Texto: Isabel de Almeida | Jornalista | Crítica Literária
Foto: Arquivo Nova Gazeta | D.R.
"A Morte do Papa", do autor Português Nuno Nepomuceno é mais uma prova de que devemos apostar em autores nacionais, sem medos e nos mais variados géneros literários. Em concreto, Nuno Nepomuceno já habituou os seus leitores residentes a excelentes thrillers, cheios de acção, intriga, mistério, perigo e belíssimas paisagens descritas ao detalhe, convidando o leitor a percorrer aqueles mesmos percursos das personagens da trama.
Ler um livro do autor é o que de mais equivalente conheço a viajar até aos cenários da narrativa, como se fossemos nós leitores uma das personagens envolvidas, e em simultâneo, de modo perfeitamente automátiico, embalados pelo mistério, acabamos por assumir também o papel de investigadores, conjecturando sobre hipóteses quanto a quem possa ser culpado ou inocente.
É bem visível na construção da narrativa o metódico trabalho de pesquisa e investigação que Nuno Nepomuceno investe na criação de cada um dos seus livros, o que mais enriquece os mesmos, indo além de produtos literários meramente comerciais, mas contendo informação real e fidedigna quanto a diversos detalhes, que nos alertam também para fenómenos sociais e políticos.
Desta feita, somos transportados até ao mundo fechado, perigoso e promiscuo, das lutas de poder fratricidas patente no cenário da Cidade do Vaticano. Inspirado na história da morte do Papa João Paulo I, o autor confronta-nos com um crime em pleno Vaticano, o Papa Mateus I pode ter sido assassinado, há ligações perigosas e segredos potencialmente mortíferos que causam vítimas inocentes (ou nem tão inocentes assim).
Em nome da religião, e do poder à mesma associado, os valores humanos perdem terreno, e o que importa é atingir o topo das hierarquias no seio da Igreja Católica, sem olhar a meios para alcançar tal fim. Os homens fortes da Igreja Católica ( aqui representados pelos Cardeais Horace Tremblay e Diego De Santis) revelam-se perante os nossos olhos como ambiciosos, calculistas e mesmo cruéis.
A pressão dos media, a informação e contra-informação, os génios informáticos que desvendam segredos obscuros e os expõem publicamente, mas a coberto de anonimato. O jornalismo de investigação, e os serviços de espionagem que se mantém atentos ao que se passa no Vaticano.
Encontramos personagens já nossas conhecidas de anteriores obras do escritor a interagir com novas personagens. Já conhecidas e como protagonistas reencontramos como o Professor Afonso Catalão, a sua esposa Diana Santos Silva, que será ajudada por um colega - o Jornalista Italiano Paolo Fattore.
Quem se esconde nas sombras? Todos são quem dizem ser? Quem mente? Quem diz a verdade? Quem sobreviverá incólume? Esta e muitas outras questões são colocadas aos leitores numa obra que apresenta uma escrita vivaz, com diálogos que prendem o leitor e que permitem caracterizar as personagens, bem como o espaço social e político em que estas se movem. Uma narrativa empolgante, em ritmo bastante dinâmico, uma escrita elegante e muitíssimo cuidada, o que é já imagem de marca do autor.
Perigo constante, mistério, segredos, ambição, um jogo sábio de verdades e mentiras que se cruzam perante os nossos olhos. Uma obra que se lê de um fôlego, e que nos faz reflectir sobre o poder das religiões, o que este pode implicar numa perspectiva nada inocente.
E, mais uma vez, seria uma excelente ideia ver este livro passar ao grande ecrã, pois tem todos os elementos necessários a um bom thriller com muita acção e cenários fabulosos. Nuno Nepomuceno está, mais uma vez, de parabéns!
FICHA TÉCNICA DO LIVRO:
Título: A Morte do Papa
Autor: Nuno Nepomuceno
Editora: Cultura Editora
Edição: Janeiro de 2020
Nº de Páginas: 352
P.V.P.: €18,50
Classificação Nova Gazeta: 5/5 Estrelas
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