A Corte das Trevas, devido à forma
como foi criada, não tinha um lugar próprio, um sítio seu. Ela existia onde o
seu Senhor se encontrasse, e quem quer que ele chamasse à sua presença não
podia escusar-se.
Após a partida da Rubra em busca de
crias para si, o Senhor das Trevas saiu da gruta da pedreira e dirigiu-se para
a orla da mata.
- Espinho! – Chamou uma só vez, em
voz baixa, mas clara.
Durante uns momentos nada se ouviu.
Depois, muito tenuemente começou a ouvir-se como que um restolhar, um arrastar
de ramos secos, que fez com que os cantos da boca do Negro se elevassem
ligeiramente.
No canto mais afastado da clareira
que ficava à entrada da gruta, houve um movimento por entre os arbustos altos,
que iam secando à medida que este mesmo movimento acontecia, até que, por fim,
ficou à vista uma figura bastante alta e delgada, todo ele castanho nos seus
vários tons. Ao parar de encontro aos arbustos agora secos, a sua figura
passava despercebida.
À medida que foi avançando, via-se
que as suas feições já haviam sido belas, mas agora assemelhava-se a algo
velho, como um pergaminho de pele já muito usado e desgastado pelo tempo. Os
seus cabelos eram cor de areia e os olhos eram negros como carvão.
- Viva! Há muito que não ouvia uma
chamada tua, meu Senhor! – Saudou a figura emergente das moitas.
- Tu, pelo menos, respondes, quando
chamado. – Respondeu o Negro.
- É esse o nosso dever para com o
Soberano das Trevas. – Disse, fazendo uma vénia em frente do seu Senhor. – É um
prazer voltar a ver-te e a servir-te.
- Espero bem que sim. – A voz do
Senhor das Trevas era melíflua e arrastada, enquanto caminhava em torno do seu
súbdito.
- Tenho trabalho para ti, Espinho.
Quero que te infiltres na Cidade do Norte e que vejas por onde anda e o que faz
aquele que se intitula druida Freixo. – O tom de comando que tinha empregado na
ordem depois alterou-se, nunca tirando os olhos do Espinho e deixando bem
claras as suas ordens.
- Ele é diferente dos outros
humanos, por isso não te deixes enganar. É muito mais perigoso do que possas
imaginar, se tiver ocasião para isso, mata-te. Quero saber tudo quanto faz,
onde vai, com quem fala. Não te deixes ver por ninguém, em especial pelo
Freixo, pois ele pode reconhecer-te. Isto é uma ordem!
» Se ouvires ou vires algo sobre os
outros druidas, também quero saber, mas o teu alvo é o Freixo!
- Assim será meu Senhor. – Uma vez
mais, o Espinho fez uma vénia ao Senhor das Trevas, e partiu por onde veio.
Anita
Dos Santos
In
“Crónicas de André e Vicente – A Cidade das Brumas”
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