Lembro-me da casa dos meus avós em Lisboa, numa rua com frondosas árvores que nos protegiam da chuva no inverno e do calor no verão. Acordar com o chilrear dos pássaros a receberem cada novo dia. Mas lembro-me principalmente dos vizinhos, eram uma extensão da nossa própria família. Pedir um balde de gelo, meia dúzia de ovos ou uma xícara de açúcar era mais do que um esquecimento nas mercearias, era uma oportunidade para conversarmos sobre tudo e sobre nada.
Depois mudei para um prédio impessoal também em Lisboa, onde cedo me habituei que os simples gestos de boa cidadania eram quase como jogar “roleta russa”.
E quando julgamos que já nos habituámos a esta indiferença os vizinhos que se tinham inicialmente resignado à nossa presença acabando por nos aceitar. Envelhecem, partem. A verdade é que os tempos mudam e nem sempre essas mudanças são para melhor.
Por isso quando leio que a sonda Schiaparell embateu no solo de Marte lembro-me das vezes em que a meio da noite ouço estranhos ruídos o que me deixa a pensar se alguns dos meus vizinhos serão abduzidos e substituídos por marcianos. Da maneira como agem no dia seguinte posso garantir que não são humanos.
Quando vejo imagens da frota russa a passar na nossa costa fico satisfeita por já não ter a garagem inundada pois ainda me arriscava a ir para o meu carro e acabar por entrar no Dmitry Donskoy.
As contas desta administração parecem um apêndice do Orçamento de Estado do próximo ano, pelo que ficarei à espera que o senhor Moscovici se manifeste.
Temo ainda que alguns vizinhos não tenham aceite o protocolo de Quioto pela maneira como deixam após a sua passagem os elevadores transformados em verdadeiras câmaras de gases tóxicos e corrosivos. Outros tantos continuam a transportar os seus sacos de lixo desde a sua casa até ao contentor geral deixando atrás de si líquidos dignos de tratamento numa ETAR.
Uma pequena informação reciclar não significa baralhar e deitar fora.
Por tudo isto sinto que talvez tenha chegado a altura de mudar de casa.
Mas principalmente por saber que a minha casa é algo do outro mundo gostava de informar que a coloquei à venda nas seguintes agências: NASA, ESA, SETI e Steven Spielberg.
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