Sempre
ouvi dizer que “a necessidade aguça o engenho”. Nestes tempos que vivemos, em
que somos assolados por uma pandemia, longe ainda de atingir o seu pico, o
engenho revela-se na criatividade, na entreajuda, no heroísmo de muitos, na
solidariedade de todos.
Em
situações de crise, seja qual for a sua natureza, a nossa mente dá largas à
imaginação, como que procurando equilibrar as limitações a que essa crise nos
sujeita. Talvez seja o nosso instinto de sobrevivência a mobilizar esse
mecanismo de defesa. Ou, tão-somente, uma forma de nos libertarmos de
condicionalismos impostos, afirmando a continuidade da vida.
Em
tempos de adversidade, as pessoas tendem a fazer, das fraquezas, forças. Unem
esforços, num sentimento comunitário, aliando os seus meios e competências ao
esforço nacional de combate a esta pandemia, sabendo que só assim poderão
chegar a um resultado que será maior do que a soma das partes. É pela
contribuição de cada um que alcançamos, em conjunto, determinado objectivo.
Todos
os dias, de forma crescente, vamos ouvindo notícias de pessoas que,
individualmente ou em grupo, voluntariamente, ou por iniciativa de
colectividades e empresas, dão o seu melhor para apoiar quem desse esforço pode
beneficiar. Seja adquirindo bens de primeira necessidade para idosos e pessoas
em isolamento, ou sem abrigo, seja ajudando a confeccionar equipamento de
protecção para os profissionais de saúde, seja providenciando apoio alimentar e
sanitário para os motoristas de longo curso ou, até mesmo, dirigindo um sorriso
ou uma simples palavra de gratidão àqueles que possibilitam, com o seu trabalho
diário, que a maior parte da população se mantenha confinada às suas
residências, como as circunstâncias o exigem.
Esta
é a face nobre e altruísta da humanidade, a que se eleva nestes momentos conturbados,
permitindo-nos ainda ter fé na nossa espécie. Porque sentimos que podemos ser
úteis, e que devemos sê-lo, quando outros precisam de nós, mesmo que, apenas e
só, através de pequenos e simples gestos. Porque a solidariedade é um valor
inestimável, do qual não devemos abdicar. E, com a solidariedade, vem o civismo
e o sentido de comunidade. É uma consciência individual e colectiva que nos
acorda e impulsiona, o Bem que emerge do nosso comodismo e anonimato.
Como
em qualquer moeda, existe a outra face: aqueles cujo egoísmo e cretinice só
lhes permite ter voz para a irracionalidade, a arrogância e a prepotência; esses,
devemos ignorar, pois são parte do problema, não da solução. Outros apenas têm
olhos para o seu umbigo, desrespeitando normas de segurança e julgando-se acima
da lei, potenciando riscos para si e para os demais, e alguns, tristemente, apesar
da calamidade que nos assola, só têm habilidade para iludir, ludibriar, cometer
fraudes e causar prejuízo aos mais incautos e desprotegidos; esses, devemos
denunciar! Nenhum destes merece mais do que um parágrafo nesta crónica.
Foquemo-nos
nas atitudes e pensamentos positivos! Bem-hajam e saúde!
(O autor escreve segundo a ortografia anterior
ao Acordo Ortográfico de 1990.)
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