"Podem parar de me publicar, mas
nunca deixarei de escrever"
A convite da editora Saída de Emergência, tivemos a
possibilidade de conversar durante a Comic Con 2019, no Passeio Marítimo de Algés,
com a autora americana Naomi Novik sobre o seu livro “Coração Negro”,
traduzido e publicado pela primeira vez em Portugal, em Agosto do ano
passado.
Naomi Novik estudou Literatura Inglesa formando-se em
Ciência de Computadores na Universidade da Columbia. Publicou o seu primeiro
romance “O Dragão de Sua Majestade” em 2007, tendo recebido a nomeação para o Prémio
Hugo, o Prémio Compton Crook e o Prémio John W. Campbell para
Melhor Novo Escritor de Ficção Científica.
Recebeu
ainda o Prémio Nebula para Melhor Romance e o Prémio Locus para
Melhor Romance de Fantasia. A autora falou-nos sobre o livro editado pela
editora Saída de Emergência “Coração Negro, do seu mais recente livro “Spinning
Silver” e dos seus planos futuros deixando misteriosamente no ar um
projecto sobre o qual não pode falar.
NN – Ainda não tive nenhuma, mas posso
dizer o que desejo. A minha maior gratificação seria sentir que as pessoas se
conectaram com o livro, até porque este livro para mim representa as ligações
existentes dentro de uma comunidade e a forma como todos convergimos para a
fazer crescer. Para mim as nossas acções dentro da comunidade onde estamos
inseridos são uma forma de heroísmo e enquanto escritora tento fazer a minha
parte através daquilo que escrevo, alimentando os leitores de fantasia da mesma
forma como outros escritores fizeram comigo. Sinto que esta é a minha maneira
de retribuir à comunidade da literatura fantástica.
MBC – Já tinha visitado Portugal?
NN
– Não! É a minha
primeira vez e confesso que estou a adorar.
MBC
– Teve
oportunidade de passear pela cidade?
NN – Infelizmente ainda só tive um
dia para explorar Lisboa, porém, aproveitei-o o melhor que consegui. Subi ao castelo
de S. Jorge, passei pelas ruínas do Teatro Romano e adorei a sensação que senti
ao fazê-lo.
A vista do castelo é estonteante. Ao
olharmos para baixo, para a cidade, conseguimos distinguir a sua vasta
história, camada por camada tal como vemos a casca de uma cebola ou os anéis de
uma árvore. A sensação que tive foi que estava num local muito antigo,
independentemente de vislumbrar contentores, um porto ainda em uso, a ponte, prédios
antigos que se confundem com a moderna arquitectura, soube que estava num lugar
onde os humanos vivem e trabalham há milhares de anos.
Em Lisboa, tive a noção de que estava
num lugar mágico, o sentimento que tomou conta de mim foi o mesmo que tanto me
fascina na fantasia, a sensação de tocar noutro mundo.
MBC – “Spinning
Silver” o seu mais recente livro é de alguma forma a continuação de
“Coração Negro”?
NN – Não. São
ambos livros autónomos.
MBC
– O que os
diferencia?
NN – Maioritariamente
o facto da acção não se passar no mesmo universo. Porém, posso afirmar que
“Coração Negro” é o livro da minha herança materna enquanto que “Spinning
Silver” é totalmente um livro do meu lado paterno.
MBC – Pode explicar-nos o porquê dessa distinção?
NN – A minha
mãe é Polaca Católica e o meu pai é judeu Lituano tendo vivido a maior parte da
sua vida na Rússia. Tiveram ambos experiências de vida muito diferentes,
acabando por emigrar para os Estados Unidos.
Eu considero estes dois livros como
irmãos. Fazem parte da mesma árvore genealógica e por não estarem no mesmo
universo a magia deles é diferente, as personagens são diferentes. No entanto,
acho que os leitores que gostarem de “Coração Negro” vão gostar de “Spinning
Silver” e vice-versa. Só ainda não sei se “Spinning Silver” será
traduzido para português.
MBC – O que pensa das traduções dos
seus livros? Sente que perdem o significado que colocou nas palavras?
NN
– Julgo que em
qualquer tradução se perde algo. É muito difícil capturar citações do idioma
original, as nuances de palavras individuais. Na minha opinião um bom tradutor
realiza uma transformação que permite aos leitores aproximarem-se o mais
possível das palavras originais do escritor não lhes tirando a força ou
alterando o seu significado.
MBC – Como lhe surgem as ideias? Como sabe sobre o que vai escrever?
