Texto: Margarida Veríssimo
Foto: Cultura Editora | D.R.
Foto: Cultura Editora | D.R.
Saiba o que achou a leitora Margarida Veríssimo do novo livro de Nuno Nepomuceno " A morte do Papa", com chancela Cultura Editora.
É inevitável, ainda que nem
sempre seja essa a intenção, a arte está de uma forma indelével gravada nas
obras do Nuno Nepomuceno. Foi crescendo, fazendo parte do enredo, tornou-se
título, até chegar o ponto em que percorre despretensiosamente as páginas do
livro, deixando de ser protagonista, mas impondo a sua presença, sem a qual a
história não faria sentido.
No livro “A Morte do Papa” a
pintura não teria lugar, pensava o Nuno, outros assuntos, menos belos e menos visualmente
apelativos, eram chamados a fazer parte de uma história por contar. Este livro
não teria a arte como ingrediente. Não teria se a ação não se desenrolasse
maioritariamente no Vaticano, não teria se o Nuno fosse indiferente às
maravilhas nascidas das mãos e da mente humana.
Através da arte o Nuno Nepomuceno
consegue envolver-nos e transportar-nos pelas labirínticas teias da ação. No
livro, a arte é apresentada como sujeito passivo, observador, cenário. No entanto,
com enorme subtileza, ao longo da história vai ganhando poder como elemento
conciliador, como elemento de equilíbrio na narrativa. As obras extraordinárias
criadas pelo homem em contrapeso com as suas mais vis ações. O belo como
cenário do horrível. A magnificência da criação humana versus a crueza da
destruição do homem pelo homem.
Assim que abrimos a capa do livro
lá está ela, imponente: a colunata de Bernini. É só o início. Ao longo do livro
a nossa mente vai visualizando e deleitando-se com pérolas da arquitetura, da
escultura e também da pintura, obras primas de grandes mestres. Também o autor,
no seu ato criativo, pincela o céu da cor do champanhe e pintalga de negro as
muito azuis íris de Francesco.
Mas “A Morte do Papa” não é
efetivamente um livro invocativo da capacidade do Homem de criar beleza, pelo
contrário, mostra o seu lado mais negro, mais podre. E mais do que o Homem,
mostra o lado mais negro, mais podre de uma instituição milenar. Uma
Instituição capaz do melhor e do pior, em nome de Deus. Em nome de Deus, ou sob
Sua proteção, cometem-se crimes hediondos. Em nome do mesmo Deus que inspira
obras de arte tão grandiosas como algumas das descritas no livro.
Neste livro que cruamente despe,
num despudor dorido, a capa da santidade e da pureza da igreja católica, mostrando
o negrume que se esconde por baixo de tão ricas e belas vestes, encontrei o meu
equilíbrio e elemento conciliador, na sua leitura, através da arte descrita,
visualizada. O professor Catalão por fim também encontrou a sua paz, a
reconciliação que necessitava, quero acreditar.
Margarida Veríssimo
Leia AQUI a crítica literária da obra sob a perspectiva da nossa Editora Isabel de Almeida
Margarida Veríssimo
Leia AQUI a crítica literária da obra sob a perspectiva da nossa Editora Isabel de Almeida
FICHA TÉCNICA DO LIVRO:
Título: A Morte do Papa
Autor: Nuno Nepomuceno
Editora: Cultura Editora
Edição: Janeiro de 2020
Nº de Páginas: 352
P.V.P.: €18,50
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