Depois de Meio homem metade baleia, finalista do Prémio Oceanos que conquistou a crítica e os leitores portugueses, José Gardeazabal tem um novo romance, A melhor máquina viva, que chega a 4 de fevereiro às livrarias pela Companhia das Letras.
José Gardeazabal apresentará este romance no encontro literário Correntes d’Escritas, na Póvoa de Varzim, a 20 de fevereiro. A de 5 de março, realizar-se-á um lançamento também em Lisboa, na Livraria da Travessa.
Sinopse: Anders Kopf é um jovem aspirante a escritor que decide mergulhar na pobreza por um ano e afastar-se de um passado doloroso. É um exercício temporário cujo objectivo é melhorar a literatura. Com os seus novos companheiros faz um batismo de pobreza, pratica roubos colectivos em matadouros, partilha refeições suspeitas e sofre injustiças pedagógicas. Durante todo esse tempo, reescreve a sua própria história de orfandade e de crime. Eeva Wiseman é uma bela capitalista que herdou do pai um antigo matadouro, relíquia macabra do século XX. Administra com agilidade maternal o seu império de negócios, na sombra voraz da globalização, ao mesmo tempo que ressuscita da ressaca de um grande acidente e de um desaparecimento absoluto. O que têm Kopf e Eeva a oferecer um ao outro? Entre o amor e a amizade, qual a melhor máquina? A liberdade e o sexo; a pobreza e a abundância; o triângulo homem, mulher, animal, são estas as várias máquinas modernas que alimentam a literatura.
Sobre a obra de José Gardeazabal: «O primeiro romance de José Gardeazabal é um livro profundamente político, alegórico, irónico e aforístico.» José Riço Direitinho, Público «O que mais surpreende é a escala e o fôlego do seu projecto literário.» José Mário Silva, Expresso «O aparecimento de José Gardeazabal no plano literário europeu contribui para uma desconstrução da Europa moderna.» Ana Catarina Anjos, A Europa face à Europa: poetas escrevem a Europa «Um exercício invulgar, notável e vertiginoso que conduz a literatura para um lugar novo.» Júri do Prémio Imprensa Nacional Casa da Moeda/Vasco Graça Moura «Não deixará nenhum leitor indiferente.» José Tolentino de Mendonça
Sobre o autor: JOSÉ GARDEAZABAL nasceu em Lisboa, onde vive actualmente. Viveu, trabalhou e estudou em Luanda, Aveiro, Boston e Los Angeles. O seu livro de poesia, história do século vinte, distinguido com o Prémio INCM/Vasco Graça Moura, foi editado em 2016, ano em que publicou também Dicionário de ideias feitas em literatura, uma colectânea de prosa curta. Em 2017, editou três peças de teatro, reunidas na obra Trilogia do olhar. Em 2018, a Companhia das Letras lança o seu primeiro romance, Meio homem metade baleia, finalista do Prémio Oceanos, um dos mais importantes da literatura de língua portuguesa. A melhor máquina viva é o seu segundo romance e o primeiro volume da Trilogia dos Pares.
Excertos do livro:
O corpo: «Aqui não há alcunhas, está tudo no corpo e somos felizes e é tudo verdadeiro.»
Humanismo: «Pergunta humanista: os homens do presente são melhores ou piores que os homens do passado? Resposta: perguntem às mulheres. Dos homens, perguntem às mulheres. As mulheres sabem mais sobre os homens que os humanistas.»
11 de Setembro: «Uma agitação agarrou os cidadãos pelo pescoço puxando-os até à margem do rio, onde vomitaram sem olharem uns para os outros, os corações na água, como espelhos partidos. Tentaram olhar a ilha de fora, examinar o perigoso interior daquela grande mãe americana. Os mais rápidos refugiaram-se em quartos de amigos, os profissionais apressaram- -se, e os coxos correram na direção do acidente e, logo a seguir, na direção contrária, mais depressa. Aconteceu uma segunda queda. Porquê uma segunda queda, não bastou a primeira? Aquele chão seco de paraíso, aquele enjoo de dilúvio. Protegidas por uma poeira cinzenta e fina, as pessoas mascararam-se de desconhecidas, de palhaço, na certeza de este ser um susto novo. Aprenderam rapidamente a respirar lentamente, invocando ao telefone uma salvação impessoal. Ninguém os ouviu. Estavam entre a realidade e a verdade, e a realidade ganhava. A realidade ferro, cimento e vidro transparente, a realidade simultânea de dois desastres, tão improváveis como uma má aposta. Deuses distraídos tinham jogado aos dados e o nosso deus tinha perdido.»
Capitalismo e Desigualdade: «A desigualdade, no pior dos casos, é uma estratégia de carinho. A escrita é a cura para a introspeção. Não sei se devo escrever isto. Sinto-me como se setenta por cento do meu corpo fosse água da piscina. O menino jesus é um pré-adolescente e saiu de casa. O pai, a mãe, o burro e a vaca não sabem se volta. Tenho pena dos empregados domésticos, a quem antigamente chamavam criados. Já ninguém lhes chama criados, não tenhas pena deles. Quase não existem, o capitalismo acabou com os criados e com a beleza, o capitalismo é pior que a modernidade líquida. O capitalismo é como as galinhas, o capitalismo do vizinho é sempre pior que o nosso.»
O Futuro: «Um dia, no futuro, tudo aquilo a que hoje chamamos humano será responsabilidade dos pobres: amar, cuidar de um jardim, praticar sexo sem proteção. Os pobres serão atletas, os melhores embaixadores da estação do amor, mais eficientes e mais felizes que a maioria do corpo diplomático.»
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