NN – Ideias tenho-as a todo o
momento. Nunca sei especificamente sobre como iniciar até
me sentar e escrever
a primeira linha. Para mim é muito difícil dizer de
onde surgem as ideias. Por exemplo com “Coração Negro” só me apercebi que
estava ligado à minha mãe quando já tinha escrito entre cinco a seis mil
palavras, no momento em que alguém disse o nome dos personagens e me apercebi
que o nome dela era Agnieska e que esse nome era o da personagem de um
dos meus contos favoritos em criança. O mesmo que a minha mãe me costumava ler.
Mas apesar dessas coincidências a
ideia é minha e acabo sempre por encontrar o meu caminho.
MBC – Onde encontra tempo para fazer tudo o que faz?
NN – Não
encontro! Quando a minha filha nasceu reduzi a minha actividade, mas agora já
tem oito anos e consegui retomar lentamente o que fazia anteriormente. O que é
óptimo porque sinto que tenho mais histórias para contar do que tempo para as escrever.
A verdade é que leio muito menos do que lia antes, quase não vejo televisão e
raramente vou ao cinema.
MBC – Tenta
nutrir a imaginação da sua filha como a sua mãe fez consigo?
NN – Tento.
Mas ela já não gosta que lhe leia. O que faço agora diferente é escrever os
livros imaginando-a lendo-os e sim penso na maneira de os tornar atractivos de
forma a motivarem-na tal como a minha mãe fazia comigo.
MBC – Planos futuros? Não só com a
publicação de mais livros, mas talvez com videojogos?
NN – Tenho algo que me dá imenso
prazer a sair brevemente, mas é um assunto sobre o qual não posso falar. Porém,
posso adiantar que estou a trabalhar numa trilogia e que ainda hoje antes de
sair do hotel troquei emails com os meus editores sobre possíveis títulos.
O
mais engraçado é que quando decidi escrever esta história, informei-os que iam ser
dois livros e que os queria acabar antes de publicarem o primeiro, queria
termina a história. Porque na verdade sinto que só quando chego ao final me
apercebo do que trata a história e depois quero voltar a lê-lo para o rever.
Os
meus editores concordaram, mas quando lhes entreguei o primeiro livro foi
quando me apercebi que na realidade queria escrever três. Acharam uma excelente
ideia, mas avisaram-me de imediato que não me davam mais tempo para os
terminar. Por esse motivo tenho que acabar os outros dois até Março de 2020. Esse
é o meu actual prazo para a entrega.
MBC
– Não é pouco
tempo para acabar dois livros?
NN – Como não parei de escrever após
terminar o primeiro, já tenho cerca de um terço do segundo escrito. Por isso
penso que vou conseguir cumprir o prazo.
MBC – E estas viagens para
apresentação não lhe tiram muito tempo?
NN – Esta é a minha última viagem.
Depois encerro-me em casa até os acabar.
MBC – Tem alguma mensagem que queira
deixar aos leitores portugueses?
NN
– Que leiam muito
e que sintam sempre prazer ao fazê-lo.
Sinopse:
“O
nosso Dragão não devora as raparigas que leva, independentemente das histórias
que possam ser contadas fora do nosso vale. Ouvimo-las, por vezes, de viajantes
que por aqui passam. Falam como se estivéssemos a fazer sacrifícios humanos e
como se ele fosse um dragão verdadeiro. Claro que isso não é verdade: ele pode
ser um mago imortal, mas não deixa de ser um homem, e os nossos pais
juntar-se-iam e matá-lo-iam se ele quisesse devorar uma de nós a cada dez anos.
Ele protege-nos contra o Bosque e nós estamos-lhe gratos, mas não assim tão
gratos.”
Agnieszka adora a sua pacata aldeia no vale,
as florestas e o rio cintilante. Mas o maléfico Bosque permanece na fronteira e
a sua sombra ameaçadora paira sobre a vida da jovem.
O povo depende do feiticeiro conhecido apenas por Dragão para manter os poderes de Bosque afastados. Mas o Dragão exige um terrível preço pela sua ajuda: uma jovem deve servi-lo durante dez anos, um destino quase tão terrível como perecer a Bosque.
O povo depende do feiticeiro conhecido apenas por Dragão para manter os poderes de Bosque afastados. Mas o Dragão exige um terrível preço pela sua ajuda: uma jovem deve servi-lo durante dez anos, um destino quase tão terrível como perecer a Bosque.
A
próxima escolha aproxima-se e Agnieszka tem medo. Todos sabem que o
Dragão irá levar a bela, graciosa e corajosa Kasia, tudo aquilo que Agnieszka
não é, e a sua melhor amiga no mundo. E não há forma de a salvar. Mas Agnieszka
teme as coisas erradas. Porque quando o Dragão chega, a sua escolha surpreende
todos...
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