Foi a missa de trigésimo dia.
Encontrava-me, uma vez mais, na “minha” igreja, desta vez para pedir por quem já tinha partido.
Tinha chegado cedo, para ter um pouco de tempo para estar como gosto, sozinha com os meus pensamentos.
Deixei-me ficar a admirar o tecto e as paredes daquela que é a igreja que melhor conheço, e onde me sinto mais em casa. Fiquei a ver todos aqueles rosas, dourados lavrados e brancos. Os apainelados bem conservados. Por instantes pareceu-me sentir o aroma antigo das velas a arder nos candelabros antigos.
Sempre gostei de igrejas, de as visitar, de as conhecer. Mas a “minha”, tem para mim um cunho diferente de qualquer outra que tenha conhecido.
Naquele momento, dei comigo a pensar, passaram-se os acontecimentos mais importantes da minha vida, tenha ou não eu tido noção na altura disso, dentro daquelas paredes.
Comecei por ser, eu mesma baptizada ali, muito pequena para ter qualquer lembrança do facto.
Depois, comecei a assistir às missas, ao domingo de manhã, com a minha mãe, a minha irmã e por vezes com a minha avó paterna, que disso lembro-me muito bem… nunca mais terminava… era muito tempo, dava perfeitamente para “sonhar” alguma história com aquelas pessoas todas que estavam nos retábulos das paredes… de tal maneira, a ser chamada à atenção várias vezes…
Não valia de nada, fazia tudo de novo.
Depois cresci. A catequese não a tive por lá, mas fiz ali o exame e a primeira comunhão.
Cresci de novo. Já ia à missa sozinha, e gostava muito de me ir sentar para o antigo lugar do coro, dava-me assim ensejo de calcorrear corredores e escadas estreitas onde poucas pessoas passavam.
Já rapariga, - uma crescida com quinze anos! – deixei-me convencer, ao fim de muita insistência, por uma colega de escola e amiga, a ir a uma missa para jovens, num domingo, onde um grupo que ela integrava, cantava acompanhado por uma viola e com arranjos inovadores. Era na altura a missa mais assistida, por jovens e não só!
E foi assim que conheci um grupo fantástico de gente jovem, onde encontrei amigos para toda a vida. Um grupo de gente extraordinária e amiga.
Foi assim também que conheci aquele que é, ainda hoje, o meu melhor amigo, o meu companheiro de vida, o meu marido e pai dos filhos. Na missa, a ajudar o Senhor Padre Arménio, vestido de acólito. Sim, porque lá cantar, não era com ele!
Anos mais tarde, foi em frente do altar do Sagrado Coração de Maria que deixei correr as minhas lágrimas, a minha dor e a minha mágoa depois de ter perdido o meu primeiro e tão desejado filho.
Ali acompanhei pela última vez a minha avó pequenina, a avó Mariana, a mãe da minha mãe.
Baptizei os meus filhos, ambos aos três meses. Fiz questão de que fosse ali, onde eu e o pai tínhamos sido baptizados.
Acompanhei de igual modo pela última vez os meus avós paternos, com quem vivi até casar. A avó foi a última a partir e já não chegou a conhecer o bisneto mais novo. Eu tinha seis meses de gravidez quando ela partiu.
Voltei em algumas ocasiões, só para me sentar nos bancos, a meio da nave da igreja e aí permanecer só com os meus pensamentos.
Por fim acompanhei a Mãe. E agora o Pai.
Fiquei com a sensação de que fechei um ciclo, ao assistir a esta missa.
Assim terá sido com certeza.
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