Texto: Anita dos Santos
Foto da Autora: D.R.
A fachada da mansão estava pouco melhor do que uma ruína, ainda que no início tivesse tentado consertar algumas coisas. A casa por dentro não se encontrava em melhor estado. Mas à medida que o tempo foi decorrendo foi perdendo o interesse em reparar fosse o que fosse.
Tudo o que
restava do condado que agora lhe pertencia, resumia-se aquela casa e aos
terrenos, ainda que vastos, que a circundavam. Eram o que lhe valia, pois
conseguia encontrar sustento para si sem grande apoquentação.
Vivia
sozinho e recluso desde que tinha regressado da guerra para ocupar o lugar de
Conde que tinha até então sido de seu pai e deveria ter cabido ao seu irmão
mais velho, não tivesse este anos atrás morrido em um acidente completamente
disparatado. Agora com o desaparecimento também de seu pai, encontrava-se
completamente sem família.
Estava
assim sozinho, sem ter sequer criado pessoal, pois o seu ordenança tinha
continuado no Exército sob sua indicação, visto já saber que não tinha qualquer
meio para lhe pagar um ordenado.
Foi, pois,
uma surpresa quando viu aparecer uma carruagem puxada por quatro lindos e bons
cavalos a parar em frente à porta.
Ainda mal
a carruagem tinha parado já a porta estava aberta e de lá saía, de um salto, um
homem alto de cabelos claros, que com choque, reconheceu como sendo o seu mais
antigo amigo de infância.
- Tinha-te
em melhor conta. É que nem para me cumprimentares foste capaz de te deslocar
para me visitar. Que hei-de eu pensar da nossa amizade?
- Gustavo…
Tens toda a razão, meu amigo. – O abraço que trocaram foi saudoso e sentido.
- Vamos
entrar, embora desde já te avise que não tenho grande coisa para te oferecer.
- Já nos
conhecemos há anos demais para haver tais coisas entre nós. Ou assim o espero
Henrique.
Mirou o
seu amigo por baixo das pálpebras, com os sobrolhos carregados.
Levou-o
para uma saleta que, se lembravam de ter sido uma pequena biblioteca onde a mãe
de Henrique passava as tardes, sempre em volta de algum livro novo.
- Então,
ao que devo a tua intempestiva visita, Gustavo? Não me leves a mal, gosto muito
de ver de novo, mas se hoje de manhã alguém me tivesse dito que ía passar a
tarde contigo, tinha-lhe dito que tinha perdido alguns parafusos do juízo…
- Já não
se pode visitar um velho amigo de quem, diga-se de passagem, tenho saudades,
sem ser questionado por outras razões que não essa?
Gustavo
estudou o amigo por instantes atentamente, talvez pensando na melhor forma de
abordar uma questão que considerava delicada.
- Mas não deixas
de ter razão. Lembras-te de minha irmã Ana? Ela é mais nova que nós, talvez não
a recordes.
- A Ana?
Lembro-me bem dela, andava sempre atrás de nós pelos campos a espiar as nossas
brincadeiras.
Sem dar
conta, esboçou um sorriso com as ternas lembranças.
- Pois é a
Ana… enviuvou há mais de dois anos. Os meus pais estão muito apoquentados com o
assunto.
- Lamento
a situação da tua irmã. Não sabia que tinha casado. Agora não me vais dizer que
te deslocaste tão longe para me dizer que a Ana está viúva.
Anita
dos Santos
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