Nunca o tema da velhice esteve tão actual como nos dias de hoje.
Vivemos num paradoxo realmente paradoxal. Por um lado, a ciência esforça-se
para aumentar a esperança de vida, por outro inventam-se toda a espécie de
justificações para dar termo à vida dos mais idosos.
E o paradoxo continua. Considera-se que um
país é desenvolvido - esse é um dos parâmetros das estatísticas – o aumento da
esperança de vida mas, imediatamente, tentamos livrar-nos deles, dos velhos.
Porém, os jovens esquecem que a
vida é um sopro e, quando derem por isso, já estão nesta categoria.Este assunto
dava muito pano para mangas (ou, nos dias de hoje, para máscaras, pois até o
malvado vírus prefere os mais idosos), e para muita discussão.
Aprova-se
a eutanásia. É por compaixão, dizem, para que as pessoas tenham direito
a uma morte digna, para livrá-los do sofrimento.No que se refere à eutanásia,
cada vez se quer ir mais longe, há quem pense que esta deveria ser aplicada a
todos os que a desejassem, jovens ou velhos, sobretudo se estes forem
considerados uma carga social.
Porque a verdade é essa: trata-se de uma
questão social, trata-se de dinheiro. Para que gastar tempo e dinheiro com uns
seres inúteis, carregados de doenças e, na maioria dos casos, avariados da
cabeça?
Ninguém tem pena do sofrimento dos velhinhos,
apenas se preocupam com o peso que estes possam causar ao Estado e até às
famílias. Os velhos não produzem, são uma carga para a sociedade. A maior parte
de países ditos civilizados, esperam
aprovar esta lei.
Não me vou estender neste tema,
mas não me parece que ninguém tenha direito a matar, seja em que circunstância
for. Mas esta é a minha opinião e não é por ignorância que falo.
Penso que, talvez porque já esteja inserida no
grupo dos velhos, mesmo que se diga que a escolha é do próprio, no fim, não
será assim.
Deixem-me dizer-vos que os velhos
sabem que vão morrer. Todos vamos morrer. Os mais velhos agradecem mais um ano
vivido e , ao mesmo tempo entristecem, pois sabem que é m um ano menos para
viver. E agarram-se à vida, aproveitam-na até ao último suspiro., sabendo que
ela vai acabar, naturalmente.
Ainda existem países, menos
desenvolvidos, claro está, na Ásia e na América do Sul, onde os velhos são
vistos como depósito de sabedoria, onde o desrespeito por um ancião é muito mal
visto, onde se valoriza a experiência, onde lhes é reconhecido o trabalho de
toda uma vida. Digo "ainda" pois esta forma de pensamento tem
tendência a desaparecer.
O mundo actual parece não ser compatível com o
mundo humano. Não num mundo onde a Economia é o mais importante. Curiosamente,
as Ciências económicas tinham como princípio estudar uma forma de repartição
justa, onde todos pudessem receber o necessário para a sua sobrevivência. Mas,
em lugar de distribuir com equidade, o problema de escassez resolve-se de outra
maneira: condenando à morte metade da humanidade para que a outra metade possa
consumir em excesso.
O que me aflige mesmo, ainda que
entenda todos estes pontos de vista, mesmo não concordando e sabendo que somos
mais de oito mil milhões de seres neste planeta, o que me preocupa é: onde está
a humanidade, onde está o amor? Onde está a compaixão pélo outro, a começar no
seio familiar?
Onde está o amor e gratidão aos
progenitores, aos que deram a vida, e ainda mais se fosse possível, para
proteger os seus filhos, para que nada lhes faltasse. Os que educaram e
transmitiram o seu amor e os seus princípios, pensando apenas no bem dos filhos.
Aqueles que podiam dar um
castigo, mas logo davam um beijo ou um abraço. Os que perdoavam tudo. Os que
vigiavam o sono e se aproximavam para ouvir a sua respiração e, só então, iam deitar-se
para dormir um sono leve e
atento.
Os pais que tremiam quando os
seus meninos tinham febre, dores de garganta ou um pesadelo. Aqueles que tudo
faziam, sem pensar em si próprios, para que estes pudessem ter uma vida melhor
do que a que eles tiveram . Os que rejubilavam com cada triunfo, mesmo que
ninguém lhes agradecesse e, desde um canto discreto, derramavam lágrimas de
felicidade.
Estes velhos não precisam de
compaixão pélo seu sofrimento. Eles precisam sentir o amor no coração dos
filhos, ao menos dos filhos, não o desejo de os ver partir porque já passaram o
prazo de validade. Darão um bocadinho de trabalho, sim.E nós em crianças, não
demos tantas preocupações?
Eles sabem que vão partir, eles
só precisam saber que são amados para acalmar as suas dores e ter a certeza de que a sua vida fez sentido.
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