Quando Nela e Nanda acabaram de despedir-se dos filhos, Bosques acercou-se delas e pediu-lhes:
- E eu também quero falar com as Escolhidas. Temos coisas para conversar.
Assim dizendo, afastou-se com ambas a fim de ter privacidade para a conversa que pretendia ter.
Quando por fim voltaram, as duas mulheres permaneceram muito caladas, falando somente para fazer novas recomendações aos filhos, de semblantes fechados e preocupados.
- Muito bem, Bosques. Disse que sabia que caminho que devíamos seguir. Pois então, indique lá o rumo para nos pormos a caminho.
Vicente, com o Bosques num ombro, onde ele gostava de seguir, e o Cotovia no outro, parecia um candelabro.
A seu lado, André acompanhado pelo Traquinas, ouvia a tirada do amigo com um sorriso nos lábios.
- E “tá” claro que sei! Não tem dúvida aí! Vamos pelo meu caminho. O mais rápido e o mais curto.
- Então vai ser num abrir e fechar de olhos. – Exclamou o Traquinas, a esfregar as mãos com um sorriso matreiro e divertido.
- Não! – O André ainda soltou um lamento, de olhos bem cerrados, ao som das gargalhadas do Traquinas e do Cotovia para, em seguida, abrir os olhos e encontrar-se em Debaixo do Monte, ainda ao som das gargalhadas dos dois travessos feéricos.
O Bosques tinha a sua forma muito própria de se locomover, só precisava conhecer o local para onde queria ir e, num abrir a fechar de olhos, deslocava-se para onde queria levando consigo, se preciso fosse, quem muito bem entendia.
Este meio de locomoção, de um lado para o outro num salto intemporal, trazia, no entanto, alguns contratempos aos dois jovens humanos…. Ficavam nauseados que nem uns foliões depois de dois dias de farra a beber cidra com dois anos de casco!
Está claro que esta situação era caso de grande divertimento para os feéricos, que aproveitavam estas ocasiões para se divertir com os jovens.
- Que saudades das Pedras Redondas! – Exclamou o Cotovia, a arrulhar para as ditas pedras.
- Não me lembrava de as Pedras Redondas serem seis… - Disse o Vicente, com voz arrastada.
- Seis? – Perguntou o André, a olhar para as ditas pedras com um olho aberto e o outro fechado. – Daquele lado estão quatro…
O Traquinas não aguentou as gargalhadas, agarrado às costelas, com um braço sobre os ombros do Cotovia para se aguentar de pé. Este, por sua vez, também ria como um louco.
- E se já acabaram com a risota, levem o André e o Vicente para Debaixo do Monte para eles descansarem. – Aconselhou o Bosques, um olho nos jovens, que estavam sentados no chão e o outro nos dois feéricos.
- Meu Senhor, para os levarmos…
- Sim, sim, fiquem no tamanho antigo. – Atalhou o Bosques, sem mais delongas encaminhando-se, por sua vez, para o local para onde os mandou ir.
Cotovia e Traquinas esfregaram as mãos, de olhos brilhantes enquanto sacudiam os ombros, ficando da altura de Vicente e André.
- Ponto! Lá encolhi outra vez! – Exclamou Vicente, em tom de lamuria, ao olhar para o Cotovia com os olhos vidrados.
A autora escreve segundo a ortografia anterior ao Acordo Ortográfico de 1990.
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