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segunda-feira, 30 de março de 2020

DUAS FACES…, de Fernando Teixeira















Sempre ouvi dizer que “a necessidade aguça o engenho”. Nestes tempos que vivemos, em que somos assolados por uma pandemia, longe ainda de atingir o seu pico, o engenho revela-se na criatividade, na entreajuda, no heroísmo de muitos, na solidariedade de todos.
Em situações de crise, seja qual for a sua natureza, a nossa mente dá largas à imaginação, como que procurando equilibrar as limitações a que essa crise nos sujeita. Talvez seja o nosso instinto de sobrevivência a mobilizar esse mecanismo de defesa. Ou, tão-somente, uma forma de nos libertarmos de condicionalismos impostos, afirmando a continuidade da vida.
Em tempos de adversidade, as pessoas tendem a fazer, das fraquezas, forças. Unem esforços, num sentimento comunitário, aliando os seus meios e competências ao esforço nacional de combate a esta pandemia, sabendo que só assim poderão chegar a um resultado que será maior do que a soma das partes. É pela contribuição de cada um que alcançamos, em conjunto, determinado objectivo.
Todos os dias, de forma crescente, vamos ouvindo notícias de pessoas que, individualmente ou em grupo, voluntariamente, ou por iniciativa de colectividades e empresas, dão o seu melhor para apoiar quem desse esforço pode beneficiar. Seja adquirindo bens de primeira necessidade para idosos e pessoas em isolamento, ou sem abrigo, seja ajudando a confeccionar equipamento de protecção para os profissionais de saúde, seja providenciando apoio alimentar e sanitário para os motoristas de longo curso ou, até mesmo, dirigindo um sorriso ou uma simples palavra de gratidão àqueles que possibilitam, com o seu trabalho diário, que a maior parte da população se mantenha confinada às suas residências, como as circunstâncias o exigem.
Esta é a face nobre e altruísta da humanidade, a que se eleva nestes momentos conturbados, permitindo-nos ainda ter fé na nossa espécie. Porque sentimos que podemos ser úteis, e que devemos sê-lo, quando outros precisam de nós, mesmo que, apenas e só, através de pequenos e simples gestos. Porque a solidariedade é um valor inestimável, do qual não devemos abdicar. E, com a solidariedade, vem o civismo e o sentido de comunidade. É uma consciência individual e colectiva que nos acorda e impulsiona, o Bem que emerge do nosso comodismo e anonimato.
Como em qualquer moeda, existe a outra face: aqueles cujo egoísmo e cretinice só lhes permite ter voz para a irracionalidade, a arrogância e a prepotência; esses, devemos ignorar, pois são parte do problema, não da solução. Outros apenas têm olhos para o seu umbigo, desrespeitando normas de segurança e julgando-se acima da lei, potenciando riscos para si e para os demais, e alguns, tristemente, apesar da calamidade que nos assola, só têm habilidade para iludir, ludibriar, cometer fraudes e causar prejuízo aos mais incautos e desprotegidos; esses, devemos denunciar! Nenhum destes merece mais do que um parágrafo nesta crónica.
Foquemo-nos nas atitudes e pensamentos positivos! Bem-hajam e saúde!

 (O autor escreve segundo a ortografia anterior ao Acordo Ortográfico de 1990.)



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