quarta-feira, 30 de setembro de 2020

(II) - Aguenta a pressão, miúdo / PAULO LANDECK

 


(II) - Aguenta a pressão, miúdo
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O vício pela epinefrina fora espremido ainda em tenra idade, muito antes do supositício acne - assim ditava a selva de betão armado e floridos nomes onde crescera.
No quartel, o eterno aliado manifestava alguma rigidez (de quando em vez), por força de infernais refregas sem passado nem futuro, ou do impulso num luíco longe de bater as borbulhas do funge habitual…
De acordo com as regras estabelecidas, batiam-se nádegas como quem bate o tal pirão, sem grande descomedimento nem choradeiras. O reforço era evidente, músculos que não quebram, tornam-se fortes, tão fortes, quanto a lavada alma, agigantada num hiperbólico drama de criança.
Felizmente, o amor incondicional nunca estivera ausente, qualquer carinhosa porrada, era virtuosa esfrega de carácter e consciência.
Por via desse equilíbrio, era possível escapar aos ameaçadores estilhaços lá fora. Passaria sempre, por entre mais e mais destroços, apesar do politicamente correcto o contrariar.
Nessas primeiras coisas, em que todos os nomes são Legião, reside a redenção. Ainda hoje professo fé à mais sagrada união...autêntica bóia de salvação vinda da outra margem do mar que se fez rio.
O teatro de guerra a céu aberto era por vezes muito agressivo, um calvário onde o Diabo assobiava ao vento, enquanto perscrutava incontáveis becos sem saída.
Todo o suplemento viria a revelar-se essencial, preciosa adenda, afinal de contas, viver é desde os primórdios, um permanente estado de alerta!
A velha bactéria fizera do palco permanente assalto; pela força da voracidade de outrora, quisera ver no mancebo seu regozijo. Deixou pesada herança…era preciso manipular o problema. Uma outra caneta de adrenalina impunha-se, como arma de combate, no destroçado e belicista aquém-mar…
Parida solução, acamada certeza: quando queria, fazia! - Não adiantava esperar por outros milagres.
Só poderia ser assim...tensão elevada (sempre pronto para momentos de stress), pupilas dilatadas, só vantagens...a velocidade de processamento antecipava toda e qualquer acção.
Afinal de contas, não fora há muito que a cria pútrida (filha do mesmo louco desígnio que temperou o aço do punhal) navegara o Atlântico, para guerrear sem tréguas toda e qualquer abelha sem ferrão - Actos heróicos também são um outro fartar, vilanagem.
A maioria são sempre as vítimas, o nauseabundo, escoriações.
As voltas trocadas, resultaram em entradas a pés juntos, saltos sem lógica, de cabeça…só porque sim. Tantos foram os que retornaram sem alguma vez partir, quanto os que do limbo não saíram, por não saberem como ir, nem onde chegar.
Quando principiar, não é mais, que o seguimento de truncado epílogo, algo estará por concluir.


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