Neste dia da mãe dei por mim a pensar na felicidade que experimentamos ao longo das nossas vidas. Poderão perguntar-se o que é que uma coisa tem a ver com a outra. Tudo. A verdadeira felicidade reside nos diversos momentos de partilha, amor, cumplicidade e interacção desinteressada com o outro; no que desta forma recebemos e, em igual medida, sem dúvida, no que damos e tudo isto faz parte de se ser mãe, ao mesmo tempo que sem essa figura não existiríamos para viver as maravilhas que a vida encerra.
A felicidade está presente no primeiro momento em que tomamos consciência daquele ser que nos protege, alimenta e acarinha: a nossa mãe, precisamente – sem desprestígio para os pais, obviamente, mas o primeiro contacto é, logicamente, maternal –, e em todas as fases do nosso crescimento e construção enquanto seres humanos.
Mora em todas as vezes que nos perdemos nos olhos de alguém, amamos e nos deixamos amar sem reservas; em todas as horas em que temos gosto em aprender uns com os outros e crescer como pessoas; de cada vez que uma mudança construtiva tem lugar, seja de casa, emprego, hábitos ou estilo de vida; nos momentos em que rimos com os amigos e os familiares; no abraço apertado e fraterno aos nossos pares; quando apreciamos e respeitamos o que nos rodeia; em todas as situações em que escolhemos – sim, é uma escolha nossa – ver para além dos obstáculos e decidimos superá-los e sempre – sempre! - que ajudamos gratuitamente outrem.
Esta última é uma das maiores sensações de felicidade que existem e produz verdadeiros milagres: o altruísmo puro. Aquela certeza de que se fez alguém feliz, às vezes com pouco e de forma simples, mas que pode mudar completa e positivamente o dia de outra pessoa. É uma sensação incrível de utilidade, de pertença a este mundo, de tão pura felicidade que se torna contagiante. As pessoas mais queridas, carismáticas e realmente influentes são sempre, sempre as mais felizes. Isto não significa que não tenham problemas e adversidades a ultrapassar. Não. Longe disso. Apenas compreenderam que tudo isso é inerente ao processo de se estar vivo e, portanto, é impossível viver sem percalços, sem dissabores, uns maiores outros menores mas, ao entender e aceitar essa inevitabilidade, escolheram passar pela vida de forma positiva e construtiva - podem chamar-lhe “ver o copo meio cheio”, se quiserem – e são elas que, habitualmente, marcam pelas diferenças que operam e são precursoras da felicidade.
Depois de décadas a absorver tudo como uma esponja, quando já estamos maduras, somos nós que chegamos ao momento em que fazemos o esforço hercúleo de trazer à vida um novo ser, ao segundo em que o põem escaldante sobre a nossa barriga e dos nossos olhos escorre o embevecimento em forma de lágrimas oriundas da alma, ao primeiro vislumbre daquela extensão de nós. E o ciclo está completo. É mais um momento inesquecível que habitará o álbum feliz da nossa existência.
Essa coisa chamada felicidade é um conjunto de fragmentos mais ou menos vividos que, dependendo da forma como escolhemos olhar para eles e do grau de importância de decidimos conferir-lhes, poderão levar-nos a sermos tremendamente felizes ou verdadeiros miseráveis. Aprende-se, ensina-se, é reveladora e transformadora.
Essa coisa chamada felicidade é um modo de estar e de sentir. Todos os dias.
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