feita por ti. Como te sentiste quando viste o trabalho
feito?
RCV - Senti-me realizada.
Ficou lindo. Jamais poderei agradecer o suficiente aos autores pela honra que
me concederam.
Mas é experiência que não
repetirei. Foi algo agridoce. Uma carícia no rosto e, simultaneamente, um murro
no estômago. Por motivos que guardo para mim mesma.
MBC – Onde é que os
leitores podem adquirir os teus livros?
RCV – Wook, FNAC,
Bertrand, ou directamente a mim, através das minhas redes sociais!
MBC – Queres deixar-nos os
teus contactos nas redes sociais para que os leitores possam seguir o teu
trabalho?
RCV - instagram:
r.c.vicente
Facebook: writer.rcvicente
MBC - E a pergunta que
todos queremos saber novidades para breve?
RCV - Novidades para o
Verão! Acabo de assinar contrato com uma
nova editora. Tudo oficializado. Mas os detalhes ficam para Agosto! Até lá…
estejam atentos.
Acredito que a vida ainda tem muitas surpresas guardadas para a
R.C. Vicente. Se ainda é difícil entrar no mercado literário português pelos
mais diversos motivos, não se esqueçam que "quem nasce com alma de
Dragão..." não encontrará obstáculos que não consiga contornar. E os seus
Eternos Titãs estarão bem vivos enquanto a sua criadora continuar a soprar com
o fogo da sua escrita.
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