sexta-feira, 11 de outubro de 2019

O FECHAR DE UMA PORTA OU O ABRIR DE UMA JANELA, de Anita Dos Santos















Todos os meses me debati com a agonia que é arranjar anúncios de emprego para responder, enquanto estive no desemprego.

No início, fazia-o todos os dias, depois passei a fazê-lo semanalmente, e por fim cumpria-o religiosamente no final de cada mês, porque não pode deixar de ser. Tinha de se responder a um número específico de anúncios mensalmente para preencher os requisitos do FD.

Naquela altura tinha cinquenta e oito anos, e dava comigo a pensar para mim mesma, “Minha, estás velha!”. Ficava com nós no estomago cada vez que analisava os anúncios para responder e me deparava com aberrações, que outra coisa não se lhes pode chamar, e depois olho para trás e analiso a minha vida, e olho para o meu curriculum, que apesar de extenso e rico, segundo os meus critérios, não se enquadra em lado nenhum…

Comecei a trabalhar aos dezassete anos – naquela altura começávamos cedo – com o Curso Geral de Comércio tirado na Escola Comercial Ferreira Borges. Era um excelente curso que dava uma bela preparação para o mercado de trabalho e também intelectual. Foi no boletim desta escola que fiz as minhas primeiras publicações, que infelizmente não tenho.

Ora eu empreguei-me em Março de 1974, não sei se estão a ver… Um mês antes do 25 de Abril. Pois é, estive dezoito anos na mesma firma, felizmente, sempre a trabalhar em contabilidade.

Depois achei que era tempo de mudar. E como também já tinha um segundo emprego em part time num gabinete de contabilidade, passei a full-time.

Pelo meio tempo, casei aos dezanove anos, perdi um filho, e depois tive dois rapazes com cinco anos de intervalo.

Quando resolvi mudar, pensei “Agora vou ficar com tempo para estar com os garotos”. Normalmente terminava o expediente às 18,00 horas, e depois ía para o gabinete até por volta das 21,00 horas. Era apanhá-los nas avós já muitas vezes a dormir e pouco mais.No dia seguinte havia mais do mesmo.

Quando fui para o gabinete em full-time, continuou tudo na mesma… Ou pior! Em altura de fechos de contas também se trabalhava aos sábados todo o dia. Até porque cheguei a fazer vinte e três clientes, só eu.

Resolvi mudar!

Empreguei-me como responsável pela contabilidade de vários hotéis de Lisboa, que fazia sozinha, desde a conferência das faturas até à entrega dos documentos fiscais, deixando para a técnica de contas a assinatura dos mesmos…

E porque me prometeram muito e não me deram mais nada, e o trabalho era com efeito muito para uma só pessoa, ponderei a oferta que uma amiga me fez.

Tínhamos trabalhado já juntas, e ela necessitava de alguém em quem confiasse, que soubesse como trabalhava, para ir para o pé dela.

Aceitei. Não me arrependo porque com efeito fui ganhar mais, mas o aviso veio à frente “Olha que há hora de entrada, mas não há de saída!”. Tudo bem, já estou habituada!

Sem horário, sem fins-de-semana, sim porque o computador vinha comigo para casa, e trabalha-se a partir de casa…

Depois vieram as fusões, as reestruturações, os cortes de orçamento… Os Diretores novos que querem mostrar serviço…

Um dia, peguei ao serviço às 8,00 horas da manhã como era habitual – o horário de entrada era às 9,00h… - às 10,00 horas chamam-me para uma reunião, e antes das 18,00 horas estava a sair das instalações da empresa, como funcionária, pela última vez.

Ah! Faltou-me acrescentar que de Dezembro até Março (curiosamente no mês em que comecei a trabalhar) estive a trabalhar com uma vertebra partida. Mas isso não tem importância nenhuma.

Agora o meu amor aos livros e à escrita levou a que pusesse em prática um sonho antigo.

E assim quando o sonho se torna palavra, este casulo transmuta-se em livro…

Agarrando no começo: quando lia aqueles anúncios onde faziam um rol de exigências que iam desde ter no máximo 30 anos (agora muitos já dizem 25!) até pedirem java, sap, phc, inglês nativo, italiano, mandarim, formação académica superior, experiência comprovada de 2 anos… para fazer arquivo…

Ora valha-me a Santa, não tenho paciência!

E respostas, nem vê-las! 


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