Era pequena,
branca como a neve e de cabelos negros. Era pequena demais para a situação em
que encontrava.
Disseram-lhe que,
se fosse sempre em frente encontraria o seu pai.
Ela foi com o seu
coraçãozinho cheio de felicidade, correndo tanto quanto as suas pequenas pernas
permitiam...começou a ficar cansada...mas tinham-lhe dito que nunca parasse nem
olhasse para trás, que logo logo encontraria o seu pai. Correu, correu, correu
até que caiu por terra...já não tinha força para mais.
Escureceu muito
depressa, a floresta era densa e começaram a ouvir-se barulhos estranhos que
ela jamais ouvira. Pensou no pai, porque não o encontrou, já tinha tantas
saudades dele, havia muito tempo que não o via.
A senhora V
tinha-lhe dito que o seu pai estava de regresso a casa e que se o fosse esperar
a meio do caminho ele ficaria muito feliz... e foi o que fez, exactamente como
ela indicara... agora, estava sózinha no meio da floresta que o pai sempre lhe
dissera para não entrar porque era perigoso... e já era noite!
Agora a menina
começava a ter medo. Os barulhos estranhos começaram a ser cada vez mais,
pareciam pessoas a gritar e a dar gargalhadas, depois parecia que se ouviam
cães muito zangados...e gritos muito fininhos...a menina começou a chorar
baixinho e o seu coraçãozinho começou a ficar cada vez mais
apertadinho...aninhada junto de uma árvore, cansada de tanto chorar, por fim, o
sono venceu.
O sol já ia alto
quando a menina acordou, embora dentro desta floresta tão densa isso não se
note muito, a criança, um pouco estremunhada sem saber onde estava, acordou
lentamente... continuava assustada, agora estava também com fome.
Levantou-se,
lembrou-se do pai, se calhar tinham-se desencontrado e agora procuravam-na...
susteve a respiração e apurou o ouvido para ver se ouvia o pai a chamar por
ela, mas nada, só ouvia o chilrear dos passarinhos...então, encheu de ar, o
mais que conseguiu e os seus anos o permitiam e gritou pelo pai com quantas
forças tinha... mas nada... não ouviu resposta...
Resolveu começar a
andar, podia ser que encontrasse o pai. Havia sempre tantos caminhos. E ela
continuava. A fome começou a apertar e ao mesmo tempo que andava ia procurando
algo que se pudesse comer. Começava a ficar cansada, cada vez com mais fome e
sede. Então, de entre as árvores que havia pela floresta fora, viu uma que lhe
parecia igual há que estava junto da sua casa e que dava frutos muito bons.
Dirigiu-se para a árvore... os frutos estavam tão altos, a árvore era muito
maior que a da casa dela e não tinha o pai para segurá-la no colo e chegar aos
frutos... deu uns pulitos a ver se chegava aos ramos e nem sequer lhes tocava.
Encaminhou-se para o tronco mas este era muito liso e alto, não havia forma de
subir. Olhava para cima... tantos frutos, tanta fome e sede que sentia... as
lágrimas vieram... perdida, sem o seu pai que devia estar aflito sem saber dela
e a senhora V também... o que fazer, pensava ela, mas na sua tenra idade só
podia chorar e chorava, numa mistura de tristeza, fraqueza, cansaço, fome e
sede...
De repente caiu um
fruto e mais outro que ela mesmo a chorar, correu a apanhá-los. Reparou que
havia mais daqueles frutos pelo chão, alguns eram muito bons e outros nem por
isso, mas consegiu ficar sem fome e sede. Estes frutos eram igualzinhos aos da
árvore da sua casa, mas eram muito maiores, se calhar era a árvore-mãe!
Certo dia, seu pai
disse-lhe:
-Vou dizer-te um
segredo que fica só para nós dois, esta árvore foi a tua mãe que plantou no dia
em que nos casámos, dizendo-me que ela significa o amor que sentimos um pelo
outro, forte e seguro, e os frutos que ela dará serão belos e doces como serão
os nossos filhos.
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