Dia Três
Esquecemos diariamente de agradecer a maior dádiva que nos foi oferecida.
A Vida!
A nossa maior preocupação continua a ser sentirmos que não temos o suficiente, que devíamos, merecíamos ter mais.
Só pelo facto de acordarmos e respirarmos num novo dia devíamos estar gratos. Aproveitar para honrar a memória de quem nos agraciou com tão grande oferta. Mesmo que já não esteja entre nós, sem nos esquecermos de quem ainda está. Com quem felizmente ainda podemos conversar, gritar, rir, chorar, tocar.
O nosso obrigada a quem partiu. Independentemente dos mais dispares sentimentos que ficaram, das mágoas, de tudo o que ficou por dizer, por fazer.
A quem fica devemos-lhes tudo, a verdade é que também não sabemos quanto tempo ainda nos resta.
Dizem que não pedimos para nascer.
Mas felizmente para nós, foi-nos permitido respirar e, começar a vida que nos está reservada. Com todos os seus altos e baixos. E, independentemente dos solavancos que encontraremos, devemos fazê-lo sempre de cabeça erguida.
Iremos cair! Levantar-nos! Voltar a cair! Porém, voltaremos uma vez mais a erguer-nos. Sacudindo após cada queda, com maior ligeireza o pó que já não se agarra a nós como o fazia no início.
Cada pedra que encontrarmos a tapar-nos a passagem, com maior ou menor esforço afastamo-la sem a deitamos fora porque todas fazem, parte do caminho que nos estar reservado. Pontuado aqui e ali com as marcas das nossas mãos. As lembranças que deixaremos a quem nos conheceu e foi permitido percorrer parte desse caminho na nossa companhia.
Será um número restrito de pessoas? Só depende de nós e das nossas escolhas.
A nossa estrada será sulcada de obstáculos, buracos de desespero, montes de felicidade, rios de tristeza, vales de amor, e serão só nossos.
Não escolhemos a família que temos!
Mas se o pudéssemos fazer, escolheríamos melhor?
Reencarnamos numa tentativa de nos reencontrarmos e corrigir o mal que fizemos em vidas passadas?
Mas e se nesta vida fizermos exactamente o mesmo?
Ser-nos-á dada uma última oportunidade? Seremos castigados ou recompensados?
O que é certo? O que é errado?
Os nossos sentimentos, as nossas acções estão correctas ou estaremos tão convencidos da nossa perfeição que não prestamos a devida atenção ao que nos rodeia?
O tempo que temos é curto para respondermos a todas estas questões, para fazermos o que ainda não fizemos, lermos os livros que ainda não foram escritos, viajar para aquele local cuja existência desconhecemos.
A família é-nos imposta pelo sangue?
NÃO!
Família é quem nos quer bem, quem desejamos ter ao nosso lado para sempre.
E nunca é tarde demais para dizer…BASTA!
Chegou a altura de afastarmos os vórtices que nos sugam a energia e, deixarmos de ser meros capachos de caprichosos ignóbeis.
Na nossa família partilhamos parte do nosso ADN, mas a pessoa em que nos tornamos depende somente das nossas decisões. As mesmas com as quais teremos que viver.
Arrependemo-nos de muitas? Sim.
Mudaríamos outras tantas? Certamente.
Iria isso alterar de alguma forma no que nos tornámos? Possivelmente.
Uma família ideal tem que ser o local onde se fala de tudo. Onde não existem segredos. Onde se ama incondicionalmente. Onde nos defendemos. Onde encontramos o nosso porto seguro. Onde quem nos ajudou a dar os primeiros passos sinta que no final do seu percurso tem o apoio de que necessita, sem ter que o mendigar.
Será que existem famílias ideais?
Gosto de pensar que alguns de nós chegam perto da desejada perfeição nas suas acções.
Será a minha alargada família a ideal?
Longe disso!
Será a minha restrita família a ideal?
Ainda não!
A cada suspiro continuo a afastar as pedras do meu caminho, cada vez com menor dificuldade. Felizmente aprendi com as inúmeras quedas a limpar o pó com maior facilidade.
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